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Viver o Natal numa Europa que se afasta de Deus

Aproxima-se o Natal, festa que nos lembra o centro da nossa fé: Deus fez-Se homem para nos salvar, mas que parece cada vez mais disfarçado pela mentalidade laicista e ateia que não quer ouvir falar de Deus. A vários níveis os cristãos são hoje em dia chamados a intervir com o anúncio de que Deus está presente, que quer dar a “vida em abundância”, que perdoa os pecados e nos abre as portas do Céu, mas também que ensina a distinguir a Verdade, a Justiça e o Bem do aparente e egoísta.

Temos um primeiro nível na vida pessoal. Se cada pessoa que já foi tocada pela experiência da fé se deixar envolver pela presença de Deus, certamente que terá de lutar contra tentações hedonistas e consumistas, mas sobretudo sentirá uma paz e uma felicidade, mesmo que ao mesmo tempo tenha de sofrer e até de ser “mal recebida” pelo mundo que, à maneira da serpente do jardim do Éden, quer decidir tudo sem Deus.

Vem depois a família, o grupo de amigos e os mais próximos. Antes de mais importa lembrar que cada comunidade, desde a doméstica à mais alargada, vive do contributo de cada um, mas que depois ficando marcada por esse contributo enriquece todos os membros. A família é um lugar fundamental para se poder expressar a fé com liberdade e com convicção. Tal como o grupo de amigos. Falsos respeitos humanos, que nos fazem disfarçar a fé, são o contrário da caridade que nos deveria levar a dar aos outros o melhor, ou seja, a fé, a possibilidade de uma amizade com Deus.

O lugar de trabalho e a terra ou bairro onde se vive ocupam grande parte do nosso tempo. Hoje, uma falsa ideia de liberdade leva a que cada um faça cerimónia ou tenha mesmo medo de expressar a sua fé. Claro que a fé pode ser vivida de forma escondida e discreta que mesmo assim, com a graça de Deus, irá frutificar. Mas não nos devemos conformar. Ser prudente não significa ser indiferente. Se um cristão é sempre cristão, e não o é intermitentemente, então a alegria que tem na vida graças à presença de Deus há-de transparecer, e as palavras com que explica que a razão de estar feliz não é a ausência de problemas mas a presença de Deus juntam-se ao testemunho e são um desafio para os outros. Cada um será livre, mas como poderão escolher se não houver quem lhes fale de Deus? Pendurar nas janelas de sua casa o Menino Jesus é um sinal! Ter um presépio em vez de símbolos, que hoje já poucos sabem de onde vêm, nos locais de trabalho ou nas entradas dos prédios, pode ser complicado, mas em certos casos só depende dum acto de coragem. Muitos irão agradecer.

O nosso país, a nossa Europa também precisam de ser ajudados a descobrir Deus e a não ter medo de O ter à vista. Em primeiro lugar é preciso que Deus tenha direito a estar presente, direito de cidadania. O debate que suscitado há algumas semanas pela decisão do tribunal de Estrasburgo em que diz que ter uma cruz na escola é um atentado à liberdade religiosa é sinal do que se quer fazer: tirar Deus da vida. E a reacção italiana, sobretudo a popular que fez manifestações, e expressou o seu escândalo, mostra que as estruturas “europeias” quando decidem contra a expressão da fé não reflectem o povo! Quem descobre Jesus não pode, depois, aceitar que a vida nos primeiros dias depois da concepção seja menos digna que outra já nascida, como se houvesse pessoas de primeira e de segunda; nem vai ficar indiferente às tentativas de igualar um casamento, que é sempre uma comunhão de vida entre um homem e uma mulher, de cujo amor podem nascer crianças, com uniões de pessoas do mesmo sexo. Estas propostas, que são um pouco emblemáticas do que se pretende com uma cultura laicista e sem Deus, normalmente apresentam-se como defensoras de algum direito, mas na verdade não defende ninguém mas atacam a fé e os que a vivem. Sem Deus na vida social não há nenhum critério de bem e mal se não o do capricho de quem manda ou de quem manipula a opinião da maioria. Mas o Natal é Deus que entra no mundo visível. Não apenas no “meu coração”, mas na minha vida toda, na vida da minha família, da minha cidade, do meu país e do mundo todo. A “serpente”, hoje, diz que a fé é um assunto privado e não deve ter nenhuma expressão pública. Mas Deus, que nos criou como pessoas sociais, ao entrar no nosso mundo entrou de modo visível e fazendo um apelo à conversão e não nos deixando na mesma.