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Encontros de formação litúrgica no Patriarcado de Lisboa
Levar a liturgia a todos
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Em cada semana, numa paróquia perto de si, estão a decorrer os encontros de formação litúrgica preparados pelo Patriarcado de Lisboa para este ano pastoral dedicado à liturgia. Uma formação composta por cinco encontros vicariais, que têm tido grande adesão, e destinam-se a todas as paróquias. Fomos conhecer, na Vigararia da Amadora, o Tema 4, dedicado à Missa.

 

“Numa Celebração Eucarística, Cristo Jesus reconhece-Se em quatro modalidades de presença: Assembleia, Ministro Ordenado, Palavra proclamada e Espécies Eucarísticas, e torna-Se Ele o nosso alimento na mesa da Palavra e da Eucaristia”. É desta forma que tem início o quarto encontro de formação litúrgica, dedicado à ‘Missa – primeira parte’. Na igreja paroquial da Amadora, na tarde do passado Domingo, 6 de janeiro, o padre Ricardo Jacinto, pároco de Alguber, Cadaval, Figueiros, Painho, Peral e Vermelha, que está a colaborar com o Departamento de Liturgia nestes encontros, começou por abordar a estrutura geral da Missa, sublinhando que “fica expresso de modo claro que a Igreja se reúne à volta da sua mesa: da Palavra e da Eucaristia, estas ordenadas reciprocamente”.

Neste encontro dirigido às 15 paróquias desta vigararia (Alfornelos, Alfragide, Amadora, Belas, Brandoa, Buraca, Casal de Cambra, Damaia, Falagueira, Massamá, Monte Abraão, Queluz, Reboleira, São Brás e Venda Nova), o sacerdote salientou que, na Missa, é “a Palavra que conduz ao rito e explica-o”. “Sendo um tempo de verdadeira oração e não um mero tempo introdutório, a Palavra congrega e alimenta a fé dos que a guardam”, apontou. Sobre os diversos elementos da Missa, o padre Ricardo, de 41 anos, destacou a “relação próxima entre a Palavra e o gesto”, sublinhando ainda que o canto “não serve para animar”, mas tem como objetivo “unir a assembleia”, os gestos comuns são “sinal de união”, que “favorece a participação”, e o silêncio “promove a interioridade”.

 

Os ritos iniciais

Quando falamos da Missa, “é muito claro que ela tem duas partes: liturgia da palavra e liturgia eucarística”, sendo que “ambas as liturgias têm ritos prévios”. “A liturgia da palavra tem os ritos iniciais, e que a antecedem, e a liturgia eucarística tem depois os ritos da comunhão e os ritos finais”, começou por referir o padre Ricardo Jacinto, ao falar sobre as várias partes da Missa. “Seja os ritos iniciais, com a entrada, a saudação, o ato penitencial, o Kýrie, o Glória, a oração coleta, seja depois os outros ritos, têm esta capacidade, se os vivermos bem, de quando chegarmos às leituras podermos já estar ‘inteiros’ na leitura. Porque habitualmente, o corpo está cá, mas o coração demora um pouco mais a chegar. É preciso criar tempo, é preciso criar espaço para que o Senhor possa, de facto, se fazer presente no meio de nós”, lembrou.

O sacerdote orador explicou depois, de forma pormenorizada, cada um dos momentos da celebração, começando pela entrada. “A primeira condição para que aconteça Eucaristia é, diz o Missal romano, ‘reunido o povo’. Podem ser 400 pessoas, podem ser quatro senhoras piedosas, ou duas. Se estamos reunidos em nome de Cristo, aqueles que ali estão são o Corpo de Cristo”, recordou. Por outro lado, o cântico de entrada visa “predispor a assembleia a que se reconheça como Corpo de Cristo e a dar entrada àquele que vai presidir”, enquanto na saudação do altar “o celebrante reconhece que aquilo que vai fazer é participar da Páscoa do próprio Senhor Jesus”. A saudação do altar pretende ainda “auxiliar a assembleia inteira a tomar parte neste mesmo mistério”. De seguida, “naturalmente, temos o sinal da Cruz”. “Não é muito antigo este modo de começar a celebração, é dos finais da Idade Média”, ressalvou o sacerdote, salientando que este gesto é “a afirmação clara que nós vivemos a partir da Páscoa e da Cruz de Cristo”. As saudações que se seguem “devem ser a primeira palavra do celebrante para a assembleia” e são “retiradas das Cartas de São Paulo”.

O ato penitencial tem “três formas”, sendo “a mais usada a primeira, o normal: ‘Confessemos os nossos pecados’. Começamos assim a Eucaristia porque não é possível aproximarmo-nos do Senhor de ‘nariz empinado’. Ao longo da História da Salvação, Deus resiste aos soberbos e revela-se aos pequeninos”, acrescentou o padre Ricardo, sublinhando que o Kýrie, eleison – “as únicas palavras gregas de um tempo em que a liturgia era celebrada em grego” – é “uma aclamação cristológica” e o Glória in excelsis é “um antiquíssimo hino da Igreja à Páscoa de Cristo” que “não é possível substituir por nenhum outro texto”. Finalmente, a oração coleta, “para finalizar os ritos iniciais, quer coligir as intenções de toda uma assembleia reunida”.

