Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Viver a liturgia em missão

O Secretariado Regional dos Religiosos e Religiosas em Lisboa, para orientar algumas atividades específicas no contexto da sua participação em todas as atividades promovidas na nossa Diocese, preparou o programa para 2018-2019 a partir de dois acontecimentos e dois textos fundamentais.

O primeiro acontecimento é o Sínodo Diocesano em fase de receção da Constituição Sinodal. O segundo é a celebração de um Ano Missionário para todas as Dioceses, de outubro de 2018 a outubro de 2019, proposto pela Conferência Episcopal, em que a dimensão missionária estará subjacente às iniciativas pastorais diocesanas e nacionais. Pretende-se que este Ano seja vivido no encontro com Jesus Cristo na Igreja, na liturgia, no testemunho dos santos e mártires da missão, na formação bíblica, catequética, espiritual e teológica, e na caridade missionária. Uma decisão que acolhe e amplia a realização do Mês Missionário Extraordinário declarado pelo Papa Francisco para outubro de 2019, com o objetivo de celebrar o centenário da Exortação Apostólica “Maximud Illud” de Bento XV, com a qual este quis dar novo impulso à responsabilidade missionária de anunciar o Evangelho.

O primeiro texto de base é o n.º 47 da Constituição Sinodal que, tendo em conta o objetivo transversal de fazer da Igreja uma rede de relações fraternas, nos convida a «viver a liturgia como lugar de encontro com Deus e também a comunidade cristã enquanto povo de Deus que celebra». O segundo é do Papa Francisco na recente Exortação Apostólica sobre a santidade no mundo atual: «Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária» (GE 142).

Tudo isto vem citado na belíssima carta que o nosso Patriarca nos oferece para o início deste ano pastoral, uma carta que deveria ser refletida com plena atenção.

Viver a liturgia em missão, lema dos consagrados no Patriarcado para este ano, procura assumir tudo isto de modo particular. Um convite a assumir a liturgia como missão e a missão na liturgia. Um convite a inserirmo-nos em tantas atividades promovidas na diocese, complementadas por algumas iniciativas mais específicas para os consagrados. Um convite a integrarmos igualmente o que de provocador virá certamente do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional.

A missão não é acrescento nem sequência na Igreja, mas é da sua essência. Daí o Concílio Vaticano II afirmar que a Igreja é por sua natureza missionária, transportando na sua identidade a mesma missão de Jesus Cristo. Não há discípulos e missionários, mas discípulos missionários, como diz o Papa Francisco. Podemos também afirmar que não há liturgia e missão, mas liturgia missionária ou liturgia em missão.

“Todos, Tudo e Sempre em Missão”, título da nota pastoral da Conferência Episcopal para o Ano Missionário, deve marcar as nossas vidas e famílias, comunidades e diocese: somos todos em missão, ninguém pode ficar nem ser posto à margem deste dinamismo; tudo em missão, todas as iniciativas e realizações só podem ser assumidas em missão; sempre em missão, que é permanente e nunca exercida a espaçadamente. Longe de ser uma mera recordação centenária, este Ano deveria proporcionar a renovação do sentido de missão da Igreja. Longe de acumularmos eventos que até nos podem cansar, este Ano deveria ser assumido na contemplação e na compreensão da missão de Jesus Cristo, na alegria do Evangelho. Longe de ser concorrencial aos programas diocesanos, paroquiais ou congregacionais, este Ano em missão deveria ser tomado como subjacente e transversal a tudo o que se faz, fomentando a construção de comunidades santas e missionárias, sempre a partir da Palavra e da Eucaristia.

Pela oração, contemplação, reflexão e ação, procuremos renovar a nossa liturgia para que seja autenticamente missão nos ambientes existenciais que habitamos na nossa diocese, também com o contributo dos consagrados e consagradas.