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Sobreviver a oito anos de violência na Síria, mesmo no coração da guerra
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Ao fim de oito anos de guerra, as pessoas perderam a conta às bombas que caíram, aos prédios que desabaram, aos que morreram ou ficaram feridos. Ao fim de oito anos de guerra, há quem continue todos os dias a secar lágrimas, a curar feridas. A olhar pelos mais necessitados. Uma dessas pessoas é a Irmã Samia.


A guerra na Síria começou em Homs. Foi por lá que se escutaram os primeiros tiros, os primeiros bombardeamentos. Foi por lá que desabaram os primeiros prédios. Foi por lá que se escutaram os primeiros gritos de dor, que se viram as primeiras pessoas a serem levadas à pressa para os hospitais, tantas vezes já sangrando, já moribundas. A guerra foi de tal forma violenta em Homs que ainda hoje, oito anos depois de tudo ter começado, há vestígios dos combates como se fossem despojos do campo de batalha que ficaram por retirar. O entulho dos prédios que ruíram é a metáfora perfeita para uma guerra que ainda não acabou. Para a Irmã Samia Ayiej, a guerra só terminará quando conseguir secar todas as lágrimas de todas as pessoas que lhe batem à porta. Muitas vezes, essas pessoas precisam apenas de dois dedos de conversa, de um abraço amigo, de um sorriso contagioso. A Irmã Samia não é enfermeira, mas passa os dias a curar feridas. A curar as feridas mais difíceis, as que se escondem no fundo da alma.

 

Energia contagiante

A Irmã Samia parece ter uma energia inesgotável, contagiante.  Quando ela sai de casa e atravessa a rua, parece que a guerra está prestes a explodir de novo. Por todo o lado, há cicatrizes dos tempos em que o céu se escurecia com o rebentar das bombas e as pessoas, em fuga, tentavam salvar a própria vida. Perto do centro da cidade de Homs, ao sul do chamado Bairro Velho, fica a igreja de Altip. É aí, ao lado da igreja, que funciona uma escola dirigida a crianças com deficiência mental. A Irmã Samia é a directora da escola. Aquelas crianças e jovens não têm praticamente mais ninguém. As irmãs, que os acolheram, são agora a sua família. A guerra, todas as guerras, revelam o pior e o melhor das pessoas. Ao mesmo tempo que soldados varriam os céus despejando bombas sobre Homs, outras pessoas afadigavam-se a socorrer feridos, a resgatar vizinhos encurralados nos escombros dos prédios, a acolher os que ficaram sem casa, sem família, sem nada.

 

Gestos solidários

A Igreja de Altip e a escola da Irmã Samia também não escaparam à violência dos bombardeamentos. Uma vez, as explosões arruinaram grande parte do telhado da escola. E logo acorreram vizinhos e amigos, e todos deram as mãos para reparar a cobertura, pois a escola era também porto de abrigo para os que iam ficando de dia para dia com as mãos vazias, sem nada para comer, sem dinheiro para os medicamentos, sem lugar onde dormir. Hoje, ao acolher aquelas crianças e jovens, a Irmã Samia está a devolver também um pouco esse gesto solidário de tantas pessoas que acorreram para consertar o telhado da escola. “Nós temos de ajudar a curar as feridas no coração das pessoas. O mais importante de tudo é a oração.”

 

Uma palavra: cuidar

Para a Samia Jriej, que pertence à congregação das Irmãs do Sagrado Coração, não há novos nem velhos, nem homens ou mulheres, nem amigos ou inimigos. Há pessoas e feridas para curar. Foi assim nos dias mais tumultuosos da guerra e continua a ser assim no dia-a-dia. Para a Irmã Samia, tudo se resume quase a uma palavra: cuidar. “Homs é uma cidade que foi destruída ao longo dos oito anos de guerra. É por essa razão que muitas famílias perderam a esperança. Mas, apesar da destruição que ainda é visível nesta cidade, há muito que se pode reconstruir. Sou religiosa e a nossa missão é cuidar dos mais necessitados.” E entre os mais necessitados estão aqueles jovens, aquelas crianças com deficiência mental. A Irmã Samia é para eles mais do que uma irmã. É mãe e pai ao mesmo tempo. É a amiga. Ela sorri e eles sorriem com ela. Eles sabem que ali estão bem, estão protegidos. Ao fim de oito anos de guerra há quem continue, todos os dias, a secar lágrimas, a curar feridas. Uma dessas pessoas é a Irmã Samia. Quando se lhe pergunta como consegue ter tanta energia, como consegue estar sempre sorridente, amável, disponível para os outros, a Irmã Samia diz que é muito simples, que é muito fácil. Tudo se consegue com a oração. “A oração é a parte mais importante.”

 

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A Congregação das Irmãs do Sagrado Coração é apoiada directamente pela Fundação AIS. Quer ajudar a Irmã Samia nesta missão junto das populações mais necessitadas de Homs, na Síria?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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