
Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». (Jo. 2, 1-5)
São Gaudêncio, bispo de Bréscia em Itália no séc. V, foi ordenado bispo por Santo Ambrósio. Distinguiu-se na pregação, dedicando duas homilias ao episódio das Bodas de Caná. Na sua homilia 9, refere:
Assim, a bem-aventurada Virgem Maria, tendo intuído o profundo mistério escondido nesta resposta [Ainda não chegou a minha hora], compreendeu que a sua presente proposta não tinha sido acolhida com desprezo, mas deferida, segundo a razão espiritual ínsita no mistério. Caso contrário, nunca teria dito aos servos: Fazei tudo o que Ele vos disser, se, estando cheia do Espírito Santo em virtude do parto divino, não só não conhecesse o poder da resposta de Cristo, mas também não previsse todo o desígnio segundo o qual Ele mudaria a água em vinho. Com efeito, o que é que poderia permanecer escondido à Mãe da Sabedoria, que foi capaz de trazer Deus no seu seio e que foi a sede digníssima de tão grande virtude?
Acertada a verdade histórica do facto, investiguemos agora as figuras propostas em sentido espiritual. Como, então, entendeste o significado da presença do esposo e da esposa, do dia e dos dias, das núpcias e do lugar, da falta de vinho e de que vinho, assim, assume também em sentido figurado a Mãe do Senhor, a fileira dos santos patriarcas e dos profetas, e de todos os justos, de quem, é dito no Evangelho, o próprio Senhor extraiu a origem da nossa carne… Por conseguinte, a Mãe do Senhor, geração de patriarcas e de profetas, intercedeu por nós, gentios, junto do eterno Filho de Deus e seu Filho segundo a carne, para que nos concedesse, a nós indigentes, a letícia do vinho celeste.
(Cl. CPL 215; PL 20, 899-902; CSEL 68, 75-79).
Severo, patriarca de Antioquia no séc. VI, é venerado como santo e mártir na Igreja copta. Apesar de se ter declarado monofisita, a sua posição doutrinal pode ser considerada muito próxima da ortodoxa. Na sua homilia catedral, 119, pregou:
Por isso, mesmo depois de ter dito a sua Mãe, pelo motivo anteriormente exposto, a palavra: Ainda não chegou a minha hora, imediatamente a seguir realizou um sinal, que não cabia de todo nas capacidades de alguém que estivesse sujeito à observância das horas preestabelecidas. Com isto, ao mesmo tempo, educa-nos e ensina-nos: a não desobedecer às mães quando nos ordenam algo de inoportuno, ainda que a nossa recusa possa parecer conveniente e muito agradável; a contentá-las prontamente com o que nos pedem, ou fazendo como nos ordenaram ou de algum outro modo; a não as deixar totalmente abandonadas à sua tristeza.
Observando as palavras com maior atenção, verifica-se que a Mãe de Deus, depois da concepção e, desde que começou a servir o mistério da «economia», estava cheia do Espírito Santo e conhecia antecipadamente o que iria acontecer. … Assim, a presciência do que estava para acontecer foi de algum modo comum a Jesus e a ela: a Jesus enquanto Deus, a ela enquanto agia como profetisa.
(Cl. CPG III 7035; PO 26, 382-384).
Foto: Pormenor do mosaico do baptistério de Nápoles (séc. IV)
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