Lisboa |
50 anos da paróquia e da igreja de Paço de Arcos
O desafio de “buscar aquele que ainda não está, aquele que é o outro”
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A tradicional ‘Procissão do Senhor Jesus dos Navegantes’, junto à Avenida Marginal, contou com milhares de fiéis e foi um dos momentos que assinalou o jubileu dos 50 anos da Paróquia de Paço de Arcos, em Oeiras, que coincide com a bênção da nova igreja, em 1969. Até agosto de 2020, a paróquia é convidada a “repensar e arriscar no ADN” missionário que esteve na sua origem e a ser capaz de oferecer “propostas muito fortes” à comunidade.

 

Paço de Arcos já foi uma zona balnear, nos anos 20 e 30 do século passado, numa altura em que “chegar a Cascais demorava muito tempo”. Atualmente, o desafio passa por fazer face às limitações trazidas pelo “processo vertiginoso de envelhecimento” desta população e, assim, “repensar e arriscar no ADN” missionário que foi trazido pelos Missionários Combonianos e que esteve na origem da criação desta paróquia, há 50 anos. “Aqui, é necessário algum sangue novo, porque as comunidades envelhecidas têm uma carência de energia, de buscar aquele que ainda não está, aquele que é o outro. O desafio andará pela capacidade de acolher aqueles que não estão cá, tornando-os membros da comunidade”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco, padre José Luís Costa, que chegou à paróquia há 5 anos. Desde então, este sacerdote tem procurado “acertar na massa crítica para começar” a acertar os passos a dar pela paróquia na ação pastoral, que passam por estar “atenta à comunidade que a envolve, sem ficar fechada em si mesmo”.

 

A iniciativa das gentes

Apesar de terem passado 50 anos desde a criação da paróquia, a história da dimensão religiosa desta zona da linha de Cascais é antiga e pode começar por ser contada a partir do aparecimento de uma imagem do Senhor Jesus dos Navegantes, no século XVIII. Desde então, a presença da imagem, primeiro numa capela junto ao Palácio dos Arcos, vai sendo condicionada às contingências políticas e religiosas da época, sobretudo com a expulsão dos jesuítas que tinham a administração da capela. Só mais tarde, já na segunda metade do século XIX, “motivado por uma figura heroica de Paço de Arcos, o patrão Joaquim Lopes – um homem que salvou centenas de náufragos –, existe a presença da invocação do Senhor Jesus dos Navegantes, que aqui permanece”, explica o pároco garantindo que, apesar dessa devoção, “ainda não existia uma identidade suficientemente forte para gerar uma comunidade própria” que continuou a depender, em termos de vida paroquial, da comunidade vizinha, Oeiras. No entanto, “é a iniciativa das gentes do mar que promove a recuperação da capela” e que vai assistindo, na década de 40 e antes da chegada da comunidade de Missionários Combonianos, à presença mais regular dos sacerdotes que estavam ligados à vida militar, com a presença da Escola Militar de Eletromecânica. Durante todo este período, as Conferências de São Vicente Paulo tomaram um papel “muito importante” para um “primeiro fulcro da ação eclesial” nesta zona e que contribuiu para a criação de um vicariato paroquial. “As conferências vão ser muito importantes para um certo nivelamento social, onde se confrontam com situações de pobreza muito concretas: falta de comida, falta de roupa e até de casa”, aponta o padre José Luís que, antes de assumir esta missão em Paço de Arcos, passou pelas paróquias de Caxias, Porto Salvo e também Linda-a-Velha, todas na Vigararia de Oeiras.

