Artigos |
Isilda Pegado
Ter um rumo

1 – A Teresinha está a ajudar o “tio” a colocar as compras na passadeira da caixa do supermercado. Vão falando do vestido de noiva da Susana, que se casará na próxima semana. O tio pergunta-lhe “e o teu vestido?”. Responde: “é azul. Mas a Susana deveria levar um véu maior…”. O tio diz-lhe “E quando fores tu a casar?”. Ela responde: “Não sei se me caso”. “Porquê?” – Pergunta o tio. A Teresinha responde: “Não sei se me caso. A minha mãe queria casar-se e não conseguiu…”. O tio ficou calado durante vários segundos, e logo em seguida mudou de conversa.

2 – A Ana e o João são ambos médicos e decidiram ir trabalhar para um hospital fora de Lisboa. Durante os anos de formação (internato) dedicaram-se à profissão e tiveram um filho, que já tem 3 anos.

Terminada a formação foram convidados para continuar a trabalhar no mesmo hospital. Porém, a Ana soube que está grávida. Ficaram muito felizes. Mas a direcção do hospital perante essa notícia – a gravidez da Ana – mudou de ideias e já não fará contrato com a Ana. É um hospital público. Acreditamos na história? É mesmo verdade.

3 – Porque vendemos hoje a ideia de que “não casar” é bom? Por liberdade? Vendemos a felicidade para comprar a Liberdade?

Porque fala assim a Teresinha (de 8 anos) do “não casamento da mãe”? Não é o casamento um desejo natural do ser humano? Porque destruímos este desejo? Quem beneficia deste modo de vida onde não há vínculos?

4 – Porque temos uma gestão de empresas ou de hospitais adversa à maternidade? O mundo não precisa de novas pessoas? O filho da Ana e do João não merece que todos o ajudemos a nascer? São os meses de licença de parto que vão prejudicar os doentes daquele hospital? Onde está a solidariedade e os Estado Social que tantos apregoam? Quando é o Estado a dar este maus exemplos, como se comportam as empresas?

5 – Quando se nega a Família e todos os custos que a ela estão associados, em favor de um desprendimento, individualismo, economicismo, há outros custos que surgem necessariamente. Falamos da solidão, do utilitarismo ou do descartar de pessoas. Solidão, porque sem vínculos o homem e a mulher tornam-se cada vez mais sós e mais vulneráveis às adversidades da vida. Utilitarismo, porque ou produzimos e somos úteis ou somos marginalizados e afastados (nas relações pessoais e profissionais). O descartar das pessoas, porque nos sentimos usados, atraiçoados no amor e na entrega (ao outro ou à profissão).

6 – Há outra forma de viver. O homem livre não é o que navega à deriva. Queremos mais do que o simples dia-a-dia ao sabor do vento ou de emoções passageiras? Na vida é preciso ter um caminho, uma orientação, não como uma prisão, mas como uma forma de aderir à Verdade. Aliás expressa nas palavras simples daquela criança que acima referi.

O homem e a mulher estão vocacionados para o Amor, para a dignidade, para a fidelidade e para constituir família.

Estamos a iniciar um novo ano de trabalho em todos os sentidos. Seremos capazes de estabelecer um rumo? Que grandes valores e opções podemos tomar para construir mais Amor, Felicidade, Dignidade e Família?

A isto chama-se ter Rumo na Vida, melhor, chama-se Liberdade.