 

A liturgia da palavra

Na liturgia da palavra “convém ter consciência que é o próprio Deus que fala”. “Independentemente daquele que empresta a voz ao Senhor, é Cristo que nos fala. O que está em causa é a palavra de Cristo, não é a pessoa”, reforçou, destacando o cuidado que deve haver “na preparação das leituras” e “na escolha dos leitores”. “Devemos estar todos mais ao serviço do que servirmo-nos a nós mesmos”, apontou este sacerdote.

Aos Domingos, habitualmente, “a primeira leitura é do Antigo Testamento, de alguma maneira tendo a ver com o Evangelho que vai ser proclamado, exceto no tempo pascal, em que é retirada dos Atos dos Apóstolos”. O Evangelho “é retirado de um dos evangelistas, São Mateus, São Marcos ou São Lucas, consoante o ano litúrgico, A, B ou C”. A segunda leitura “é das cartas apostólicas, de São Paulo ou de São João”, e é feita em leitura semi-contínua, ou seja, “começamos num livro e vamos lendo até acabar”, explicou o padre Ricardo Jacinto. “Com as leituras, oferece-se aos fiéis a grandeza de todo o tesouro da Palavra de Deus, sendo o Evangelho o ponto alto, porque é ali que desemboca toda a História da Salvação”, acrescentou, referindo ainda que “entre leituras há sempre um canto: entre a primeira e a segunda, há o salmo responsorial e, antes do Evangelho, há o canto do Aleluia ou outra aclamação cristológica, se for no tempo da Quaresma”.

Depois da proclamação da Palavra, temos a homilia. “Como nos ritos da comunhão existe o partir do pão para distribuir aos fiéis, a homilia podemos dizer que é o partir da Palavra para que cada um coma a sua parte e configure a sua vida com aquilo que escutou”, explicou o sacerdote, lembrando ser “oportuno observar, depois da homilia, um breve espaço de silêncio”. A profissão de fé, segundo este sacerdote, é “um rito que é afirmativo, da parte da assembleia”, que “diante da palavra proclamada e da consciência da sua vocação”, afirma publicamente, “como Povo”, a sua fé. O último momento da liturgia da palavra é a oração universal, ou oração dos fiéis, que é “a expressão mais visível de que esta assembleia é uma assembleia sacerdotal”, ou seja, “intercede diante de Deus em favor de todos”, referiu o padre Ricardo Jacinto.

É precisamente com a explicação deste momento da celebração que termina o Tema 4: ‘Missa – primeira parte’. A liturgia eucarística é depois desenvolvida no Tema 5: ‘Missa – segunda parte’, com que terminam os encontros de formação litúrgica propostos pelo Patriarcado de Lisboa para todos os cristãos da diocese.

 

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“Vejo com muita esperança os encontros de liturgia”

O diretor do Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa destaca “a grande adesão” que estão a ter os encontros vicariais de liturgia, que decorrem atualmente pela diocese. “A pedido do senhor Patriarca, para este ano da liturgia, foi preparada uma formação básica sobre liturgia, que consta de cinco encontros que se repetem em todas as vigararias do Patriarcado. Começámos no dia 1 de outubro, na Vigararia de Alcobaça, e temos tido uma grande adesão. Há vigararias onde estiveram 450 pessoas, outras 320-340, a média andará nas 200, com tendência para aumentar. Isto nos primeiros encontros, porque já começam a haver os segundos, os terceiros e mesmo os quartos”, refere o cónego Luís Manuel, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Sublinhando ter “muita esperança” neste ano pastoral dedicado à liturgia, este sacerdote considera que “as pessoas estão ávidas de saber e de perceber o que é a celebração, como fazer bem e aprofundar o mistério”. “Tenho constatado aquilo que era uma intuição minha, e que vi confirmado em vários liturgistas internacionais: a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, ao nível material, já está feita. O último livro a ser editado foi o Martirológio; de resto, os pontificais, o missal, os lecionários, os rituais, tudo foi publicado. Portanto, a primeira fase de aplicação da reforma, nos anos 80 e 90, foi um pouco o fazer, o saber fazer, o explicar como fazer, porque houve alguma mudança nalguns ritos e há toda uma postura da tradição que é preciso assumir e que é preciso dar continuidade. Agora estamos noutra fase, que é aprofundar a espiritualidade que brota dessa reforma. Isso é que é preciso fazer”, acentua o cónego Luís Manuel. “É preciso viver o âmago do mistério que celebramos, o que cada rito, oração, gesto e atitude corporal significam na celebração e porquê, e como nos ajudam a fazer essa comunhão com Deus na oração e na liturgia”, acrescenta, sublinhando que “isto é muito importante, porque quem reza é o homem completo: corpo, alma e espírito, como diz São Paulo”.

