Missão |
Carolina Oliveira, Grupo Missionário Ondjoyetu
“A missão só é possível em comunidade”
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Carolina Oliveira nasceu a 25 de abril de 1987 em Fronteira, no concelho de Portalegre. É licenciada em Terapia da Fala pela Escola Superior de Saúde de Aveiro e Mestre em Ciências da Fala e da Audição pela Universidade de Aveiro. Esteve em missão por um mês no Gungo (Angola) com o Grupo Missionário Ondjoyetu.

 

Desde os sete meses de idade que vive no concelho de Condeixa-a-Nova, tendo feito o 1º ciclo na Escola Primária da Anobra, o restante Ensino Básico na EB 2, 3 e o Ensino Secundário na Escola Secundária Fernando Namora, sempre no mesmo concelho. “Lembro-me de quando estava a terminar o secundário e na altura de escolher o curso, a psicóloga da escola dizer: ‘A Carolina tem que ter uma profissão de contacto das pessoas, tem que ter uma profissão que lhe permita comunicar com os outros’. Não me lembro exatamente o resto da história, mas sei que foi por causa disso que cheguei à terapia da fala”, partilha. Fez a catequese na Paróquia da Anobra, onde recebeu a Primeira Comunhão e, alguns anos mais tarde fez a Profissão de Fé e a Confirmação. Diz-nos que “embora a minha avó seja a sacristã da igreja da minha aldeia, nunca fui muito ativa na minha comunidade religiosa.” Em 2009, devido ao seu primeiro emprego, regressa às suas origens: “O meu primeiro local de trabalho foi numa escola em Portalegre, concelho de onde sou natural, onde estive a trabalhar durante um ano. Volto a Condeixa-a-Nova em 2010 para trabalhar em Coimbra. Em dezembro de 2015 rumo ao algarve, Faro, mais uma vez por questões de trabalho, onde estive um ano e onde conheci a Mónica, alguém que será um elemento marcante de toda a minha história. Comecei o meu percurso profissional em 2009 numa escola de Portalegre. Em 2010, começo a trabalhar numa Unidade de Cuidados Continuados em Coimbra. Entre 2012 e 2015, trabalho no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais, Tocha. De dezembro de 2015 a dezembro de 2016, trabalho no Centro de Medicina de Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel. Em janeiro de 2017 começo a trabalhar no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde me encontro a trabalhar até ao momento. Se for para falar de desafios, trabalhar num hospital central, onde há uma constante entrada de novos doentes, é sem dúvida o maior desafio da minha vida profissional até ao momento. Perante o ritmo frenético que se vive num hospital, o cuidado e a humanidade com que se lida com os doentes parece impossível de se manter, sendo quase totalmente diluída por este ritmo. A alegria de viver nos corredores de um hospital também não é fácil de se ver, e quando um doente, no meio de todas as suas angústias, dores e sofrimento, nos devolve um sorriso, sentimos que temos o nosso dia feito.”

 

“Destinada a ser voluntaria missionária”

Em outubro de 2015, foi a uma sessão de apresentação dos Leigos para o Desenvolvimento e partilha: “Desde que me lembro de fazer planos para o futuro que fazer voluntariado em África fazia parte da minha lista, e por isso quando vi o evento simplesmente achei que devia ir. Depois dessa sessão de apresentação fui às reuniões e comecei a ver as férias para conseguir ir a todas a atividades de preparação para uma possível missão. Em novembro soube que tinha ficado com um lugar a que me tinha candidatado há vários meses e que era uma excelente oportunidade profissional. Isso fazia com que eu tivesse que me mudar para o Algarve logo no mês seguinte. Nesse momento lembro-me de sentir que a vida nos dá, na maioria das vezes, aquilo que nós pedimos, mas nem sempre é na altura em que o pedimos. Estas duas "missões" tinham surgido ao mesmo tempo e eu só podia abarcar uma de cada vez. Esperando não estar a optar pela errada, escolhi a opção profissional. No Algarve, no dia em que assino contrato de trabalho, conheço a Mónica e em menos de um mês já estava a ir ao jantar de aniversário dela. Em três anos estava a partir com ela para África.” Em 2016, já no Algarve, a sua amiga Mónica partiu em missão pelo Grupo Missionário Ondjoyetu. “Foi ao saber desta missão da Mónica que eu senti que aquele meu objetivo de fazer voluntariado internacional me pareceu real e não apenas um sonho. De repente senti que tinha mesmo, mesmo que ir. Se a missão me tinha vindo encontrar no sul do país, mesmo depois de eu a ter deixado por outros objetivos e a km de distância, é porque ela estava destinada a acontecer e eu estava destinada a ser voluntaria missionária”, partilha.

