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“Deus fala à Igreja e ao mundo através dos jovens”

A participação responsável dos jovens na vida da Igreja não é opcional, mas sim uma exigência da vida batismal e é indispensável para a vida da comunidade cristã, sublinhou o bispo D. Joaquim Mendes, ao apresentar, no passado dia 11 de janeiro, as linhas gerais do Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, realizado em Roma entre 3 e 28 de outubro do ano passado.

 

“O fruto deste Sínodo, a escolha que o Espírito Santo inspirou, por meio da escuta e do discernimento, é o de caminhar com os jovens, ir ao encontro deles para testemunhar o amor de Deus”, adiantou D. Joaquim Mendes. Na apresentação do documento, no auditório da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, o Bispo Auxiliar do Patriarcado, responsável pela Comissão Episcopal do Laicado e Família, fez questão de acentuar a necessidade de a Igreja e as comunidades cristãs se converterem, mudarem de atitude e, sobretudo, de darem espaço aos jovens, que não são o futuro, mas já o presente.

D. Joaquim Mendes, um dos bispos portugueses presentes no Sínodo (juntamente com D. António Augusto de Azevedo, Bispo Auxiliar do Porto e presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios), e que fez uma intervenção sobre o ambiente familiar na Igreja, explicou o percurso sinodal e comentou o Documento Final.

Um Sínodo acompanhado a par e passo pelo Papa Francisco, escutando e tomando notas, disse. “O Papa recordou, por duas vezes, que o Sínodo não é um parlamento, mas um espaço protegido pelo Espírito Santo”, referiu, acrescentando que Francisco, na homilia final, concluiu que “o Sínodo foi uma boa vindima que promete dar um bom vinho”.

 

Preocupações dos jovens

Dos muitos temas abordados, nesta iniciativa do IDFC (Instituto Diocesano da Formação Cristã), D. Joaquim destacou as preocupações dos jovens com temas como a emigração, a família, a marginalização, a exploração, a injustiça, o ambiente digital, os abusos sexuais cometidos na Igreja. Sobre este último ponto (que recolheu mais votos negativos), foi referido que constituem um obstáculo “à missão da Igreja que é preciso reconhecer e ao que é necessário reagir”.

Os problemas do desenraizamento cultural, familiar e religioso provocados pela emigração, afetando muitos jovens, têm de ser encarados à luz dos “quatro verbos sinodais propostos pelo Papa: acolher, proteger, promover e integrar”.

 

Família

O Documento Final destaca ainda que a Família continua a ser um ponto de referência, muito valorizado pelos jovens. As famílias monoparentais são “fonte de sofrimento e de crise de identidade dos jovens”, pois muitos deles não sabem o que é uma família, indicou. “Na minha intervenção, fiz referência ao facto de hoje haver mais órfãos de pais vivos do que de pais defuntos”, disse.

 

O desejo de participar e a desconfiança

“Jesus continua a fascinar os jovens, que querem da Igreja uma liturgia viva, fresca, autêntica e alegre, manifestando o desejo de participar”, afirmou. Uma participação, “como dizia um bispo, que não seja para só arrumar cadeiras e fazer vendas para angariar fundos para as obras da igreja”, sublinhou, indicando que é aqui que surgem as grandes dificuldades nas comunidades paroquiais.

“Os jovens querem participar numa comunidade eclesial autêntica e fraterna, que seja uma verdadeira família. Estão disponíveis para assumir responsabilidades”, mas, acrescentou, “esta disponibilidade enfrenta por vezes um certo autoritarismo e desconfiança dos adultos e pastores, que não reconhecem suficientemente a criatividade dos jovens e têm dificuldade em partilhar as suas responsabilidades”.

É preciso reconhecer o dom da juventude, que não sejam “tidos como um peso, um estorvo, mas sim um dom para a Igreja” e “para a família eclesial”.

“O Papa falou muito nisto – Deus fala à Igreja e ao mundo através dos jovens, na sua criatividade, nos seus sonhos, anseios, generosidade, críticas e sofrimentos; pois se Deus fala, é necessário que nos abramos à escuta!”, disse.

 

Acompanhamento, não direção espiritual

Assume aqui um papel de relevo o acompanhamento que a comunidade cristã pode prestar aos jovens, já que para educar e evangelizar é necessária uma comunidade, uma família. “Desvinculamo-nos da expressão ‘diretor espiritual’, porque esta expressão ‘diretor’ sublinha o papel de quem dirige”, evoluindo para o conceito de acompanhamento, indicou D. Joaquim Mendes. “O acompanhamento é um processo que engloba três personagens: o acompanhante, o Espírito Santo e quem acompanha. É um caminho a três”, afirmou.

O Bispo Auxiliar de Lisboa sublinhou a terceira parte do Documento Final, que considerou mais propositiva, ao proclamar a necessidade de “viver em comunidade com os jovens, sentindo-os como membros da família eclesial, não como estranhos”. Por isso, o “caminho sinodal é o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milénio, é fonte de renovação para a Igreja. E a Igreja somos nós, somos todos”, jovens, adultos e idosos, pelo que é essencial “tornar efetiva a participação dos jovens em todos os lugares de responsabilidade nas estruturas da Igreja”.

