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Roma
“Amor apaga a violência e gera a fraternidade”
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O Papa Francisco fez o resumo da visita a Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias. No regresso a Roma, a bordo do avião, o Papa disse não temer um cisma na Igreja. Em solo africano, Francisco teve uma preferência: encontrar os mais pobres.

 

1. O Papa Francisco recordou a recente viagem a África, de 4 a 10 de setembro. “Acabo de visitar Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias. A Moçambique, fui espalhar sementes de esperança, paz e reconciliação numa terra que já sofreu tanto por causa dum longo conflito armado e, na primavera passada, foi atingida por dois ciclones devastadores. Procurei encorajar os líderes do país a trabalhar juntos pelo bem comum e convidei os jovens a vencer a resignação e a ansiedade, difundindo a amizade social e conservando as tradições dos mais velhos. O encontro com os Bispos e sacerdotes, consagrados e catequistas permitiu-me renovar com eles o compromisso do nosso «sim» generoso a Deus, que não cessa de nos chamar a permanecer fiéis ao nosso primeiro amor, fazendo-o frutificar em benefício dos irmãos. Exemplo disso, pudemos admirá-lo no Hospital de Zimpeto, que dá à luz a esperança em irmãos e irmãs que já a tinham perdido completamente. Na Eucaristia conclusiva, ressoou forte o apelo do Senhor: «Amai os vossos inimigos». Este amor apaga a violência e gera a fraternidade. A minha presença em Madagáscar e nas Ilhas Maurícias quis corroborar, naqueles queridos povos, o seu conhecido espírito de solidariedade, que os ajude a harmonizar as diferenças num projeto comum e construir, juntos, o futuro nacional conjugando o respeito pelo meio ambiente com a justiça social. Renovo a expressão da minha gratidão às respetivas autoridades civis e religiosas, que me convidaram e acolheram com tanta estima e solicitude”, resumiu o Papa, durante a audiência-geral de quarta-feira, dia 11 de setembro, na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Na saudação em língua portuguesa, o Papa encorajou “a ser por todo o lado testemunhas de esperança e caridade”. “E, se alguma vez a vida fizer desencadear turbulências espirituais no vosso coração, ide procurar refúgio sob o manto da Santa Mãe de Deus; somente lá encontrareis paz”, garantiu.

Ao chegar a Roma, na tarde de terça-feira, 10 de setembro, no regresso da sua 31.ª viagem apostólica internacional, que o levou a Moçambique, Madagáscar e Ilhas Maurícias, o Papa Francisco, tal como faz habitualmente, foi à Basílica de Santa Maria Maior, no centro da capital italiana, onde rezou em agradecimento à Virgem Maria pelo êxito da sua visita aos três países sul africanos.

 

2. O Papa afirmou que não receia, mas reza para que não aconteça, um cisma na Igreja Católica promovido por conservadores norte-americanos. “Na Igreja já houve tantos cismas… No Vaticano II, a separação mais conhecida foi a de Lefebvre. Sempre houve a opção cismática na Igreja, é uma das opções que o Senhor deixa sempre à liberdade humana. Não tenho medo dos cismas. Rezo para que não aconteça, porque põe em risco a saúde espiritual de tanta gente. Rezo para que haja diálogo, para que haja correção no caso de haver algum erro, mas o caminho do cisma não é cristão. Os cismáticos têm sempre uma coisa em comum: afastam-se do povo, da fé do povo de Deus”, afirmou Francisco, na conferência de imprensa a bordo do avião.

Na viagem de regresso a Roma após visita a África, o Papa mostrou-se aberto ao diálogo e referiu ainda que “as críticas ajudam sempre”. “Por vezes irritam-te, mas há sempre vantagens. Mas as críticas ao Papa não são só dos americanos, há por todo o lado, até na Cúria. Ao menos os que as fazem, têm a vantagem e a honestidade de as dizer. Gosto disso. Não gosto é quando as críticas surgem debaixo da mesa e te fazem sorrisos a mostrar os dentes e, depois, espetam-te a faca nas costas. Isto não é leal, nem humano. ‘Não gosto deste Papa…’ Fazer uma critica sem querer ouvir a resposta e sem um diálogo construtivo, é não querer bem à Igreja, é prosseguir uma ideia fixa: mudar de Papa, mudar de estilo, fazer um cisma, não sei…”, declarou.

Respondendo a uma pergunta da Renascença, o Papa referiu que visitou Moçambique próximo da campanha eleitoral – as eleições realizam-se a 15 de outubro – para “ajudar a consolidar o processo de paz”. “Não foi um erro, foi uma opção tomada livremente, porque a campanha eleitoral, que começou nestes dias, passou para segundo plano face ao processo de paz. O importante era visitar o país para ajudar a consolidar o processo de paz”, observou.

 

3. Francisco atravessou o continente africano com uma preferência: encontrar os mais pobres e mostrar ao mundo centelhas da sua beleza, onde menos se espera. É certo que visitou três países bem diferentes entre si e cheios de contrastes, basta comparar o paraíso turístico das Maurícias, com a miséria de Moçambique e Madagáscar onde as chagas da corrupção, da exclusão e da violência parecem não ter fim.

Mas o que irrompe destes dias tão intensos da viagem, é a genuína alegria dos africanos, a sua generosidade e entusiasmo no seu modo de acolher o Papa.

Com uma simplicidade há muito perdida na Europa, esta gente não faz de conta, mostra-se tal e qual, com uma límpida alegria que contagia e desarma.

Vimo-lo pelas ruas de Maputo, em Zimpeto, no estádio a transbordar para a missa, nos encontros com os jovens moçambicanos e malgaxes e, sobretudo, numa enorme pedreira de granito nos arredores de Antananarivo.

É que o modo como milhares de miúdos, resgatados das lixeiras junto dessa zona, cantaram e dançaram para o Papa e a delicadeza com que tantos homens e mulheres – que passam horas a partir pedra – receberam Francisco, o “semeador de esperança”, são a prova evidente do que ele mesmo afirmou: que “a pobreza não é uma fatalidade” e que “uma fé viva, traduzida em ações, pode devolver a dignidade a cada pessoa”.

Razões de esperança que o Papa soube revelar ao mundo, tão necessitado desta beleza escondida.

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