Mundo |
Índia. Campanha da Quaresma da Fundação AIS. Apoiar os “dalits”
A coragem de Bita
<<
1/
>>
Imagem
Video

Ali, no norte da Índia, onde vive com o seu marido, os Cristãos são uma minoria, confundem-se com os mais pobres da sociedade e são perseguidos. Há um crescente sentimento de intolerância. Bita sabe bem o que é a hostilidade dos outros. Apesar disso, nunca renunciou à sua fé em Jesus. Que é, diz, o seu maior tesouro.


Na Índia, os Cristãos são, na sua maioria, ‘dalits’, intocáveis, os que não têm quaisquer direitos no sistema de castas em que o país está hierarquizado, e confundem-se com os mais pobres dos pobres. Bita era apenas uma mulher ‘dalit’ que vivia numa casa extremamente rude, no norte do país, com o marido e um filho ainda criança. Trabalhava nos campos mas mal conseguia sobreviver. Tinha uma vida amaldiçoada como todos os ‘dalits’, como todos os insignificantes que carregam consigo o fardo dos excluídos, dos ignorados, dos que são como que invisíveis aos olhos da sociedade indiana. Foi comovendo-se com os moribundos que jaziam nas ruas, perante a indiferença de todos, que Madre Teresa começou o seu trabalho de caridade nos bairros mais pobres de Calcutá, transformando-se num exemplo único de santidade em todo o mundo. Porém, na aldeia de Bita, no norte da Índia, não havia nenhuma Madre Teresa para acudir aos que nasceram, como ela, para uma vida miserável.

 

O poder do Evangelho

Um dia, no entanto, ocorreu algo de estranho e profundamente invulgar ali, naquela aldeia. Bita conta a sua história. “Um dia, enquanto trabalhava nos campos, um catequista aproximou-se de mim e deu-me uma Bíblia.” Duas coisas improváveis aconteceram nesse dia, nesse momento. A ousadia do catequista e a coragem de Bita. A Índia é um país maioritariamente hindu. Nos últimos anos, a perseguição às minorias religiosas, nomeadamente aos Cristãos, aumentou muito, principalmente desde a subida ao poder em 2014 do Partido Bharatiya Janata, um partido nacionalista hindu liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi. Desde então, têm-se registado cada vez mais ataques contra comunidades cristãs e há cada vez mais pessoas acusadas de tentativas forçadas de conversão. O catequista arriscou muito. Podia ter sido denunciado pelo seu gesto. Bita aceitou o livro e levou-o para casa. Começou a ler. Abriu a Bíblia ao acaso e nunca mais parou. “Senti-me confortada ao ler a palavra do Senhor”, explica ela à Fundação AIS. “Assim – acrescenta – continuei a ler e a reler as minhas passagens favoritas.”

 

O medo do marido

Ver a mulher cada vez mais animada com a leitura da Bíblia perturbou o marido. Ficou com receio. O pior medo é o que nos paralisa por dentro, o que leva a auto-censura. “O meu marido, ao ver o meu entusiasmo, ralhou-me e perguntou por que razão tinha trazido a Bíblia para nossa casa.” O marido de Bita não tinha nada contra a Bíblia nem contra os Cristãos. Tinha, sim, muito medo da reacção das outras pessoas da aldeia. Na Índia, todos conhecem histórias de pessoas agredidas, violentadas e até mortas por causa da religião. A leitura da Bíblia deu uma coragem a Bita que ela provavelmente não imaginaria possível. “O Evangelho dizia que Jesus morreu por nós na cruz. Senti-me também preparada para isso. Ofereço a Deus o meu sacrifício e as minhas dificuldades. Mesmo que os outros me ridicularizem…” A exposição ao ridículo é uma violência que pode ser terrível. Mas Bita não se importou. Aos poucos, foi aproximando-se mais e mais da Igreja. Tudo foi mudando. Até a sua casa. Num barrote de madeira pendurou um retrato de Jesus e uma cruz. É o seu altar.

 

A hostilidade da aldeia

Aos poucos, a história de Bita que se converteu ao Cristianismo correu de boca em boca, de casa em casa, de aldeia em aldeia. A conversão daquela ‘dalit’ não deixou ninguém indiferente. “As pessoas, na minha aldeia, diziam para eu deixar a Igreja. Mas eu não deixarei a minha fé”, explica-nos Bita. Agora, a cada dia que passa, ela sente que há um ambiente cada vez mais hostil. Os antigos vizinhos olham-na como se fosse uma estranha. “A minha fé tornou-se muito forte desde aquele dia no campo quando conheci o catequista. Mesmo se ameaçarem fazer-me mal ou quiserem matar-me, não abandonarei Jesus”. Bita é exemplo das enormes dificuldades que os Cristãos atravessam nos dias de hoje na Índia. A Igreja, ao olhar para cada ‘dalit’ como pessoa, está a fazer uma verdadeira revolução. Todos são iguais perante Deus. Todos são irmãos. Não há castas no amor. Bita descobriu-o lendo e relendo as suas passagens favoritas na Bíblia que o catequista lhe ofereceu. Mas a sua vida continua muito difícil. “Sou pobre, e às vezes peço comida e roupa para os meus filhos. Estou sozinha e rejeitada neste mundo. Mas, no meu íntimo, sei que o Senhor está sempre comigo”. Bita sente-se só e rejeitada na sua aldeia. Apesar disso, a sua fé em Jesus cresce de dia para dia. Ela pede-nos ajuda nesta Quaresma.

 

_____________

 

Campanha da Quaresma da Fundação AIS

Os Cristãos na Índia: pobres, discriminados, proscritos.

Eles são testados na fé. Nós somos testados no amor.

Ajude-os a ser testemunhas da fé e a sua fé também mudará.

 

- Sim, quero ajudar a Bitta e os cristãos "dalits" da Índia. NIB: PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8


texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES