
As imagens de Jesus como “Bom Pastor” tiveram uma grande importância nos primeiros séculos do cristianismo, (basta recordar a sua presença nas catacumbas romanas) pois expressam o cuidado de Jesus pelos seus, o serviço e entrega total até à entrega da sua vida. A pouco e pouco, esta imagem foi perdendo relevância, associada à conotação de “rebanho” de cristãos pouco conscientes e comprometidos. Quem é que gosta de sentir-se “ovelha”, mesmo que até achemos graça à “Ovelha Choné” (perdoem os que não conhecem esta figura da animação)!
É interessante como o pastor não é, habitualmente, dono das ovelhas. Tem responsabilidade por elas, podem pertencer a vários donos, mas não são dele. Creio que no tempo de Jesus, e até na história bíblica, eram pastores os filhos mais novos ou os que não serviam para outra coisa. Não era um pouco assim até na nossa cultura agrícola e pastoril? Contudo, reconhece-se que ninguém como o pastor conhece cada ovelha, está atento às suas dificuldades e situações particulares, defende-as até ao sacrifício de si, encontra a sua alegria no crescimento delas. Ao contrário dos donos e patrões, que olham só para o conjunto e cujo interesse prioritário é económico e de poder, o pastor olha para cada uma das ovelhas e tem interesse no maior bem das ovelhas que cuida.
Numa homilia de 2017, o Papa Francisco (e não é verdade que sentimos nele uma verdadeira imagem de bom pastor dos cristãos e de toda a humanidade?) fala da proximidade como a característica fundamental dos bons pastores: “Jesus apresenta-se sempre assim, próximo. […] Um bom pastor aproxima-se e tem a capacidade de se comover. […] A terceira característica de um bom pastor consiste em não se envergonhar da carne, tocar a carne ferida.” Assim, os maus pastores, continua o Papa, são os que “aproximam-se sempre do poder do momento ou do dinheiro e são maus pastores: pensam apenas em como chegar ao poder, ser amigos dos poderoso e negociam tudo ou pensam nos seus bolsos. Eles são hipócritas, capazes de tudo.”
Não nos limitemos à significação simplesmente religiosa dos “pastores”. Quem não é pastor de algo ou de alguém? Até o poeta Fernando Pessoa (pelo seu heterónimo Alberto Caeiro), se intitulava pastor nesse belíssimo “O guardador de rebanhos”: “Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos/ E os meus pensamentos são todos sensações. / Penso com os olhos e com os ouvidos/ E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca.[…]. E como não reconhecer esta vocação em todos os pais, educadores, animadores, treinadores, todos em que em algum momento ou por toda a vida se sentem e são responsáveis por outros? Que é viver se não somos responsáveis por alguém? Conhecer, escutar, acompanhar, levantar, ajudar a crescer, apontar horizontes, desejar mais vida para quem se ama implica despojamento e vida dada. Só é possível a quem não é dono nem patrão, a quem liberta e confia, a quem não busca dividendos nem retorno. Mas é tão fácil julgarmo-nos “donos disto tudo”! Nas comunidades e nas famílias, nas empresas e nos grupos, como seria se deixássemos de querer ser “donos e patrões” e aprendêssemos a ser todos “pastores”?
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