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Dezenas de cristãos vítimas de massacre na República Centro-Africana
“Não podemos ficar calados”
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Mais de 60 mortos, entre os quais dois sacerdotes. Foi um verdadeiro massacre. Muitos morreram calcinados. O ataque de 15 de Novembro contra a Catedral e um campo de refugiados em Alindao, na República Centro-Africana (RCA), foi apenas o mais recente episódio numa longa lista de violência que teve início em 2103. A ameaça sobre os Cristãos é imensa. Como alerta o Arcebispo de Bangui, “ou conseguimos restaurar a paz ou desaparecemos…”


Foi um tsunami de violência que abalou a cidade de Alindao, na República Centro-Africana, na quinta-feira, dia 15 de Novembro. A Catedral e o campo de refugiados, que albergava mais de vinte mil pessoas, na sua maioria cristãos, foram atacados com uma ferocidade inimaginável. Milhares de pessoas tiveram de fugir para a floresta procurando salvar a própria vida. Foram minutos de terror. Ficou um rasto de destruição e morte dificilmente traduzível por palavras. Corpos calcinados, esquartejados… Ninguém foi poupado. Nem mulheres ou crianças. Dois padres foram também assassinados. Um deles terá sido mesmo queimado vivo. A violência foi tal que a Igreja Católica decidiu convocar um dia de luto e de oração para o passado domingo, dia 2 de Dezembro. Pouco mais se pode fazer. Indefesos perante bandos armados que semeiam o terror, que mais se pode fazer do que chorar os mortos e rezar?

 

Imensa brutalidade

A República Centro-Africana vive uma terrível onda de violência desde 2013, com grupos armados muçulmanos, os Séléka, a espalharem a violência contra as populações civis, o que deu origem à criação de grupos de auto-defesa, conhecidos localmente como os “anti-Balaka”. Calcula-se que, em todo o país, haverá 18 milícias armadas que são responsáveis por ataques contra as populações, raptos e contrabando. O conflito neste país já provocou mais de 1 milhão e 200 mil refugiados e deslocados e deixou ainda cerca de 2,5 milhões de pessoas a precisarem de ajuda humanitária de emergência. O ataque de 15 de Novembro, da responsabilidade de uma das milícias muçulmanas, revestiu-se de uma brutalidade imensa. O Arcebispo de Bangui, Cardeal Dieudonné Nzapalainga, visitou Alindao alguns dias após o ataque. A dimensão da violência perceptível nas marcas de destruição deixaram-no alarmado. A zona onde decorreu o ataque ficou quase reduzida a cinzas. “Não podemos ficar calados”, disse na ocasião. Não é possível silenciar tanta atrocidade, tanta violência. D. Nzapalainga denunciou os grupos armados que mantêm “a maior parte da população refém”, e acusou ainda a comunidade internacional de ter falhado na missão de protecção das populações. O que aconteceu a 15 de Novembro, o que tem acontecido quase todos os dias na República Centro-Africana é “um massacre de civis inocentes”, acrescentou ainda o Cardeal Nzapalainga.

 

Não há fuga possível

A Igreja convocou os fiéis, domingo passado, para um dia de luto e oração. Mas é preciso agir com urgência para impedir novos ataques. É preciso agir com urgência para se defender as pessoas, as famílias que tudo perderam e que estão à mercê dos bandos armados. “Devemos dar rapidamente o alerta e intervir para salvar, proteger as crianças, as pessoas mais fracas, os idosos e dar a oportunidade a todos aqueles que se encontram em Alindao de simplesmente seguirem as suas ocupações”, pediu ainda o cardeal. Mas como explicar tanta violência? Para D. Dieudonné Nzapalainga, “há interesses económicos em jogo, interesses geopolíticos”, que têm de ser vistos por vezes fora do contexto das próprias fronteiras do país. Já no prefácio do sumário executivo do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado no mês passado pela Fundação AIS, este prelado mostrava a dimensão brutal da violência que está a ser exercida contra a comunidade cristã. Não há fuga possível. “Aqui, em Bangui, onde as forças de destruição estão bem estabelecidas, não temos qualquer escolha. Ou conseguimos restaurar a paz ou desaparecemos…”

 

Como explicar?

Há cinco anos que a violência faz parte do quotidiano deste país. Ninguém está a salvo. Ninguém está seguro em lugar algum. Nada é poupado. Os Padres Blaise Mada e Celestine Ngoumbango, assassinados no dia 15 no campo de refugiados de Alindao, são apenas duas das mais recentes vítimas desta guerra por procuração que está a consumir este país africano. As primeiras pessoas que chegaram ao local depois do ataque depararam-se com um cenário dantesco. Tudo estava destruído. Como explicar tanto ódio, tanto desprezo pela vida humana? A República Centro-Africana é um país em guerra desde 2013. A ameaça sobre os Cristãos é imensa. Como alertou o Arcebispo de Bangui no Relatório da Fundação AIS, “ou conseguimos restaurar a paz ou desaparecemos…”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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