Missão |
Helena Ferreira, do Voluntariado Missionário Espiritano
“Um verdadeiro compromisso com o próximo que devemos a amar e respeitar!”
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Helena Ferreira nasceu em Braga, na paróquia de São Victor, a 8 de setembro de 1993. É licenciada em Economia e Mestre em Engenharia Industrial, pela Universidade do Minho. Em janeiro de 2017 partiu em missão para Moçambique onde esteve até Dezembro do mesmo ano, com o Voluntariado Missionário Espiritano.

 

O sonho de partir em missão

Considera que a sua vida religiosa sempre foi “muito normal”. Fez todo o seu percurso religioso em Fraião (Braga) e diz-nos que “sendo o local onde os Espiritanos e as Espiritanas têm uma casa foi dessa forma que se iniciou o meu contacto com eles”. No último ano da sua licenciatura percebeu que queria ter “uma experiência de voluntariado internacional, mas se fosse nessa altura só poderia ir um mês”. Decidiu então adiar mais um pouco “o sonho” e um ano depois decidiu ligar “para o número que andava comigo há um ano na carteira, era o número da Irmã responsável pelo Voluntariado Missionário Espiritano”. “Ela apresentou-me o movimento e fez sentido logo de imediato para mim, até pela familiaridade que tinha com os meus vizinhos/as espiritanos/as. Uma semana depois iniciei o plano de formação de um ano que me iria preparar para a minha missão. Podemos então dizer que a minha missão começou no dia 13 de Fevereiro de 2016, a minha primeira formação com a FEC – Fundação Fé e Cooperação, foi um fim-de-semana muito confuso, por um lado a certeza de que queria partir, por outro lado toda aquela informação recebida assim a frio, no entanto não havia pressa para tomar nenhuma decisão”, partilha.

 

A formação prática da FEC:  o impulso que faltava

Diz-nos que “talvez tenha havido um momento no plano de formação que tenha afirmado a vontade de partir e a partir desse momento ninguém me conseguiria demover: a formação prática que a FEC organizou na Casa de Saúde de Condeixa.” Sobre esta experiência diz que “foram 4 dias de formação muito intensos, onde houve tempo para viver tudo, todo o tipo de emoções… mas a emoção que reinou foi o amor! Esta atividade prática apresentou imensos desafios, mas a acompanhar qualquer momento mais assustador, vinha um sentimento de que estávamos a fazer alguém muito feliz (os utentes daquela Casa de Saúde), sentimento que não tem descrição! Aquelas pessoas entregavam-se a nós sem reservas, sem tabus, coisa que hoje em dia a maior parte de nós não consegue fazer, porque já não sabemos confiar a nossa felicidade a alguém que está próximo de nós. Aqueles utentes fizeram-no sem qualquer reserva, eles olharam para nós, um grupo de voluntários e sem palavras disseram-nos "Estamos aqui para vocês, durante estes 4 dias vamos aceitar de coração e alma abertos qualquer coisa que nos oferecerem, mesmo sabendo que daqui a 4 dias nos deixarão e voltarão para as vossas casas" e perante uma afirmação destas só nos restava pôr as mãos à obra e fazer aqueles momentos valerem a pena. E mesmo no fim desses 4 dias, a responsável pela formação disse-nos, meus caros a missão é isto e eu pensei, se é isto o que é que eu ainda estou aqui a fazer?! Isto é tudo o que eu desejo neste momento. Se partir significava estar constantemente rodeada de amor, de pessoas prontas a receber, sem perguntas, sem hesitações e chegar ao fim do dia e sentir uma paz avassaladora que nos preenche, especialmente naqueles dias em que uma história de vida mais triste nos chegou aos ouvidos, há sempre qualquer coisa durante um dia que nos aumenta a vontade de viver e essencialmente viver com os outros. A partir deste momento, desta formação, a decisão estava oficialmente tomada, não havia volta a dar!”

