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P. Manuel Barbosa, scj
Sinodalidade missionária

A assembleia sinodal do Sínodo dos Bispos realizou-se em outubro, por feliz coincidência mês missionário e início do Ano Missionário em Portugal. No encerramento dos trabalhos sinodais ocorridos ao longo de quatro semanas, foi divulgado, por decisão do Papa Francisco, o documento final acompanhado das votações de cada um dos seus 167 números. Um documento a ler, a refletir e a pôr em prática nas suas propostas e recomendações. O itinerário bíblico dos discípulos de Emaús é o fio condutor de todo o texto, ao longo das suas três partes: «caminhava com eles… os seus olhos abriram-se… partiram imediatamente…».

Estamos agora em fase da receção do Sínodo, na totalidade das suas orientações e cada uma em particular. Gostaria de salientar aqui, em resumo ou breves citações, o que consta no primeiro capítulo da terceira parte sobre a sinodalidade missionária como dinamismo constitutivo da Igreja.

No dizer dos Bispos que participaram no Sínodo, são os jovens que pedem para continuarmos a caminhar juntos, em estilo sinodal. Desde os inícios da preparação do Sínodo, «os jovens expressaram o desejo de estar envolvidos, estimados e de sentirem-se coprotagonistas na vida e na missão da Igreja». No decorrer do Sínodo, experimentou-se que «a corresponsabilidade vivida com os jovens cristãos é fonte de profunda alegria também para os bispos». Esta experiência sinodal é fruto do Espírito Santo que renova continuamente a Igreja e a chama a praticar a sinodalidade como modo de ser e de agir, procurando que todos os batizados e pessoas de boa vontade, qualquer que seja a sua idade, estado de vida e vocação, participem na vida da Igreja.

A sinodalidade caracteriza, pois, a vida e a missão da Igreja. Como diz o Papa Francisco citado no nº 112, «uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar é mais do que ouvir. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o Espírito da verdade, para conhecer aquilo que Ele diz às Igrejas».

A Igreja é assim um “caminhar juntos” do Povo de Deus peregrino pela história ao encontro do Senhor; daí se poder afirmar que Igreja e Sínodo são sinónimos. Um “caminhar juntos” fundamental nas iniciativas de solidariedade, de integração, de promoção da justiça, numa cultura cada vez mais de encontro e gratuidade.

A sinodalidade é um dado adquirido que precisa de ser cuidada com formação específica para todos os responsáveis eclesiais e com «percursos formativos comuns entre jovens leigos, jovens religiosos e seminaristas, em particular quando respeita temáticas como o exercício da autoridade ou o trabalho em equipa».

«A vida sinodal da Igreja é essencialmente orientada para a missão». Esta afirmação implica um estilo de Igreja comunhão que é ao mesmo tempo m missão, uma missão em diálogo e escuta permanentes.

Tudo isto nos foi apresentado por D. Joaquim Mendes, um dos dois bispos portugueses delegados ao Sínodo dos Bispos, domingo passado num encontro com todos os religiosos e religiosas do Patriarcado, em que acentuou de modo excelente esta sinodalidade missionária que deve estar presente em todos os sectores da vida e da pastoral da Igreja.

Neste encontro, Tomás Virtuoso, jovem que esteve na reunião pré-sinodal de março com o Papa Francisco com 300 jovens, realçou igualmente este dinamismo sinodal como essencial para a missão. Segundo ele, o Sínodo deve ser recebido à luz de cinco P: com Projetos de vida de comunidade e missão, em Processos que é preciso iniciar e fazer crescer, com Profundidade centrada em Jesus Cristo, de Pessoa a Pessoa em estilo de acompanhamento, com a Paixão que nos vem do encontro permanente e renovador com Jesus Cristo.

Sinodalidade missionária ou missão sinodal: eis um caminho essencial para vivermos e anunciarmos com todo o sentido renovador a Igreja de sempre que somos hoje, gerada no Espírito de Jesus Cristo.