 

A importância dos missionários

Através da ação caritativa, a comunidade vai recebendo a “introdução de hábitos de oração que não existiam” e passa a ser o “ponto agregador” para a população de Paço de Arcos. “Nesse período, os missionários tiveram uma importância tremenda ao permitirem, de facto, começar a juntar uma massa crítica de pessoas que se habituaram a encontrar na capela do Senhor Jesus dos Navegantes”, aponta o sacerdote. “Depois, e já com um aumento significativo da população, com pessoas que procuravam trabalho na Fábrica Couraça, destinada à produção de produtos de beleza, e na construção da Ponte 25 de Abril, com um contingente grande de cabo-verdianos”, a terra vai crescendo e a comunidade começa a interrogar-se “se não pode ousar um espaço maior e procura um edifício novo, de raiz”. Estávamos no período pós-Concílio e as exigências conciliares ditaram que se procurasse um edifício onde também pudesse ser realizada “outra ação pastoral”, indo para além do espaço para a oração e celebração. A solução encontrada para a construção do novo templo, dedicado à Sagrada Família, “não foi do agrado de todos”, reconhece o padre José Luís Costa. “Esta construção é – como o próprio arquiteto João Almeida diz – ‘um final de modernismo’, mas com a característica de ser um ensaio sobre a nova disposição conciliar, ou seja, passar à prática a ‘Igreja, Corpo de Cristo, reunida, à volta do seu próprio mistério’”, aponta o sacerdote, de 47 anos.

 

Identidade da paróquia

Em menos de 30 minutos, é possível chegar a pé da igreja paroquial a qualquer ponto da paróquia. O espaço para construir habitações, em Paço de Arcos, é, atualmente, quase inexistente. Uma terra com 50 famílias, no século XVIII, transformou-se numa paróquia com cerca de 20 mil habitantes. A procura habitacional, sobretudo após o ano de 1974, veio também trazer novo ardor à terra. “Aqueles que eram provenientes de África vinham imbuídos da pedagogia dos Cursilhos de Cristandade. Isso deu uma marca e uma militância muito característica. Depois, temos os novos movimentos e os novos carismas provenientes do Concílio Vaticano II que vão marcar, estruturalmente, a identidade da paróquia”, refere o pároco.

Atualmente, a ação pastoral da Paróquia de Paço de Arcos assenta em três pilares: Evangelização, Liturgia e Cura (caridade). Na missão de pároco, o padre José Luís conta com a colaboração do padre Bento, um sacerdote da Diocese de Mbanza, Congo, e do diácono permanente Rui Silva, ordenado há 2 anos. Para além da presença de movimentos como Schoenstatt, Renovamento Carismático, Caminho Neocatecumenal, Equipas de Jovens de Nossa Senhora ou a Juventude da Consolata, o pároco destaca a importância do Corpo Nacional de Escutas, com 150 elementos, e a catequese, com cerca de 200 crianças e adolescentes.

 

“Propostas fortes”

A procura por “propostas muito fortes, para vivências concêntricas”, é uma prioridade para a Paróquia de Paço de Arcos. Em risco, apesar de participarem, em média, 1200 fiéis nas Missas dominicais, está a dispersão da comunidade paroquial, alerta o pároco, reconhecendo que é “muito normal” existirem “experiências eclesiais relativamente abertas”. “Aqui, é muito normal que as pessoas não se sintam ‘obrigadas’ a vir à Missa na paróquia. Algumas vão a Oeiras ou a Santa Maria de Belém. E o mesmo acontece com algumas pessoas dessas paróquias. Não temos uma centralidade completamente assumida”, reconhece o sacerdote, desejando que a comunidade seja “capaz de interpelar e de, positivamente, procurar”.

 

Caridade resistente

No campo social, a atividade da Conferência São Vicente Paulo “ainda resiste”, mesmo com “muita gente de cabelo branco”, e a Paróquia de Paço de Arcos tem procurado também “fazer um apoio de retaguarda permanente à Misericórdia de Oeiras”, contando também com as paróquias de Oeiras e Caxias, que “têm uma resposta social forte”. “Da nossa parte, a opção foi sempre apoiar. Aliviou muito, em termos estruturais, a própria existência da paróquia. Não é uma coisa complexa manter a paróquia de portas abertas, nem temos riscos financeiros de poder fechar a comunidade paroquial”, explica o padre que destaca um dos projetos sociais mais significativos na paróquia: o projeto ‘Mãos dadas para a vida’, realizado em pareceria com a junta de freguesia local e com a Misericórdia de Oeiras. “Nesse local, cedido pela paróquia, faz-se o acompanhamento das pessoas em situação de sem-abrigo, durante o dia, e de pessoas com dificuldades, carências psíquicas ou culturais, para conseguirem manter as suas vidas de forma autónoma”, explica.