 

Vídeo da apresentação disponível em www.facebook.com/vozdaverdade e em www.youtube.com/patriarcadolx 

 

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D. Joaquim Mendes testemunha ambiente do Sínodo
“O Sínodo decorreu num ambiente excelente, foi uma experiência eclesial de cordialidade, não éramos estranhos uns aos outros.”

“O Papa estava sempre no átrio, a acolher, a cumprimentar cada um, a tirar selfies, a dar a bênção, a falar connosco. Era um padre sinodal como nós, num ambiente de família, que é a realidade da Igreja. É esta realidade que somos chamados a oferecer aos jovens, uma proximidade e confiança.”

“Dia sim dia não, havia um encontro como a Comunicação Social. Sabemos que a ela só interessa os temas fraturantes. Este Sínodo não teve debates teológicos.”

 


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Caminho sinodal
Realizado entre 3 e 28 de outubro de 2018, em Roma, o Sínodo dos Bispos sobre ‘Os jovens, a fé o discernimento vocacional’ foi o ponto de chegada de um caminho iniciado dois anos antes.

Esse caminho teve seis etapas:

1 – Elaboração de um documento preparatório enviado às Conferências Episcopais, para traçar uma radiografia da situação dos jovens, com uma carta do Papa Francisco aos jovens, em janeiro de 2017, manifestando disponibilidade para os escutar e acolher as suas dúvidas e críticas.

2 – Lançamento de um questionário online, em seis línguas. Foram recolhidas 221.000 respostas, na maior parte provenientes do Uganda.

3 – Seminário Internacional sobre a Condição Juvenil, entre 11 e 15 de setembro de 2017, com a participação de 50 peritos e de 20 jovens de todo o mundo.

4 – Reunião pré-sinodal, entre 19 e 24 de março de 2018, com a presença de 300 jovens e especialistas, incluindo representantes de outras confissões, religiões e não-crentes. Portugal esteve representado por três jovens.

5 – Elaboração do Instrumentum Laboris, a verdadeira agenda do Sínodo, em seis línguas. O documento sintetizava o material recolhido nas etapas anteriores, com 214 artigos distribuídos por três partes: reconhecer, interpretar e escolher.

6 – Sínodo, entre 3 e 28 de outubro, com a presença de mais de duas centenas de bispos, além de responsáveis de várias estruturas da Igreja e de jovens, como auditores e observadores. O Sínodo prolongou-se por 22 congregações gerais e 11 sessões dos chamados círculos menores (trabalhos de grupo). Ao fim do dia, depois das congregações, havia um espaço para intervenções livres, em que cada participante tinha três minutos para falar.

 

O Documento Final, saído do Sínodo, inclui 167 números, divididos em três partes, sob a simbologia dos Discípulos de Emaús:

1ª parte – Pôs-Se com eles a caminho
2ª parte – Os seus olhos abriram-se

3ª parte – Voltaram imediatamente

 

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Próximos passos
O Documento Final vai ser formalmente recebido na Assembleia de Jovens, a realizar no dia 23 de fevereiro, no Seminário Diocesano de Leiria, organizada pelo Departamento Nacional da Pastoral Juvenil. Os destinatários são os responsáveis da Pastoral Juvenil de cada diocese e de movimentos de jovens. A participação dos jovens será paritária. A preparação deste encontro é feita por três jovens e por três padres.

Depois, cada comunidade tem de estudar o documento, ver a sua realidade, refletir e ver o que pode fazer.


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Mudar de atitude, dar espaço aos jovens, pede D. Joaquim Mendes

“As comunidades paroquiais têm de mudar de atitude. É o Sínodo dos Jovens que nos pede para mudar a atitude, dar espaço aos jovens. Ir ao encontro dos jovens, acolher, convidar.”

“Há que fazer um reencontro, entre jovens e adultos. É preciso dizer aos jovens que há um passado, que o mundo não começou com eles. E dizer aos adultos que há um futuro.”

“Damos espaço? Permitimos que entrem no grupo de leitores, no grupo coral? E nas outras estruturas também? Por exemplo, 25 por cento dos membros dos Conselhos Pastorais Paroquiais deviam ser jovens…”

“É preciso confiar, valorizar, dar espaço, arriscar. Já tivemos o nosso tempo… Temos de discernir para vermos como podemos fazer, como podemos ‘dar a volta’.”

“Esta conversão, esta mudança de atitude, não vai por decreto. Temos de rezar muito pela conversão uns dos outros.”

“Numa visita pastoral a uma paróquia, deslocando-me a casa de uma senhora doente, que rezava muito, a Dª Rosa, pedi-lhe para rezar pelo prior e por mim. ‘Ó senhor Bispo, eu rezo todos os dias pelos pecadores!’”

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