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Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo
Unir as comunidades avieiras
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As procissões fluviais, com Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, estão a marcar as comunidades avieiras por onde tem passado o VII Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo. Uma iniciativa da Confraria Ibérica do Tejo, que termina este Domingo, em Oeiras.

 

A primeira vez que dona Maria Sequeira viu a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, em 2013, só lhe apeteceu “cantar e louvar Nossa Senhora”. “Quando Nossa Senhora dos Avieiros visitou Alhandra, e o Bairro dos Avieiros, pela primeira vez, a imagem só parou no cais e não houve mais nada. Fiquei muito triste, porque apetecia-me cantar e louvar a Nossa Senhora, mas não consegui porque não sabia se estava a fazer bem e qual seria a reação das pessoas. Preferi rezar para mim, e falar com Nossa Senhora”, recorda, ao Jornal VOZ DA VERDADE, esta paroquiana de Alhandra. Dessa primeira visita, quase de surpresa, há seis anos, dona Maria recorda que “foi pouco tempo”, e que, por isso, aproveitou “todos os momentos” e esteve “sempre junto a Nossa Senhora”. Hoje já não é assim e o Bairro dos Avieiros prepara-se antecipadamente para receber a Mãe de Jesus, numa tradição que vai já no sexto ano. “No ano a seguir, em 2014, começámos a organizar a procissão e fiquei muito feliz! Gosto muito que Nossa Senhora venha cá, ao Bairro dos Avieiros”, refere dona Maria, que é mãe de duas filhas e avó de quatro netos.

 

“Sempre a rezar o terço”

Neste ano, a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo esteve na Paróquia de Alhandra, e mais concretamente no Bairro dos Avieiros, pouco menos de 24 horas. Chegou no final de tarde do passado sábado, dia 15 de junho, e no Domingo, logo após o almoço, fez-se ao mar, para navegar rumo à Póvoa de Santa Iria. A noite de sábado, na presença de Maria, foi então de festa para os residentes do bairro que quiseram dar as boas-vindas e saudar Nossa Senhora. O bairro estava preparado para receber Maria. As tradicionais flores brancas e azuis, em papel, embelezavam este lugar à beira-mar. O palco foi montado, os grelhadores acesos, as colunas preparadas para tocarem música noite fora. “Organizámos uma grande festa! A imagem passou pelo meio do bairro e depois veio para a Associação dos Pescadores de Alhandra. As pessoas do bairro gostam muito, porque quando Nossa Senhora chega, está sempre imensa gente! No tempo que cá está, também muita gente vem visitar Nossa Senhora neste nicho e, quando se vai embora, estão também muitas pessoas presentes para se despedirem”, conta dona Maria, que nasceu na aldeia avieira da Palhota, em Valada do Ribatejo, mas conhece o Bairro dos Avieiros, em Alhandra, desde que nasceu, há quase 68 anos.

A procissão, por terra e pelo mar, é o ponto alto da visita de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo ao Bairro dos Avieiros. “Este ano, muita gente veio ver a procissão”, sublinha, satisfeita. Dona Maria vive a procissão noturna a bordo do barco, bem perto da imagem. “Vamos sempre a rezar o terço”, explica. “Nossa Senhora mexe muito comigo. Pode ter muitos nomes, mas Nossa Senhora é sempre uma! Para mim, é sempre a mesma. Quando rezo, é sempre a Nossa Senhora e é a Ela que peço ajuda por quem precisa e por nós, para que traga muita paz”, refere.

É uma visita rápida, de menos de um dia, mas que deixa marcas no bairro. “São precisos momentos como este, até para unir o bairro. Gosto muito de ter Nossa Senhora aqui connosco, no Bairro dos Avieiros”, termina dona Maria Sequeira.

 

Valores religiosos da comunidade piscatória

Para o pároco de Alhandra, é positiva a presença da imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo no Bairro dos Avieiros. “É sempre uma presença externa visível que traz ao de cima os valores religiosos por parte de alguns elementos da comunidade piscatória”, salienta o padre Alfredo Juvandes, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Nessa noite de sábado, a população do bairro reuniu-se para a procissão, que tem a particularidade de ser feita em terra e no mar. “Todos os pescadores, com os seus barcos, associam-se a esta procissão”, aponta o sacerdote, que, nessa noite, acompanhou Nossa Senhora a bordo do barco. No mar, diversas embarcações acompanhavam a imagem de Maria que os visitava. Da margem, o povo acompanhava a procissão, rezando o terço. Contudo, o pároco de Alhandra alerta que esta iniciativa deve levar a população a Deus. “Esta é uma procissão festiva mais externamente do que propriamente no interior, de forma a que levasse mais à vivência do religioso”, expõe. O padre Juvandes considera, contudo, “ser positiva” a presença da imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo. “A piedade popular tem sempre em si algo significativo e importante. Mesmo que não seja vivido por todos, o facto de esta procissão se tornar visível traz sempre mais pessoas ao bairro, para se associarem a esta vivência religiosa”, manifesta.

