Lisboa |
Festas em Honra do Divino Espírito Santo, na aldeia do Penedo, Sintra
Impelidos pelo Espírito a “praticar a caridade universal”
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As Festas em Honra do Divino Espírito Santo regressaram, passados dez anos, à aldeia do Penedo, em Sintra. Na Solenidade de Pentecostes, o Cardeal-Patriarca sublinhou o significado desta tradição secular, que deve levar à prática da caridade. “Vamos fazer deste mundo, o mundo que Deus quer e que toda a gente anseia”, frisou.

 

Após dez anos de interrupção, as Festas em Honra do Divino Espírito Santo regressaram, no passado Domingo, 9 de junho, à aldeia do Penedo, em Sintra. O culto secular que teve início em Alenquer, no tempo da Rainha Santa Isabel, “tinha e tem hoje, muito significado”, garantiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, que presidiu à Missa, no Domingo de Pentecostes. Para D. Manuel Clemente, celebrar o “Império do Espírito Santo” é deixar que o Reino de Deus continue. “Acaba por ser tudo muito simples se nós nos deixarmos simplificar também. Acabámos de ouvir, no Evangelho, o Senhor Jesus a dizer que nos vai deixar o Espírito Santo para que aquilo que Ele começou na terra, continue agora neste mesmo Espírito que Ele nos comunica e que, de uma maneira tão particular, celebramos aqui. Deus dá-nos Jesus, Jesus dá-nos o Espírito e o Evangelho continua”, garantiu.

A pequena capela, dedicada a Santo António, situada no centro da aldeia, encheu-se para testemunhar o reinício desta tradição que deveu aos Franciscanos, no início do século XIII, em Alenquer, uma significativa expansão desta devoção, tal como recordou o Cardeal-Patriarca. A tradição, que ainda hoje se cumpre, manda que, a cada ano, seja coroado um imperador, escolhido por entre quem, “na altura, naquelas cidades, menos importava”. Por isso, eram escolhidos por entre crianças, pobres e anciãos. “Tudo isto tinha, e tem hoje, muito significado. Hoje até, se calhar, de uma maneira reforçada, porque somos muitos e os problemas permanecem. Que importante é, hoje, celebrarmos a Festa do Espírito Santo e perceber o que significa o seu Império, que é a realização do Reino de Deus neste mundo, um mundo de irmãos, filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, levados, pelo seu Espírito, a praticar a caridade universal”, sublinhou, na homilia da celebração.

Para D. Manuel Clemente, as festividades do Espírito Santo que decorrem, em vários locais da Diocese de Lisboa, “devem ser, cada vez mais”, celebradas com enfoque na caridade. Por isso, o Cardeal-Patriarca garantiu levar “muito a peito esta expansão das festas”. “Que estas festas sejam um sinal e um estímulo para toda a freguesia de Colares, para todo o concelho de Sintra, e que se multipliquem, porque este tempo pascal é para isto. É para nós recebermos o que Jesus Cristo nos dá. Vamos receber o Espírito Santo e vamos fazer deste mundo um império do Espírito Santo, o mundo que Deus quer e que toda a gente anseia”, concluiu.

 

Referência para a população

Nascida e criada na aldeia do Penedo, em Sintra, Rosa Castro garante ao Jornal VOZ DA VERDADE que a Festa em Honra do Divino Espírito Santo é a “referência” da terra, e manifesta o desejo de recuperar uma tradição local significativa, com mais de 600 anos, que é a “corrida do touro à corda”. “Não queremos perder esta tradição, porque faz toda a diferença”, sublinha esta habitante local. Segundo Rosa, o interregno nos festejos também se deveu ao facto de esta festa “exigir muito trabalho, muita mão de obra”, e isso ser difícil de garantir, porque “as pessoas têm as suas vidas”, refere.

Os festejos no Penedo recuperam algumas das tradições açorianas, numa aldeia que tem assistido, nos últimos anos, a uma mutação populacional, tendo aumentado a compra de casas por estrangeiros, que decidem ali viver, ou por portugueses que procuram, no sossego da serra, a sua segunda habitação. “Nós interligamo-nos muito bem. São pessoas que lidam muito bem connosco e gostam de participar em tudo o que fazemos na aldeia. Alemães, ingleses... estão sempre ao nosso lado. Muitas vezes, mais do que alguns locais. Os locais são sempre os mesmos, por carolice, por amor à camisola”, graceja Rosa Castro, de 60 anos, salientando a importância do tradicional bodo com que se encerraram os festejos. Tratou-se de um cozido tradicional dos Açores – região com a qual existe uma “interligação” – e foi distribuído nas instalações da Tuna Euterpe União Penedense.