 

“O Gungo é um lugar mágico”

Sobre o que veio a seguir, partilha na primeira pessoa: “Já em Coimbra comecei a ir às reuniões do Grupo Missionário Ondjoyetu, a ouvir os testemunhos das pessoas que já tinham estado em missão, a fazer as sessões de preparação, a ir a algumas formações da FEC (conseguir disponibilidade para ir era tipo jogo de tetris e não consegui ir a todas as que queria e achava que devia, infelizmente!). Tudo começava a soar a real, mas só quando vi o bilhete de avião com a data de 17 de dezembro é que acreditei mesmo que ia partir em missão. Nesse momento comecei a questionar-me as razões para querer ir, quer internamente quer pelas pessoas que me rodeavam. É difícil explicar quais são as razões que me levavam a querer partir em missão, nem sequer se o queria fazer razões certas, mas como me disse um dia o Pe. Joaquim numa das sessões de preparação, só podemos estar felizes por termos sido escolhidos para uma tão bonita missão, e isso, na verdade, bastava-me. Quando aceitei isto, a ideia de partir em missão era sentir que desde que nos lembramos que estamos a ser preparados para ir. Lembro-me de nos meses que antecederam a minha ida, tudo o que era desafiante eu acabava a dizer “faz parte da preparação para ir em missão” e ficava inteiramente feliz. Dia 24 de dezembro à noite, as luzes da minha casa estão ligadas e a música que se faz ouvir é o Jingle Bells, não, é o Santa Claus Is Coming to Town. Eu estou no meio das montanhas do Gungo, envolvida por uns cânticos em umbundo ao som de batuques com ritmos que nem sabia existirem. A missa do galo é uma missa campal, partilhando o espaço com as galinhas e os cabritos. Não há luzes de natal e esta foi das noites mais iluminadas que já vivi, e foi real. Durante um mês a Mana Mónica, a Mana Inês, o Pe. David, a Mana Teresa, a Mana Sílvia, o Mano Carlos e o Avô Filipe foram a minha família, e é com ela que aprendo que a missão só é possível em comunidade, e que, de alguma forma, eu ficarei ligada a estas pessoas para o resto da vida. Na Missão do Gungo fazemos o que for preciso e todas a tarefas são essenciais para a manutenção da missão. Desde ir buscar água em bidões de 20 litros, até colocar pedras numa ponte para esta não ruir, passando por dar consultas, debulhar milho [para fazer fuba que depois virará funge], ir encher as bacias e os baldes com a água das chuvas que está no poço, fazer o inventário da cantina, ajudar a amassar o pão, carregar o Unimog com terra para usar no BTC (Blocos de terra comprimida). A missão é tanta coisa que nem sei exatamente o que escrever. Quando me diziam, nas sessões de preparação, que só entenderíamos efetivamente a missão quando lá chegássemos, eu achava estranho, mas não podia ser mais verdade. Depois de um mês, a 16 de janeiro, regresso a Portugal com o coração a transbordar. De alegrias, amor, tristeza e preocupações por aquele povo que precisa de tanto e ainda assim nos retribui sorrisos maiores que eles próprios. Ninguém vai em missão e regressa de lá igual ou indiferente. Agora já consigo dizer, o Gungo é daqueles lugares mágicos onde utopias se confundem com realidade e de onde nunca regressamos mesmo depois de lá sairmos. Estar em missão no Gungo é cortar um bocadinho do pano angolano que trazemos sempre connosco para atar um cordão umbilical de um recém-nascido e deixá-lo lá, para sempre.”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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