Lisboa |
Visita Pastoral à Vigararia Lisboa II: encontro com a Pastoral Litúrgica
A liturgia é “a alma da vida cristã”
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No encontro que reuniu os agentes da Pastoral Litúrgica da Vigararia Lisboa II, o Cardeal-Patriarca pediu uma maior “consciência” da “liturgia como oração comunitária” e desafiou as comunidades cristãs a reunirem-se para rezarem a partir da Liturgia das Horas.

 

“Quando nos reunimos, em nome de Jesus, para louvar o Pai, isso é comunitário e, por isso, é litúrgico. A liturgia distingue-se da oração pessoal porque é comunitária. Uma coisa enriquece a outra”, começou por evidenciar o Cardeal-Patriarca, no encontro que juntou os agentes da Pastoral Litúrgica, no passado dia 14 de março, na Paróquia de Santo Eugénio, na Vigararia Lisboa II. Depois de uma apresentação sumária da realidade litúrgica existente na vigararia, que passa por leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, zeladores das igrejas, cantores e ministros extraordinários das exéquias, entre outros, D. Manuel Clemente reconheceu que o desafio de compreender a dimensão comunitária da oração é grande, mas só assim se pode avançar. “Os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a rezar. E Ele ensinou-lhes o Pai Nosso! Muitas vezes dizemos as orações muito depressa e não estamos a ver bem o que elas querem dizer... O Pai Nosso é um programa!”, afirmou. “Jesus veio a este mundo compartilhar connosco a sua maior riqueza que é o Seu ‘Abba’ – Pai. Isto é tão importante que se nós nos dispusermos verdadeiramente a rezar como Jesus ensina, o caso muda de figura”, assegurou, sublinhando que na oração que cada um faz, “mesmo quando reza para si”, está a rezar “no plural”: “Pai NOSSO; venha a NÓS; perdoai-NOS; livrai-NOS... Isto é tão importante na oração cristã que, depois, se alarga”, afirmou.

 

Povo de Deus e Corpo de Cristo

A importância de os cristãos se reconhecerem como um só Povo, é determinante para a vivência da liturgia, salientou o Cardeal-Patriarca, lembrando que “o sujeito da liturgia é o Povo de Deus”. “Somos o Povo de Deus, aqueles que partilhamos a fé de Abraão em Deus. Dezoito séculos depois, quando Jesus aparece no mundo, Ele vai alargar aquele Povo, aqueles que, sendo de todas as raças, tamanhos e feitios, compartilham o Espírito que Ele oferece. Somos nós! Recebemos, no Batismo, o Espírito de Jesus Cristo e, por isso, fazemos parte deste Povo de Deus alargado. Isto é muito importante porque a liturgia é a oração do Povo de Deus”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, pedindo aos cristãos uma maior adesão à oração da Liturgia das Horas (ver caixa).

No terceiro encontro vicarial desde o início da Visita Pastoral, D. Manuel Clemente refletiu também sobre a palavra “Corpo” e as conotações erróneas que facilmente lhe são atribuídas. “São Paulo lembra que todos nós somos o Corpo de Cristo. Vale a pena pensar um pouco no que estamos a dizer quando falamos em ‘Corpo’. A palavra ‘corpo’ é uma das palavras mais mal usadas da nossa linguagem corrente. O corpo é a manifestação da pessoa. O corpo somos nós em comunicação”, apontou o Patriarca de Lisboa, apelando igualmente ao encargo missionário que é pedido a cada cristão: “A boca que, hoje, Cristo tem para falar é a nossa, os olhos que, hoje, Cristo tem para ver, são os nossos, as mãos que Cristo tem para estender são as nossas. Mas que responsabilidade! Além de sermos o Povo de Deus, somos o Corpo de Cristo”.

Através deste ‘Corpo’, onde vários cristãos se integram, cada um é um órgão e é importante que, com harmonia, faça funcionar o conjunto. “É tão importante perceber isto na prática: que nas nossas assembleias, os vários órgãos do mesmo Corpo, tenham todos o seu lugar e que tudo funcione no seu conjunto. E isso começa logo pelo acolhimento… Tudo isso é celebração. É este Corpo, no seu conjunto, que celebra. É tão importante a proclamação da Palavra como a escuta… e criar condições para que se escute. A nossa atenção ajuda a atenção dos outros”, afirmou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, lembrando a forma como pequenos gestos, em criança representaram tanto para a sua formação: “A maneira como eu via, desde criança, em tantas pessoas da igreja, as formas como participavam, a maneira como estavam, isso, para mim, foi tão educativo como as catequeses que ouvi”. A estes agentes pastorais, D. Manuel Clemente alertou ainda para o facto de, neste Corpo, “não haver lugar para exibicionismos”. “O Corpo tem de ser harmónico. A liturgia tem uma harmonia própria do corpo, que funciona em conjunto”, referiu.

 

Habitados pelo Espírito

No encontro que reuniu os agentes litúrgicos das paróquias que compõem a Vigararia Lisboa II (Beato, Chelas [apenas administrativa], Marvila, Moscavide, Olivais, Olivais Sul, Parque das Nações, Portela, Santa Beatriz da Silva, Santo Eugénio, Vale de Chelas), o Cardeal-Patriarca refletiu também sobre outra designação para Assembleia e Povo de Deus que celebra: “Templo do Espírito Santo”. “Estamos habitados por aquele Espírito que Jesus compartilha com o Pai, que desceu sobre Jesus, no Rio Jordão. O Espírito de Jesus Cristo está em todos nós, nós somos o seu templo. Mas que responsabilidade, caros amigos! Tudo isto é tão importante que, se funciona bem, se cada um faz o que tem a fazer, se todos, em conjunto, estamos como membros de um só corpo, isto pega-se porque depois cria o ambiente que é exatamente esse Espírito que nos habita como templo”, apontou D. Manuel Clemente, concluindo com o desejo de se ganhar a consciência de que “a liturgia é a oração comunitária que fazemos em Cristo, no Espírito de Cristo, para louvor do Pai”. Assim, “com a certeza de viver bem estas dimensões, para as distribuir melhor”, a liturgia é “a alma da vida cristã”, assegurou.