 

Cultura avieira a património

A visita da imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo ao Bairro dos Avieiros está integrada no VII Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo, que está a ligar, desde o passado dia 25 de maio, Rosmaninhal, uma freguesia do concelho de Idanha-a-Nova, e Santiago de Alcântara, em Espanha, ao estuário do Tejo em Oeiras, onde chega este Domingo, 23 de junho. “Unir as comunidades avieiras” é o objetivo desta iniciativa, que vai na sua sétima edição. “O cruzeiro nasce de um projeto de candidatura da cultura avieira a património. Sentiu-se que as comunidades avieiras estavam um pouco afastadas umas das outras e observámos que a maior parte dos nomes dos barcos são ‘Santo António’, ‘São João’, ‘Nossa Senhora’ ou ‘Deus me acuda’… Nesse sentido, a parte religiosa era interessante para unir estas comunidades. E assim foi”, segundo explica, ao Jornal VOZ DA VERDADE, José Gaspar, que faz parte da direção da Confraria Ibérica do Tejo, promotora do cruzeiro.

O cruzeiro é realizado por embarcações típicas do Tejo, como o tradicional picoto e a bateira, que transportam a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo em peregrinação fluvial às comunidades ribeirinhas e às aldeias avieiras, nas margens do Tejo. Durante o percurso, em etapas, sucedem-se diversas paragens e pernoitas dos peregrinos em aldeias avieiras, com cerimónias religiosas e eventos culturais organizados localmente, pelas câmaras municipais, juntas de freguesia, paróquias e associações. “O mais importante é a fé e a emoção que se vive”, expressa este leigo. Contudo, há também o convívio. “Em cada terra, há um acolhimento generoso. É uma visita que tem unido as comunidades. E só a Mãe para fazer isso, para ir juntando estes filhos e envolvê-los”, acrescenta José Gaspar.

 

Crescer anualmente

A cada ano, o início do cruzeiro tem ‘subido’ o Tejo. “Começámos em Constância e, hoje, já estamos em Espanha. As próprias comunidades ribeirinhas – e não só as avieiras – sentem necessidade de algo que as motive”, salienta este responsável da Confraria Ibérica do Tejo. O fio condutor do cruzeiro “é o rio Tejo”, que “liga e partilha este convívio entre as comunidades ribeirinhas”. “Das trinta e poucas paragens iniciais, já vamos em 53! É uma iniciativa que tem crescido todos os anos e que vai já em quase 300 quilómetros pelo rio”, frisa.

José Gaspar nasceu na Paróquia de Vale de Figueira, no concelho de Santarém, e diz que viveu “sempre em comunhão com o rio e com as comunidades avieiras”. “Considero que o rio Tejo está dividido em três partes: vamos até Alvega, e é tipo Rio Douro, com encostas, arribas, animais selvagens; depois, da Barquinha até Valada é um rio lezíria, plano, diferente; depois de Valada, já é estuário. E é engraçado, porque o próprio rio molda as pessoas. Aqui, em Alhandra, sentimos a agitação própria de Lisboa, enquanto mais a norte se sente uma paz mais natural, com a própria natureza”, aponta.

Nestes sete anos, o Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo foi ganhando “envolvência e expressão”, sendo que a procissão fluvial, pela sua especificidade, tem marcado a passagem do cruzeiro pelas povoações. “A procissão fluvial começa a ter uma importância e a despertar a fé das pessoas”, refere José Gaspar. “Quando andamos nesta peregrinação, tentamos chegar às pessoas, estimular a paz e o convívio. Isso é que é gratificante para nós. O maior ‘milagre’ que temos assistido é a união das pessoas”, garante o responsável pela peregrinação de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo.

 

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Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo

www.facebook.com/cruzeiro.religioso.e.cultural.do.tejo

 

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“Uma imagem de acolhimento das comunidades avieiras”

A imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo foi pensada e idealizada pelo padre Vicente, pároco de Alcanede, na Diocese de Santarém, que é irmão gémeo de José Gaspar. “A imagem tem uma mensagem. Se observarmos bem, a imagem tem dois pescadores, tem um barco – que é uma bateira que não tem remos –, e tem uma onda gigante que envolve. É a aflição, a tristeza, a amargura do dia a dia, de um barco que não tem remos, que anda à deriva, e um casal que está aflito. A pescadora pede ajuda à Mãe e qual é a mãe que não acode aos seus filhos? Nossa Senhora aparece, ajuda e pede a Deus, com a mão mais acima, para ajudar os seus filhos. O pescador, naquela posição humilde, mete a mão no peito, num gesto de agradecimento. É uma imagem de acolhimento destas comunidades avieiras”, explica José Gaspar.

 

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“Venha o que vier, a Mãe está lá”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa esteve com Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo na Azambuja, na tarde do passado dia 10 de junho. “Além das nossas mães, temos a Mãe de Jesus, que Ele nos deu. É o que Nossa Senhora está a dizer àqueles dois, ao pescador e à pescadora, ao avieiro e à avieira: ‘Sou a tua Mãe’. Venha o que vier – mais corrente, menos corrente, mais peixe, menos peixe –, a Mãe está lá. A Mãe que Jesus nos deu, está cá, seja no rio, no mar ou em terra”, salientou D. Manuel Clemente, ao apontar para a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, na Missa a que presidiu, na igreja matriz de Azambuja.

Depois de Azambuja, a imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo esteve na Vala do Carregado, Vila Franca de Xira, Alhandra e Póvoa de Santa Iria, sendo que, no dia do Corpo de Deus (20 de junho), chegou ao Parque das Nações. Após passagem por Alcochete, Montijo e Moita, o Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo estará, neste Domingo, 23 de junho, no Cais do Sodré, a partir das 12h00, Paço de Arcos, às 14h00, e chegará ao porto final, na Marina de Oeiras, pelas 17h00.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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