 

Expressão da caridade

Para o padre José António Rebelo da Silva, pároco de Colares desde 2006, a imagem mais significativa que guarda desta festividade remonta ao tempo de criança e adolescente. Natural dos Açores, este sacerdote deixou o arquipélago aos 18 anos e recorda esta devoção com grande enraizamento local. “Guardo o convívio das pessoas e a devoção ao Espírito Santo, porque, naquela semana, a família que recebe a coroa e a bandeira em sua casa, recebe, todos os dias à noite, os vizinhos e amigos para rezarem o terço. Há muito a tradição da oração à volta do Espírito Santo”, refere este sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Também a realização do bodo, que consiste na distribuição de comida aos pobres, é um dos acontecimentos significativos desta festividade. “Estas festas são uma das grandes expressões da caridade cristã! Convidam-se as pessoas, mas quem aparecer é bem-vindo. Há sempre lugar para mais um”, assegura.

Tal como nos Açores, também na aldeia do Penedo a tradição manda que se coroe um imperador, escolhido por entre o povo e que cumpra o requisito de não ser alvo de reconhecimento pela sociedade. “O culto manda que se escolha uma criança, um idoso ou um pobre, ou até alguém que tenha feito uma promessa que queira cumprir, sendo imperador”, explica o padre José António. Assim, para retomar essa tradição, foi coroado, no último Domingo, um homem com 86 anos, “um dos mais velhos da aldeia”, que já tinha sido coroado com 5 anos de idade. Na mesma celebração, foi também “imposta a coroa daquele que será o próximo imperador, uma criança”.

 

Expandir o culto

O pároco de Colares reconhece a “transformação social” na região e, sobretudo na comunidade do Penedo, que faz com que existam “menos pessoas a recordarem-se da tradição”, correndo assim o risco de “se ir perdendo”. Contudo, o sacerdote deseja que, de ano para ano, os sinais se continuem a recuperar nesta povoação que conta com pouco mais de 360 habitantes. “Este ano, fizemos o tapete típico de flores, no chão da igreja, e um bodo típico dos Açores. Não é, propriamente, o bodo típico daqui, mas vamos tentar, a partir de agora, recuperar o bodo de cá, mas incutindo sempre o cunho de ser um momento de refeição e partilha, com as pessoas da comunidade, em especial com os mais pobres que, hoje em dia, são os idosos, as pessoas que estão sós. Não se trata apenas de uma pobreza material, mas de novas formas de pobreza. E esta é uma forma de integrar as pessoas nesta prática cristã”, sublinha o sacerdote, reforçando a importância deste exercício para o cumprimento dos objetivos do próximo ano pastoral. “No próximo ano, gostaria que a nossa paróquia recuperasse esta questão, porque o programa diocesano terá como tema a caridade e eu gostaria que pudéssemos desenvolver o culto do Espírito Santo também às outras comunidades da paróquia, começando no II Domingo da Páscoa e a terminar no Pentecostes, com uma festa grande no Penedo”, revela. “O senhor Patriarca teve este impulso e está muito entusiasmado com este culto. Desafiou-nos, mais uma vez, a recuperar e a dar o sentido que deve ser dado ao culto do Espírito Santo”, frisa o pároco de Colares.

 

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Festa da Família impulsionou festejos

O desafio para retomar as Festas do Espírito Santo, no Penedo, em Sintra, remonta a 2015, quando o pároco, padre José António Rebelo da Silva, recebeu, de D. Manuel Clemente, o incentivo para recuperar a tradição. “O ressurgir desta tradição deve-se a um desafio do senhor Patriarca, que visitou a paróquia, em 2015, por ocasião da Festa da Família, no Mucifal. Entretanto, fui trabalhando e foi possível”, manifesta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco de Colares. “Estamos a procurar recomeçar e espero, até pelos desafios que o senhor Patriarca nos fez, que possamos recuperar a tradição, não apenas para a comunidade do Penedo, mas alargando-a a toda a Paróquia de Colares, sobretudo nos Domingos da Páscoa, motivando e expandindo o culto ao Divino Espírito Santo”, aponta o sacerdote, de 51 anos, agradecendo e sublinhando “o apoio” da Câmara Municipal de Sintra e da Junta de Freguesia de Colares, na realização das festividades.

texto e fotos por Filipe Teixeira
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