Liturgia |
Os Padres da Igreja ao ritmo da Liturgia
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho»
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«Porque em Mim confiou, hei-de salvá-lo; / hei-de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.

Quando Me invocar, hei-de atendê-lo, / estarei com ele na tribulação, / hei-de libertá-lo e dar-lhe glória». (Sl. 90 [91], 14-15)

São João, bispo de Constantinopla e doutor da Igreja no final do séc. IV, que, nascido em Antioquia e ordenado sacerdote, mereceu pela sua eloquência sublime ser chamado Crisóstomo. Foi grande pastor da Igreja e mestre da fé. Condenado pelos seus inimigos ao exílio, entregou a sua alma a Deus no dia catorze de Setembro de 407, em Comana, no Ponto, hoje Gumenek, na Turquia. Entre os anos 386 e 387, como presbítero em Antioquia, proferiu diversas homilias. Neste excerto da Homilia, 3, apresenta-nos o sentido da celebração da Quaresma:

Páscoa e Quaresma não são a mesma coisa. A Páscoa é uma coisa, e a Quaresma é outra. A Quaresma celebra-se apenas uma vez no ano; a Páscoa, ao contrário, três vezes na semana, mas também quatro vezes, ou antes, todas as vezes que se quiser. Com efeito, a Páscoa não consiste no jejum, mas na oblação e na imolação que se faz em cada sinaxe. Para saberes que é assim, escuta Paulo que diz: Cristo, nossa Páscoa, foi imolado por nós; e também: Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor. Por isso, sempre que te aproximas de consciência pura, fazes a Páscoa: não quando jejuas, mas quando tomas parte no sacrifício. De facto, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor. A Páscoa consiste em anunciar a morte do Senhor. Por isso, o sacrifício que oferecemos hoje é aquele que foi cumprido ontem, e aquele que se faz cada dia é o mesmo sacrifício que aconteceu naquele dia da semana: em nada aquele era mais santo do que este; em nada este é menos digno do que aquele, mas único e idêntico, igualmente tremendo e salutar.

Por que motivo, diz-me, jejuamos durante estes quarenta dias? Nos tempos passados, muitos chegavam aos sagrados mistérios de maneira ousada e sem preparação, principalmente nestes dias em que Cristo no-los entregou. Como os Padres entenderam o mal que resultava de alguém se aproximar dos mistérios de forma descuidada, reuniram-se e designaram quarenta dias de jejum, orações, sermões e reuniões, para que, purificando-nos com diligência pelas orações, as esmolas, o jejum, as vigílias, as lágrimas, a exomologese e todas as outras coisas, nos aproximássemos de consciência pura segundo a nossa capacidade. É evidente que fizeram algo muito importante com esta sua decisão e conseguiram que nos habituássemos a jejuar. Porque certamente, mesmo que não cessássemos, durante todo o ano, de clamar e pregar o jejum, ninguém atenderia às nossas palavras, ao passo que, quando chega o tempo da Quaresma, mesmo que ninguém pregue nem aconselhe, até os mais negligentes se entusiasmam ... Por isso, se um judeu ou um pagão te perguntar por que jejuas, não lhe digas que é pela Páscoa ou pela cruz ... Não jejuamos pela Páscoa e pela cruz, mas pelos nossos pecados e porque nos vamos aproximar dos mistérios. Aliás, vista de outro modo, a Páscoa não é tempo de jejum e de luto, mas de gozo e de alegria.

(Cl. CPG 4394; PG 48, 813-856; Antologia Litúrgica 2588)

 

Exomologese – penitência pública dos pecados

Sinaxe – assembleia reunida

 

 

Foto:

A Cruz «Árvore da Vida»

Pormenor da abside da Basílica de São João de Latrão, Roma

Basílica dedicada no primeiro quartel do séc. IV

 

Departamento de Liturgia do Patriarcado de Lisboa
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