Os encontros de liturgia a nível vicarial vão-se prolongar “até abril, por altura da Páscoa”, e, no entender deste sacerdote, “têm ajudado nesta perceção”. “Estamos a trabalhar a espiritualidade litúrgica. Por isso, vejo com muita esperança estes encontros, rezo todos os dias por isto. Todo este trabalho tem que ser muito acompanhado com oração. Se for só pelos nossos méritos não se chega a lado nenhum. Se Deus não estiver nas coisas, se Deus não nos alimenta a nós e ao que fazemos… a obra é d’Ele. Não tenhamos ilusões e os frutos dos encontros de liturgia serão quando Ele bem achar”, assegura o cónego Luís Manuel, diretor do Departamento de Liturgia.

 

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Temas dos cinco encontros de formação litúrgica

Neste ano pastoral 2018-19, que tem como tema ‘Viver a Liturgia como lugar de encontro’, o Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa está a organizar cinco encontros de formação litúrgica, em cada uma das 18 vigararias da diocese, para todas as paróquias. Em cada edição, o Jornal VOZ DA VERDADE apresenta, na Agenda, na página 16, as datas e os temas dos encontros para cada semana. Neste artigo, deixamos o resumo de cada um dos cinco temas em reflexão.

 

Tema 1: ‘Introdução à Liturgia e Sacramentos’

A formação tem início com a referência à etimologia da palavra liturgia, passando à explicação da liturgia como acontecimento pascal. Neste primeiro tema são também aclarados alguns fundamentos teológico-litúrgicos, como ‘O Exercício do Sacerdócio de Cristo’, ‘A Liturgia como vértice e fonte da vida cristã’, ‘A Participação plena, consciente e ativa’ e ‘A epifania da Igreja’. Sobre os sacramentos, a reflexão explica, entre outros assuntos, o tríplice nível da fé nos sacramentos e os três níveis de sacramentos: iniciação cristã, cura e serviço da comunhão.

 

Tema 2: ‘A Liturgia no Tempo e no Espaço’

O segundo encontro de formação litúrgica foca o Ano Litúrgico e o Espaço Litúrgico. No Tempo Litúrgico (Dias litúrgicos e Ano Litúrgico), é referida a Constituição Conciliar ‘Sacrosanctum Concilium’ e a reforma do Ano Litúrgico, o Domingo, dia do Senhor - a Páscoa semanal, a Páscoa anual, o tempo da manifestação do Senhor, o Tempo comum e o ciclo das festas. Sobre o Espaço Litúrgico, é abordado o edifício da Igreja e os elementos do espaço litúrgico, como o altar, o ambão, o candelabro e Círio pascal, a cátedra, o sacrário, o batistério, os confessionários e as capelas da Ressurreição.

 

Tema 3: ‘A Celebração Eucarística ao longo da História’

A formação litúrgica vicarial prossegue com a temática ‘A Celebração Eucarística ao longo da História’, que se baseia na publicação ‘A Eucaristia faz a Igreja. Itinerário de catequeses sobre a Missa’, do padre Ildebrando Scicolone, osb, publicado pelo Departamento Litúrgico da Diocese de Roma e editado em português pelo Secretariado Nacional de Liturgia, e está dividida em sete pontos: Testemunho bíblico, Período pós-apostólico (séc. II-III), Séculos IV-VIII, Idade Média, Período da Reforma/Contra-Reforma, Movimento litúrgico e Reforma litúrgica.

 

Tema 4: ‘Missa – primeira parte’

Em ‘Missa – primeira parte’, é salientada a estrutura geral da Missa, passando pelos diversos elementos da Missa, como a Palavra - gesto e o canto, atitudes e silêncio. O encontro prossegue com as várias partes da Missa, como os ritos iniciais (entrada, cântico de entrada, saudação do altar e da assembleia, sinal da Cruz, saudação, ato penitencial, Kýrie eleison, Glória in excelsis e Oração coleta) e a liturgia da palavra (sendo explicado o silêncio, as leituras bíblicas, o salmo responsorial, a aclamação antes da leitura do Evangelho, a homilia, a profissão de fé e a oração universal).

 

Tema 5: ‘Missa – segunda parte’

Os cinco encontros vicariais de liturgia preparados pelo Patriarcado de Lisboa, e dinamizados pelo Departamento de Liturgia da diocese, terminam com o tema ‘Missa – segunda parte’, onde é abordada a Introdução Geral ao Missal Romano, com a Apresentação dos Dons, a Oração Eucarística (com a ação de graças, a aclamação, a epiclese, a narração da instituição e consagração, a anamnese, a oblação, as intercessões e a doxologia final), o Pai-Nosso, o Rito da Paz, a Fração do Pão, a Comunhão e os Ritos de Conclusão.

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