Tinha 75 anos e vivia na Síria há já tanto tempo que ali, na cidade de Homs, quase ninguém se lembrava que o Padre Frans era holandês. Homem de paz, defensor dos mais fracos e humildes, o Padre Frans não resistiu às duas balas disparadas cobardemente contra si em Abril de 2014. No entanto, a sua memória permanece viva e o seu túmulo transformou-se, nestes cinco anos, em ponto de encontro, em lugar de oração. A morte não teve a última palavra.
Foi assassinado na manhã do dia 7 de Abril de 2014, no jardim em frente à residência dos jesuítas, em Homs, uma cidade situada a cerca de 160 km da capital da Síria, Damasco. Foi com incredulidade que se soube da notícia da sua morte, do seu assassinato brutal. O Padre Frans van der Lugt era um homem bom. Isso bastava para o definir. Era bom, procurava ajudar os mais pobres e necessitados, e tinha sempre a porta de sua casa aberta a todos. E todos o estimavam: católicos, ortodoxos, muçulmanos. A sua figura alta, frágil, ligeiramente encurvado, o sorriso com que recebia os que batiam à porta de sua casa, faziam dele um amigo, um homem de paz e de reconciliação. Foi com incredulidade e tristeza que se soube da notícia da sua morte.
Lugar infernal
Era ainda manhã quando, a 7 de Abril de 2014, bateram à porta da sua casa, em Homs. Arrastado para fora da residência, foi espancado no jardim e assassinado a tiro. Dispararam duas vezes, como se fosse necessário confirmar que o padre, que era conhecido como Francisco, estava mesmo morto. No ano de 2014, a guerra já tinha transformado a Síria num lugar infernal. Homs era o espelho da destruição e da desesperança de todo o país. Bairros inteiros jaziam em escombros e não havia sinais de que os combates fossem abrandar de ferocidade. As cidades, vilas e aldeias esvaziavam-se. As pessoas fugiam para salvar a própria vida. O Padre Frans ficou. Mesmo quando todos lhe diziam que era mais prudente partir.
Centro de espiritualidade
O Padre Frans nasceu na Holanda, mas a Síria estava já absolutamente entranhada na sua alma, na sua vida. Depois de uma breve passagem pelo Líbano, o sacerdote jesuíta assentou arraiais na Síria em 1966. Desde os anos 80 que tinha dado início a um projecto que lhe era muito querido, de um centro de espiritualidade que acolhia cerca de quatro dezenas de crianças com necessidades especiais oriundas das aldeias e lugares da região. Chamava-se Al Ard, ‘a terra’. Sírio por adopção, o Padre Frans van der Lugt passara os últimos anos numa constante luta em defesa das populações de Homs.
Socorrer pessoas
Por ali, com a violência insana da guerra a deixar marcas profundas nos seus habitantes e nas ruas entulhadas com as ruínas das casas e com o sofrimento das pessoas, o Padre Frans não tinha descanso. Era preciso acabar com os combates, acabar a guerra, era preciso socorrer as pessoas. O Padre Frans não descansava na urgência de acudir a todos os que viviam encurralados em bairros, em ruas, em casas onde tudo faltava… alimentos, remédios, água e luz. O Padre Frans não descansava, acudindo todos os desesperançados que encontrava encolhidos entre ruínas, presos entre bombardeamentos, exaustos e com fome.
Amado e estimado
Foi com incredulidade que se soube da notícia do assassinato brutal do Padre Frans. O Papa Francisco disse-o dois dias depois. Evocando o confrade jesuíta holandês de 75 anos, o Santo Padre lembrou que “era amado e estimado por cristãos e muçulmanos”, e que durante as décadas de vida e de missão na Síria “sempre fez o bem a todos, com gratuidade e amor”. A notícia do assassinato do Padre Frans “encheu de profunda dor” o Papa, lembrando nessa ocasião todas as pessoas “que sofrem e morrem” na sua “amada Síria”, vítima de um conflito sangrento “que continua a semear morte e destruição”.
Causa de beatificação
Em Abril, quando se assinalaram cinco anos do assassinato, uma pequena delegação de sacerdotes jesuítas, que incluiu o Superior Geral, Padre Arturo Sosa, esteve em Homs para uma homenagem ao Padre Frans van der Lugt. Foi uma homenagem ao mártir cuja causa de beatificação vai fazendo o seu caminho. Em vida, o Padre Frans ergueu a sua voz na defesa dos mais pobres, dos mais necessitados, de todas as pessoas que foram vítimas dos algozes jihadistas que decidiam, com a arrogância da força das armas, como as populações tinham de vestir, de comer, de rezar, de se comportar. O Padre Frans foi assassinado, mas a causa da liberdade que sempre defendeu ficou mais forte com o seu exemplo. Homem de paz, defensor dos mais fracos e dos humildes, o Padre Frans não resistiu às duas balas disparadas cobardemente contra si, mas a sua memória permanece viva e o seu túmulo transformou-se mesmo em ponto de encontro, em lugar de oração. A morte não teve a última palavra.
Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Há anos, Umberto Eco perguntava: o que faria Tomás de Aquino se vivesse nos dias de hoje? Aperceber-se-ia...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Já lá vai o tempo em que por muitos cantos das nossas cidades e vilas se viam bandeiras azuis e amarelas...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Vivemos um tempo de grande angústia e incerteza. As guerras multiplicam-se e os sinais de intolerância são cada vez mais evidentes.
ver [+]
|