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Irmãzinhas do Cordeiro ? A Europa mendiga
A história da Igreja é dinâmica e dificilmente se consegue prever o que se vai passar na próxima geração. Nunca sabemos bem o que o Espírito Santo vai inspirar. Temos uma certeza fundamental, Deus não nos abandonará, e isso explica a esperança da Igreja.

Não é a única certeza, porém, porque também sabemos que os homens têm a tendência de julgar que conseguem sozinhos resolver os seus problemas, o que obriga Deus a ter de “inventar” novos meios para vir ao encontro dos homens e lhes abrir o coração. Na Europa, que está a ser secularizada e se afasta da fé, a Igreja é muitas vezes perseguida (vale a pena ir ver www.christianophobia.eu) e passa por uma crise também interior, com tensões, com falta de vocações e conventos a fechar, com padres a terem de tomar conta de diversas paróquias e escolas católicas a terem de ensinar de acordo com os programas oficiais muitas vezes anti-cristãos. Alguns pensarão que a Igreja está a desaparecer, mas, no fundo sempre aconteceu isto à Igreja e com a graça de Deus as dificuldades nunca foram a última palavra. Basta ver o entusiasmo à volta dos encontros com o Papa, como as Jornadas Mundiais da Juventude, ou reparar nas reacções às políticas que tendem a liberalizar o aborto ou a identificar as uniões de pessoas do mesmo sexo com um verdadeiro casamento para se perceber que o Espírito Santo está activo e que a Igreja continua a encher de esperança muita gente na Europa.

Quando tentamos perceber o que se passa, temos de reconhecer a importância do Concílio Vaticano II, o papel dos Papas, a acção de tantos bispos, padres, religiosos e leigos. E não podemos deixar de reparar na multiplicidade de experiências novas e carismas que têm enriquecido o rosto da Igreja nestas últimas décadas. Pensemos na vitalidade das comunidades e movimentos que nasceram no século XX, como Schönstatt na Alemanha, os Focolarinos e o Comunhão e Libertação em Itália, a “Opus Dei” ou o Caminho Neocatecumenal em Espanha. Na Bélgica aparece “a obra” que se implanta sobretudo nos países germânicos, e na Polónia o Oásis. Em França nasceram as Equipas de Casais de Nossa Senhora para promover a espiritualidade conjugal, mas também surgiram a Comunidade Emanuel, as “Beatitudes”, os irmãos de S. João, o Chemin Neuf ou a “Arca” de Jean Vanier, para citar apenas algumas das Comunidades novas.

Uma dessas comunidades nasceu a partir de cinco irmãs dominicanas que em 1968 estudavam em Paris e viram a revolução da sociedade e até da igreja, que parecia afastar-se de Deus para se centrar nas causas do mundo, mas não perderam a esperança. Trata-se da Comunidade do Cordeiro, ou como gostam de ser conhecidas: as irmãzinhas do Cordeiro. Era-lhes evidente ter de confiar na Providência para restaurar a Igreja que, como no tempo de S. Francisco e de S. Domingos, parecia desmoronar-se. Recuperaram a prática mendicante para viverem pobres, batendo às portas para pedir pão, mas também para poderem levar uma Palavra e uma presença de Deus a quantos as recebem. Andam à boleia pela Europa para responder aos pedidos que os bispos lhes fazem de missões nas suas dioceses ou para abrirem novas comunidades. Vivem marcadas pelo ritmo de uma oração litúrgica cuidada e muito centrada no Evangelho do dia que “mastigam” para perceberem bem o significado e para descobrirem os apelos de Deus. As suas casas e pequenos mosteiros são muito simples, celas muito pequenas e só com o básico. Mas quem as visita percebe que ali dá-se mais importância a Deus e às pessoas do que às coisas e às causas e por isso respira-se felicidade! Tentam ir ao encontro dos mais pobres e esquecidos, para que, como dizem, “todos, pobres e ricos, conheçam Jesus”. Não pretendem resolver os problemas do mundo mas ajudar pessoas concretas, mostrando com a sua maneira de ser e de rezar que Deus, de facto, não faz acepção de pessoas e ama todos. Não são multidões, não dão nas vistas. São pessoas cheias de bom senso e de fé, que confirmam com uma enorme quantidade de histórias vividas que a providência não falha e que só Deus basta.

Em 1998, no ano do Espírito Santo, para preparar o Jubileu, o Papa João Paulo II convocou todas estas novas experiências eclesiais para um grande momento de acção de graças. Nessa ocasião o padre Luigi Giussani lembrava que “o verdadeiro protagonista da História é o mendigo: Cristo mendigo do coração do homem e o homem mendigo de Cristo”. As irmãs do Cordeiro ajudam a perceber que isto é mesmo verdade, ainda que não sejam notícia de jornal! Quando a Igreja mendiga, ela não tem de ter medo, porque Deus a protege.