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Um sacerdote entre os pigmeus no Congo-Brazaville
Gigantes na fé
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São talvez os homens mais pequenos do mundo, mas ali, no meio da selva, o que mais tem surpreendido o Padre Franck Bongo é a forma autêntica como eles, que agora são os seus paroquianos, vivem os valores do Evangelho. E nisso, apesar da enorme pobreza em que todos se encontram, são uns verdadeiros gigantes…


No norte do país – República do Congo, também conhecido como Congo-Brazaville –, no meio da selva, entre aqueles que são considerados como os homens mais pequenos do mundo, existe uma paróquia católica verdadeiramente surpreendente. Quando o Padre Franck Bongo foi enviado para lá, em 2014, não sabia bem o que iria encontrar e os primeiros tempos nem foram fáceis. Apresentou-se a todos apenas como um sacerdote que desejava evangelizar. Não estava ali para dar ordens, para dirigir a aldeia ou sequer para prestar serviço humanitário. Tudo isso seria bem-vindo, claro, mas o Padre Bongo quando se apresentou junto daquela comunidade de pigmeus, de pessoas que vivem no meio da selva, disse apenas que estava ali para evangelizar. Não foi fácil.

 

Quebrar desconfianças…

A vida das comunidades locais está profundamente ameaçada pela crescente exploração das riquezas da floresta, das riquezas da natureza. Ao todo, não haverá mais de 150 mil a 200 mil pigmeus nesta região que abarca um vasto território situado entre o Congo-Brazaville, os Camarões e o Gabão. Para o Padre Bongo, a sua paróquia é, porém, uma área muito mais pequena. Infinitamente mais pequena. No entanto, foram precisos cerca de dois anos para que a relação tensa dos primeiros tempos desaparecesse dos rostos e das conversas. Foram dois anos em que o Padre Bongo se transformou num deles. Era preciso passar por esse teste, quase como se fosse um ritual de iniciação. Era preciso quebrar desconfianças. Durante dois anos, o Padre Bongo foi pescar e caçar com os pigmeus. Viveu como eles e passou a olhar a floresta como eles sempre a viram, descobrindo como a natureza, que é uma pura manifestação de Deus, tem tanto para oferecer para a sobrevivência do dia-a-dia. Durante esses primeiros dois anos, os pigmeus também foram descobrindo, aos poucos, que o padre não era uma ameaça mas que estava ali gratuitamente para os ajudar. Para o Padre Bongo, esses primeiros tempos foram, de facto, uma verdadeira revelação.

 

Vida autêntica

Os pigmeus são uma comunidade nómada profundamente ameaçada por uma sociedade que olha de forma predadora para a floresta. Porém, na sua aparente insignificância, têm muito a ensinar ao resto do mundo. A todos nós. “Os pigmeus casam-se para a vida – explica o Padre Bongo. O conceito de divórcio não existe entre eles, tal como não existe a poligamia. Não são nada materialistas. Não têm dinheiro para nada… Para eles, os bens residem na família.” A fortuna, o sucesso, está na família… O que mais tem surpreendido o Padre Franck Bongo ao longo destes anos, desde que foi viver para a floresta, é a forma autêntica como os povos nómadas vivem os valores do Evangelho. E nisso, apesar da enorme pobreza material em que se encontram, são um exemplo para o mundo inteiro. Mesmo que o mundo ignore a existência de tantas famílias que vivem ali naquele recanto do Congo-Brazaville.

 

Mudança tremenda

Aos poucos, a resistência inicial foi-se diluindo e o padre passou a ser visto quase como um igual entre os pigmeus. “Em Junho de 2016 celebrei os primeiros dois casamentos e os respectivos baptismos. Um deles, entretanto, é já catequista. Em Junho deste ano, 2018, haverá mais casamentos…” Parece tão pouco, mas foi uma mudança tremenda. O Padre Bongo não sabe ao certo quantas pessoas pertencem à sua paróquia. Na verdade, são todos nómadas. Na paróquia, que foi estabelecida na aldeia de Péké, não serão mais de 100. Mas valem por muitos. São uma semente. Uma semente improvável de vida cristã no meio da floresta. Os homens mais pequenos do mundo, que vivem ali no meio da selva, na Paróquia de Péké, são, de facto, uns gigantes na fé…

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