Missão |
Sofia Vilar, Centro Missionário Arquidiocesano de Braga
Ser, dar e receber amor
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Sofia Vilar nasceu a 19 de maio de 1986, em Braga. É arquiteta com mestrado integrado e tem uma especialização em Reabilitação Sustentável e faz, maioritariamente, reabilitação de património. Esteve em missão em Moçambique com o Centro Missionário Arquidiocesano de Braga (CMAB), entre julho de 2017 e agosto de 2018.

 

Diz-nos que nasceu numa “segunda-feira e nasci na hora da sesta, logo a seguir ao almoço. Mas já queria nascer desde o dia anterior, o que diz muito de mim.” Considera como principais marcos da sua vida o nascimento da sua irmã mais nova e dos seus sobrinhos (filhos do seu irmão mais velho). “Foram acontecimentos muito marcantes na minha vida, ao ponto de mudarem tudo. Verdadeiros presentes de Deus. Eu tenho a sorte de ter um mano mais velho e uma bonequinha mais nova, embora não goste de ser irmã do meio. É dicotómico, mas é assim. Ser Tia é, definitivamente, dos papéis mais importantes da minha vida e algo que me preenche a alma como não há igual.” Partilha ainda que, “sem qualquer hesitação, a melhor experiência da minha vida, até agora, foi a missão ad gentes que fiz entre julho de 2017 e agosto de 2018 (com um interregno por motivos de saúde)”. Sobre o projeto que integrou, partilha: “A Arquidiocese de Braga tem um acordo celebrado por 10 anos com a Diocese de Pemba, em Moçambique, onde assume uma paróquia, Santa Cecília de Ocua. Parti com um leigo missionário, o António, e um sacerdote, o Pe. Paulino. Fomos já a segunda equipa a assumir a Missão de Ocua. Além de todo o Programa Pastoral, que incluía as celebrações semanais e as visitas às comunidades – em que celebrávamos uma missa (algumas com celebração de sacramentos) e uma assembleia de comunidade –, bem como todos os assuntos que mantêm uma paróquia em pleno funcionamento (a exemplo, a Catequese e o Conselho Económico), acabávamos por fazer tudo o que a comunidade que nos era mais próxima precisava, na medida do que nos era possível, como transportar doentes aos hospitais, alguns em estado grave, dar apoio escolar, colinho e conselhos quando nos pediam. Fomos enfermeiros, médicos, professores, melhores amigos, ‘mãe’ e ‘pai’ quando foi preciso. Fizemos muita coisa que nunca nos teria ocorrido, mas, no final, correu sempre tudo muito bem! Mas além do que, à partida seria mais ‘orgânico’, tínhamos ainda (e continuamos a ter) um projeto ambicioso de formação de catequistas – e que tem dado bom fruto –, um de reabertura da Escolinha da Missão, um de Apoio ao Aleitamento Materno para as Mamãs que não conseguem amamentar em exclusivo ou de todo ou – e em muitos casos – de bebés órfãos, com acompanhamento semanal dos bebés e das Mamãs ou dos familiares responsáveis, com o apoio do enfermeiro do Posto de Saúde da Missão, que foi possível reabrir graças à equipa missionária anterior, e ainda a pretensão de reabilitar a Casa da Missão num futuro breve. Portanto, foram 13 meses muito intensos, de muitos desafios, de momentos de muitas questões, de alguns momentos-limite em que se não acreditássemos de verdade... E mais ainda de muitos momentos de alegria plena, de amor absoluto e de encontro.”

 

“É impossível que não saias de uma experiência destas a conhecer-te melhor”

Quando questionada sobre em que diferiu este projeto de outros de voluntariado que já tinham levado a cabo, diz-nos: “Em tudo, menos na vontade de entrega pessoal. Há que contextualizar: nós deixámos a nossa família, amigos, os nossos compromissos profissionais, o nosso conforto e a segurança do que conhecíamos para nos entregar a pessoas que não conhecíamos, por um chamamento de Deus. No fundo, de todas as vezes que fiz voluntariado, foi a pedido de Deus, porque estava lá a fé e porque a formação católica está na génese da pessoa que sou, mas nunca tinha dito: eu quero fazer isto em nome de Deus! Depois, mudar de casa, de país, de continente até, de rotinas, de ‘profissão’, passar a viver com o António e o Padre Paulino... Tudo foi diferente das experiências de voluntariado ‘mais normais’ que já tinha vivido.”

Diz-nos que o seu olhar sobre a vida mudou depois desta missão: “Eu não sinto que tenha partido na inocência e já tinha 31 anos quando fui em missão, portanto também já tinha algumas noções da vida, já sabia como queria olhar para ela. Cada um tem o seu percurso anterior à missão e eu sinto, verdadeiramente, que o meu estava desenhado por aqui, pelo que já levava algum mundo e alguma consciência – além de algumas ferramentas – comigo. Mas, é óbvio, tudo muda dentro de nós. Eu ia dizer ‘muito’, mas é mesmo ‘tudo’. Digo sempre: estes 13 meses foram muito importantes para aprender a conjugar o verbo ‘aceitar’ – penso que esta foi uma das maiores lições que tirei. Porém, aceitar não é tornarmo-nos conformistas. É aprender a discernir o que podemos mudar do que não está nas nossas mãos ser feito, mudado, construído, formado... Depois, quando percebes que ‘ser, dar e receber amor’ basta... Que não precisas de tudo aquilo a que tens acesso no teu quotidiano em Portugal, a nível material, e que não precisas de ser perfeita, a primeira, a melhor, a mais bonita, que não precisas de ser a mais bem-sucedida, para seres genuinamente amada... Quando entendes que o amor pode nascer só de ser e estar... É libertador! Foi muito importante também a nível pessoal, nesses termos. Por fim e não por último, quando passas por situações-limite em que vês vidas a depender de ti, do teu esforço, da resposta que consigas dar ou fazer ser dada, num contexto onde não há quase nada para o conseguir... E consegues! Só podes sentir gratidão! Costumo dizer que fomos muitas vezes instrumento de Deus para operar milagres. E não o digo com soberba. Vi-os a acontecer – ‘os milagres de Mahipa’, como dizíamos, eu e o António – e estarei sempre muito grata por isso. Ah! E é impossível que não saias de uma experiência destas a conhecer-te melhor. Porque és ‘testada’. Diariamente. A muitos níveis. Regressei com uma ideia muito clara do que sou e do que quero para mim, o que, ainda que sempre em mutação, é muito importante para este recomeço. Porque agora há que recomeçar muita coisa praticamente do zero. O que exige coragem e foco. Então, acho que sim, que o meu olhar sobre a vida mudou. Mudou muito. Relativizo. Aceito. Amo com menos medo. E estou muito grata – a Deus, à vida, à Missão e às pessoas que sabem que foram pilares durante todo este tempo.”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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