 

Jubileu e reconciliação

Até agosto do próximo ano, data em que terminam as comemorações dos 50 anos, a Paróquia de Paço de Arcos vai procurar ser um espaço de “jubileu e reconciliação”. “O senhor Patriarca concedeu-nos a possibilidade de termos a indulgência parcial, sempre que visitarmos o edifício e participarmos num ato de culto dentro dele. É importante e é uma marca de jubileu e reconciliação marcante para a própria identidade da comunidade”, aponta o padre José Luís Costa. Esta data é também uma ocasião para “abrir a iniciativa da edificação do órgão de tubos, que foi a única coisa que, ao tempo, não conseguiu ser concretizada”, aponta.

O início das comemorações aconteceu no dia 24 de agosto, “dia em que a paróquia foi ereta”, com o lançamento da publicação que assinala a efeméride (ver caixa) e, no dia seguinte, com a presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que presidiu à Missa e à tradicional ‘Procissão do Senhor Jesus dos Navegantes e Bênção do Mar e das Naves’ que levou, à Avenida Marginal, junto ao Rio Tejo, milhares de pessoas (ver caixa).

Ao longo do ano estão previstos também um conjunto de iniciativas, preparadas pelos movimentos da paróquia, que procuram “acentuar a dimensão de serem concêntricos, ou seja, o que fizerem, fazem para todos”, e haverá também a possibilidade de assistir, mensalmente, a um concerto coral e, bimestralmente, a um concerto orquestral, explicou o pároco, apontando, a curto prazo, o desafio de mobilizar a paróquia para “encontrar o máximo de camas e lugares para a rapaziada dormir”, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e “encontrar o máximo de jovens disponíveis, não só para participarem na JMJ mas também para trabalharem”. “Será um target incontornável”, assume.

 

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Publicação assinala 50 anos da Paróquia de Paço de Arcos

A Paróquia de Paço de Arcos apresentou, no passado dia 24 de agosto, o livro ‘Igreja da Sagrada Família de Paço de Arcos: 50 anos de arquitetura religiosa moderna (1959-2019)’ que pretendeu assinalar a efeméride e ser “uma oferta à nova geração, para acolher e continuar a interpretar o edifício como ele merece”, apontou ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco, padre José Luís Costa. A iniciativa contou com a presença do coordenador da obra, o arquiteto João Alves da Cunha, e do próprio autor do projeto arquitetónico, o arquiteto João de Almeida, nascido em 1927.

 

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Cardeal-Patriarca presidiu à ‘Procissão do Senhor Jesus dos Navegantes’

D. Manuel Clemente presidiu, no último Domingo de agosto, à tradicional ‘Procissão do Senhor Jesus dos Navegantes e Bênção do Mar e das Naves’, na Paróquia de Paço de Arcos. “O senhor Patriarca insistiu muito nesta vivência de comunhão entre a comunidade cristã e as comunidades que lhe são adjacentes. A capacidade de a comunidade gerar, em si mesma, um sentido de fraternidade, é vital”, sublinha o padre José Luís Costa que destaca, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a importância desta manifestação popular para toda a “comunidade humana” de Paço de Arcos. “Os bombeiros, o exército, o clube motard, o clube de hóquei, todos participam... Há aqui um reencontro de todas as forças vivas da vida social com a paróquia. É abrangente, quase uma imagem profética daquilo que a Igreja é chamada a ser no tempo que vivemos”, considera o sacerdote.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Filipe Teixeira e D.R.
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