 

A alegria de ser Cristão

Sobre a sua experiência de missão em Moçambique, conta-nos na primeira pessoa: “No dia 29 de Janeiro de 2017 parti rumo a Moçambique de onde só iria sair no dia 27 de Dezembro de 2017. Quando cheguei, os desafios, as necessidades e o calor eram muitos, assim como a alegria, alegria em tudo o que me rodeava, na equipa missionária, nos miúdos e miúdas com quem trabalhava, nos jovens, nas famílias e essencialmente na igreja. Só em Moçambique senti verdadeiramente do povo o que significa a alegria de ser Cristão, é uma coisa absolutamente deliciosa. Depois de me ser apresentada a missão foi-me apresentado o meu trabalho, que fundamentalmente iria ser a Biblioteca Paroquial, organizar e gerir a biblioteca consoante as necessidades que encontrava. Encontrei um sistema de ensino muito precário, onde existem jovens a andar oito anos na escola e a não conhecerem nenhuma letra. Uma das minhas funções na biblioteca era o apoio escolar aos alunos e alunas da escola primária completa de Itoculo durante a tarde e aos alunos e alunas da escola secundária de Itoculo durante as minhas manhãs. Foi um ano repleto de aprendizagem mútua, conseguimos adquirir livros novos para a biblioteca, pôr a sala de aula operacional e incentivar e demonstrar aos meninos e meninas dos lares da missão a importância de estudar, entenderam que se estudarem podem tirar 15/16 a matemática, foi um trabalho que demorou quase um ano inteiro, posso dizer que só talvez no último trimestre eles vinham às aulas de apoio sem ser preciso chamá-los. A meio do ano reparei em mais duas necessidades: a dependência do álcool com que muitas famílias têm de lidar (o álcool destrói imensas famílias e incita a violência muitas vezes de forma descontrolada e, por isso, decidimos criar um grupo de ajuda a essas pessoas, vulgarmente conhecido como os Alcoólicos anónimos. Tínhamos uma reunião semanal, dirigida por mim e por um papá que traduzia para Macua (língua falada em Itoculo), onde partilhavam as suas dores e juntos encontrávamos soluções. A outra necessidade foi a privação de acesso a água por parte de algumas comunidades em Itoculo. Esta perceção deu-me um forte abanão… como é que é possível no século XXI haver famílias inteiras a porem mulheres e crianças a caminhar 3 horas para ter acesso a água potável e muitas vezes chegam ao local de recolha de água e têm de esperar horas para chegar a sua vez de recolher água e mesmo assim podem voltar para casa sem água?! Vivenciar de muito perto esta realidade faz-nos acordar para a vida, é um cliché que faz todo o sentido. É um local onde a temperatura média ronda os 30 graus durante quase todo o ano. Criamos, para isso, um projeto intitulado "Água é vida". Graças aos excelentes amigos e instituições que nos apoiaram, conseguimos financiamento para a construção de dois fontanários! Isto é a prova que um verdadeiro compromisso com as necessidades do próximo pode gerar frutos maravilhosos e diminuir o sofrimento de um povo irmão.” Conclui dizendo que “se todas as pessoas passassem por uma experiência de voluntariado missionário internacional, grande parte do egoísmo no mundo seria inconcebível, porque sobreviver emocionalmente e fisicamente numa realidade completamente diferente da nossa só é possível se houver um verdadeiro compromisso com o próximo que devemos a amar e respeitar. Acima de tudo passaríamos a valorizar todas as necessidades básicas que vemos naturalmente satisfeitas, como o acesso a educação, a saúde e a água. Aquelas pessoas, ensinaram-me a viver mostrando-me que me devo rodear de amor, devo-me rodear daqueles que eu amo e que me amam também e sempre que alguém vier com más energias, devemos retribuir com um sorriso na cara e mostrar-lhe que o mundo é muito mais agradável se o encararmos de forma positiva, mesmo que à nossa volta não haja positividade (aliás, especialmente aí).”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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