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Fome ? um combate sem fim
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Há, porém – escusado seria dizê-lo – interesses económicos, políticos e comerciais que tudo dominam, que a tudo se sobrepõem. Mesmo à defesa e à prática dos mais elementares direitos humanos, tão apregoadas como utópicas.
A recente crise económica e financeira, que deixou o mundo ocidental em polvorosa, ainda criou ingénuas expectativas sobre o aparecimento de uma nova ordem mundial nascida, como que por milagre, das cinzas a que o capitalismo puro e duro se haveria de reduzir. Mas o capitalismo puro e duro nem sequer saiu chamuscado, quanto mais ficar feito em cinzas… E nada mudou. Nem mudará.
A fome vai, então, continuar a matar. Inexoravelmente. E de tanto se estender no tempo corre o risco de ser vista como uma coisa banal. Banal e, pior, inevitável. E cai na indiferença generalizada. Para a comunicação social, sempre ávida do imediatismo sensacionalista, deixa mesmo de ser notícia – ou quase. De vez em quando, uma ou outra reportagem e um ou outro documentário “saltam” da televisão, caindo como pedradas nas águas calmas do “deixa andar” instalado. Talvez se sintam incomodadas ou até chocadas algumas consciências mais sensíveis – mas será sol de pouca dura… A memória das tragédias é demasiado curta.
Ganha, por isso, enorme relevo tudo o que possa sacudir este marasmo. E quando é o Papa a fazê-lo, por palavras lúcidas, tão serenas como vigorosas, e a pôr verdadeiramente o dedo na ferida, então é essencial que seja escutado com os ouvidos – e a mente – bem abertos.
Discursando, há dias, na Cimeira Mundial sobre Segurança Alimentar, Bento XVI fez uma profunda análise do problema da fome, deixando claros dois ou três aspectos fundamentais do combate que é urgente travar para o resolver ou, pelo menos, mitigar.
Um deles é a importância de não limitar a dádivas mais ou menos caridosas a ajuda aos países pobres. Para o Papa, o problema da fome deve ser atacado numa perspectiva de médio ou longo prazo, pelo que o fundamental é “promover o desenvolvimento agrícola (…) através dos investimentos em infra-estruturas rurais, no sistema de irrigação, de transporte, de organização dos mercados, na formação e na difusão de técnicas agrícolas apropriadas, isto é, susceptíveis de utilizar o melhor possível os recursos humanos, naturais e socio-económicos” locais.
Sublinha, por outro lado, o Bispo de Roma que a comunidade internacional tem o dever de responder aos pedidos de ajuda externa com instrumentos de cooperação, respeitando “o direito de cada país definir o seu próprio modelo económico, prevendo as modalidades para garantir a sua (…) liberdade de escolha e de objectivos”. Quer dizer que, “segundo esta perspectiva, a cooperação deve tornar-se um instrumento eficaz, livre de constrangimentos e de interesses (…)”.
E, finalmente, outro ponto crucial. Diz o Papa que “para combater e vencer a fome, é essencial começar por redefinir os conceitos e os princípios até aqui aplicados nas relações internacionais, de maneira a responder a esta questão: o que é que pode orientar a atenção e a conduta dos Estados (…) para as necessidades dos mais desfavorecidos?”
Bento XVI deixa a pergunta, mas afirma que só em nome da família humana universal se pode pedir a cada país para ser solidário. Por outras palavras, “que esteja disposto a assumir responsabilidades concretas para vir, diante das necessidades dos outros, favorecer uma verdadeira partilha fundada sobre o amor”.
Uma partilha fundada sobre o amor… Está aqui, é esta, a chave do problema.
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