Nasceu no Ruanda, viveu no Brasil e morreu no Iémen. Foi assassinada juntamente com três outras irmãs das Missionárias da Caridade, apenas por causa do fanatismo religioso. A sua história é comovente. E inspiradora…
Tinha 44 anos. Foi assassinada a tiro, juntamente com mais três irmãs quando um grupo de radicais islâmicos invadiu o convento e o albergue de idosos e deficientes onde vivia e trabalhava, em Áden, no Iémen. Margarida, a Irmã Margarida, pertencia às Missionárias da Caridade. Viveu quatro anos no Brasil, há quase duas décadas, e aí aprendeu também a rezar em português. A sua simplicidade contagiante deixou marcas. O Arcebispo de Salvador conheceu-a nesse tempo, quando ela esteve em missão em várias favelas “para trabalhar com pobres e idosos abandonados”. D. Murilo Krieger garante que ainda hoje há pessoas que se lembram dela com saudade. Pessoas que se recordam da Irmã Margarida, de pequena estatura, mas sempre muito alegre. “Gostava de brincar com as crianças e de visitar as famílias. Onde ia, preocupava-se em ensinar a oração do Terço.”
Guerra no Iémen
4 de Março de 2016. Áden, no Iémen. Apesar do ambiente de violência que se vivia no país, ninguém imaginava o que iria acontecer. O Iémen, localizado no sul da península arábica, está mergulhado desde 2014 num conflito armado brutal entre a guerrilha xiita dos huties e o Governo sunita, apoiado por uma coligação liderada pela Arábia Saudita. Calcula-se que mais de 16 mil pessoas tenham morrido em consequência dos combates, mas esse é apenas um dos balanços desta guerra. A crise humanitária afecta milhões de pessoas. Há fome. Ninguém é poupado, nem as crianças. É neste contexto extremamente duro e agressivo que as Missionárias da Caridade continuavam a assumir o seu trabalho em Áden. Um trabalho junto de idosos e de pessoas deficientes. Um trabalho que foi interrompido abruptamente no dia 4 de Março de 2016. Ninguém imaginaria o que estava para acontecer.
Testemunho impressionante
Margarida e as outras quatro irmãs já conheciam bem o barulho das bombas a cair, os prédios a estremecer. Margarida e as outras irmãs da congregação da Madre Teresa de Calcutá até escreveram sobre isso. Foi uma carta enviada em Junho de 2015. Uma carta que foi revelada depois do assassinato das quatro irmãs. Uma carta que é um relato quase jornalístico da violência da guerra. Uma carta que é, acima de tudo, um testemunho impressionante da dedicação daquelas irmãs à comunidade local. “Os bombardeamentos continuam, os disparos ocorrem por todos os lados e temos farinha só para hoje. Como faremos para alimentar amanhã os nossos pobres? Com confiança amorosa e abandono total, nós cinco corremos para a nossa casa, também quando o bombardeamento é forte. Às vezes, refugiamo-nos debaixo das árvores, pensando que esta é a mão de Deus que nos protege.” Na carta, fala-se em cinco irmãs. A comunidade das Missionárias da Caridade era composta por cinco religiosas. No dia 4 de Março de 2016, durante o ataque jihadista, quatro foram assassinadas e uma conseguiu esconder-se, escapando com vida. Regressemos à carta: “Em seguida, corremos novamente para ajudar os nossos pobres que nos esperam serenamente. São muito idosos, alguns não vêem, outros têm deficiência física ou mental. Rapidamente iniciamos o nosso trabalho limpando, lavando, cozinhando, utilizando os últimos sacos de farinha e as últimas garrafas de óleo, precisamente como a história do Profeta Elias e a viúva.”
A última oração
Dia 4 de Março de 2016. O ataque começou passavam trinta minutos das oito horas da manhã. O Arcebispo de Salvador fez questão de saber como morreu a Irmã Margarida que tanto estimava. “Ela e outras três religiosas da sua comunidade e mais 12 pessoas que as ajudavam foram assassinadas”, por terroristas muçulmanos, “enquanto serviam o café da manhã aos idosos e deficientes, no albergue de Áden.” Morreram com os aventais vestidos. Estavam a servir o café. Foram assassinadas a tiro. Um pouco antes, como faziam sempre, as cinco irmãs rezaram. Como sempre, fizeram o mesmo pedido diante da cruz. “Senhor, ensina-me a ser generosa. Ensina-me a servir-te como tu mereces; a entregar-me sem calcular as dificuldades; a lutar sem prestar atenção às feridas; a esforçar-me sem procurar descanso; a trabalhar sem pedir recompensa, sabendo apenas que faço a tua vontade.” Na carta, revelada depois do assassinato, as irmãs contavam que, quando os bombardeamentos eram mais fortes, se escondiam debaixo das escadas, as cinco, sempre juntas. “Vivemos juntas, morremos juntamente com Jesus e Maria, nossa Mãe.” Viveram e morreram juntas. Apenas uma das irmãs não foi assassinada. Ainda hoje a Irmã Margarida é recordada pela sua generosidade. Sempre sorridente, sempre afável, sempre disponível. Viveu doando-se completamente. Morreu como mártir.
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A Irmã Margarida é exemplo de quem levou a fé até às últimas consequências. Ajudar as Irmãs a cumprirem o seu trabalho junto dos mais pobres da sociedade é uma das missões da Fundação AIS. Quer ajudar-nos?
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