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Isilda Pegado
1998 - 2018. Um povo, uma história

1 – Celebramos, no dia 28 de Junho, o primeiro Referendo feito em Portugal. O qual se destinava à liberalização do aborto e o Não ao Aborto venceu.

2 – O Referendo é um instrumento de Democracia Participativa, mas que, em geral, quem está no poder não gosta. Pensam que os Referendos limitam o Poder. Quando, na verdade, o Referendo pode e deve ser uma ajuda e apoio a quem governa. Só quem olha para o exercício do Poder com prepotência pode negar esta leitura. Porém, nem tudo é referendável. Mas se o Poder atenta contra valores de uma Sociedade esta deve pronunciar-se.

3 – Em 1998, quando o Parlamento se preparava para legalizar o aborto, alguns (valentes) deputados propuseram (entre eles o actual Presidente da República) a realização de um Referendo. E, os políticos ainda com uma certa “frescura” deixaram este debate à Sociedade Civil (em 2007, o debate e campanha foram totalmente politizados).

4 – Por todo o País se organizaram movimentos de pessoas que procuravam médicos, juristas, sociólogos ou psicólogos para que todos fossemos esclarecidos e votássemos com conhecimento, e em consciência.

5 – Desses grupos nasceram movimentos cívicos (Juntos pela Vida, Vida Norte, ADAV Coimbra, etc.) que, ao longo destes 20 anos, continuam a trabalhar na Defesa da Vida, através de instituições de apoio a grávidas e crianças. Fazem-no com trabalho profissional e voluntário, o que muito enobrece o Movimento pela Vida.

Em 2002, nasceu a Federação Portuguesa pela Vida que congregava 12 instituições e hoje tem consigo cerca de 22 instituições.

6 – Ao celebrar os 20 anos deste Referendo comemoramos, para além da Vitória da Vida em desfavor da morte, comemoramos também todo este caminho que se está a fazer e continuará por certo, com muito mérito e obras feitas.

Por virtude deste trabalho, ao longo dos 20 anos, nasceram milhares de crianças, e as famílias que as receberam tornaram-se mais ricas e felizes.

7 – Até hoje não há memória de uma mãe que após o parto tenha ido dizer à instituição – “não quero o meu filho e teria sido melhor se tivesse abortado”. Nunca tal se ouviu. Ao invés, muitas mulheres nos procuram porque estão arrependidas de ter feito o aborto que pôs fim à vida de um filho.

8 – Muitas são as histórias de vida que ao longo destes 20 anos nos têm chegado. Algumas muito comoventes e nobres, outras de amargura e tristeza, algumas mesmo quase anedóticas.

Conto por isso um episódio que ocorreu durante a campanha do Referendo de 98.

O “Pedro” conseguiu uma entrevista na televisão, a ser dada por um grande especialista na argumentação a favor da Vida (o “Vales”). No dia e hora marcada o “Pedro” levou o “Vales” à televisão para a dita entrevista com um pivot considerado então grande jornalista. (O “Pedro” e o “Vales” eram muito jovens).

O “Pedro” acompanhou, dentro da régie, a entrevista. E, a certa altura, discutia-se a legitimidade do aborto para pôr fim à vida de crianças deficientes. E, ouve-se o “Vales” dizer ao entrevistador: “O senhor é anormal”.

O entrevistador, meio gago, dizia: “Eu, eu, anormal?”.

“Vales”: “Sim, o Sr. é deficiente?”.

Entrevistador: “Deficiente, eu?”.

A esta hora o “Pedro” já transpirava. A entrevista estava a ser transmitida em directo.

“Vales”: “O Sr. usa óculos?”.

Entrevistador: “Sim, uso porque preciso…”.

“Vales”: “Nem todos os homens precisam de óculos, logo o senhor tem uma deficiência…”.

O “Pedro” sofredor, suspirou de alívio…

De facto, graduamos vidas humanas. É preciso pôr a nu a falácia que tal pensamento carrega.

E, muitas vezes, fruto da mentalidade dominante, esquecemo-nos de pensar de questionar. E vamos … “cantando e rindo”. Negando uma Civilização que tantas capacidades tem para a felicidade das pessoas. Se não a estragarmos.

Há 20 anos que se trabalha para a Defesa da Vida e da Felicidade dos homens e das famílias. Vamos continuar.