 

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Liturgia das horas: um tesouro por aproveitar

No encontro da Pastoral Litúrgica da Vigararia Lisboa II, o Cardeal-Patriarca lamentou o facto de não existirem mais comunidades cristãs que se reúnam para rezar a partir da Liturgia das Horas. “Tenho pena, quando passo pela nossa cidade e vejo algumas igrejas fechadas, por não haver, na comunidade cristã, gente que reze as orações da Liturgia das Horas. Nós temos, em Portugal, um grande número de cristãos que já não está na vida ativa, laboral... Porque não oferecemos a Liturgia das Horas, de maneira simples, nas nossas igrejas?”, questionou. “Nós temos tesouros que não aproveitamos e não oferecemos. Já há alguma coisa, mas ainda é muito pouco daquilo que pode haver”, revelou. Quando cada cristão reza, através da Liturgia das Horas, que “não é destinado apenas ao clero”, “sabemos que estamos a rezar as orações de milhares e milhares de cristãos por todo o mundo”. “Isto dá-nos um sentido de pertença muito forte”, sublinhou D. Manuel Clemente.

 

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“Bem celebrada, a liturgia tem resultados precisos”

O especial cuidado com a liturgia foi também sublinhado na carta que o Cardeal-Patriarca de Lisboa dirigiu aos diocesanos, no início deste ano pastoral que é dedicado a ‘Viver a liturgia como lugar de encontro’. O documento (http://bit.ly/carta_18_19), que também foi referido no encontro da Pastoral Litúrgica na Vigararia Lisboa II, aponta alguns pontos a “progredir”, através da formação litúrgica das comunidades cristãs.

“«Além da beleza dos espaços e dos ritos, da música e do canto, a celebração da fé é chamada a educar para a interioridade, para a comunhão e para o silêncio, criando momentos que disponham à escuta de Deus. É necessário cuidar sempre da formação litúrgica das comunidades, para que tanto os que exercem ministérios, como toda a assembleia, entrem em diálogo com o Senhor. É, por isso, de grande utilidade uma permanente catequese mistagógica que introduza toda a comunidade na vivência dos tempos litúrgicos e na compreensão dos seus símbolos e ritos». 

Podemos tomar este trecho como um conjunto de alíneas programáticas: A) Qualidade do espaço e da celebração. B) Comunidade que escuta realmente o seu Deus. C) Formação e mistagogia para entender o que se celebra.

Temos de progredir em todos estes pontos. A qualidade da celebração liga-se ao respeito pela sua natureza, como a Igreja a dispõe nos livros litúrgicos, que condensam séculos de experiência orante, com várias possibilidades e aplicações concretas. Vale pela oportunidade e o estímulo que dá a todos e a cada um para acolher a Deus, na Palavra escutada e na oblação de Cristo, por nós e para nós. Desdobra a sua Páscoa num ciclo anual que a prepara e repercute na vida da Igreja e para a vida do mundo.

É fundamental compreendermos e exercitarmos tudo isto e antes de tudo o mais. Ainda bem, se dispomos de bons espaços, de bons leitores e cantores, de ministros bem formados e competentes. Mas é imprescindível que em cada celebração a Palavra seja realmente escutada e assimilada e os ritos sejam entendidos como gestos de Cristo no seu corpo eclesial. A Liturgia não é ocasião para protagonismos que nos distraiam da ação essencial de Cristo, que acolhe a vontade do Pai e a isso nos leva, pelo Espírito.

Bem celebrada, a Liturgia tem resultados precisos. Se, por exemplo, levarmos muito a sério o ato penitencial com que começa a Santa Missa, pedindo convictamente o perdão de Deus para os nossos pecados “por pensamentos e palavras, atos e omissões”, cresceremos muito mais em verdadeira conversão evangélica, como sempre urge e particularmente hoje em dia. Se ouvirmos atentamente as Leituras bíblicas, perceberemos muito melhor as aclamações “Palavra do Senhor” e “Palavra da salvação”, bem como a sua necessária repercussão na nossa vida. Se, no início da Oração Eucarística, cantarmos “Santo, Santo, Santo…” com sentimento e melodia correspondentes à profunda reverência com que o profeta tal ouviu diante de Deus (cf. Is 6, 3), estaremos mais preparados para o memorial da morte e ressurreição de Cristo, que a seguir se faz. Se nos saudarmos realmente “na paz de Cristo”, entenderemos melhor que só desta se trata, naquele momento essencial de comunhão com Ele e a partir dele. Se assim celebrarmos a Santa Missa, melhor efetivaremos o “Ide!” missionário com que ela nos envia a alargar a “paz” que recebemos.    

Estas e outras concretizações litúrgicas podem ser aprofundadas ao longo deste ano pastoral, comunidade a comunidade. Também os vários Rituais são excelente base de aprendizagem e ensino, com as respetivas introduções e notas. Ganharemos muito se o fizermos, porque a Liturgia devidamente preparada e celebrada é uma grande escola de oração e vida em Cristo.”

in ‘Carta aos diocesanos de Lisboa, no início do ano pastoral 2018-2019’

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