Lisboa |
Paróquia de Lousa recebe a Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Cabo
“Oiçamos este Filho que Ela pôs no mundo”
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A presença de Nossa Senhora do Cabo em Lousa reforça “a certeza da presença da Mãe de Jesus connosco”, considerou o Cardeal-Patriarca. Depois de 25 anos de espera, esta paróquia recebeu o ‘Círio dos Saloios’ de “forma apoteótica”, segundo o pároco.


“São dias de uma festa que começa dentro de nós, no coração”. É desta forma que o pároco de Lousa, padre Nuno Miguéis, resume ao Jornal VOZ DA VERDADE os primeiros dias da presença de Nossa Senhora do Cabo Espichel na sua paróquia. Uma visita do ‘Círio dos Saloios’ que, como é habitual, não acontecia há 25 anos. “É a visita de uma Mãe que deixou muitas saudades neste povo. A comunidade transmitiu-me essa alegria, e esse desejo, de serem visitados de novo por Nossa Senhora e de fazermos a festa em função dessa atitude do coração, esta alegria e esta esperança. Estamos a viver cada dia com as alegrias que também nos vão sendo dadas por gente que nos visita, gente que conta histórias, inclusive sacerdotes, consagrados e leigos, que vão aparecendo todos os dias”, salienta o pároco.

A chegada da Senhora do Cabo a Lousa aconteceu madrugada dentro, de sábado para Domingo e, “como é da tradição”, foi “apoteótica”. “A chegada, na noite de dia 21 de setembro, implica que todo o cortejo setecentista seja levado muito a sério, seja por quem o protagoniza, seja por quem o acolhe. Infelizmente, chegámos bastante mais tarde do que julgaríamos, já depois da meia-noite, mas espantou-me o povo, que não arredou pé – e quando digo o povo, não são só as pessoas da freguesia, são todos os devotos”, assinala o padre Nuno.

 

Um sinal

Lousa foi buscar Nossa Senhora do Cabo a Barcarena na tarde do dia 21 de setembro, com o pároco a fazer-se acompanhar “pelo conjunto da comissão de festas, com os três juízes da festa, todos os procuradores e muitos paroquianos”. “Em Barcarena, a Missa de despedida começou às 14h00, a que se seguiu o ritual com as passagens das insígnias e onde se leu a ata”, refere. Após estes momentos, teve início o Giro, com passagens (e paragens) por diversas comunidades. “Além da chuva, o atraso na chegada à Lousa foi também responsabilidade nossa porque, a certa altura, deixámos que, nos lugares onde havia muita gente a aclamar e a querer ver Nossa Senhora, o carro parasse por pouco tempo. Tudo isso somado fez com que todo o Giro se atrasasse, mas foram momentos que fizeram com que muita gente se alegrasse”, manifesta.

Nesta viagem entre Barcarena e Lousa, houve ainda tempo para uma paragem extra. “Contra a tradição, parámos na Paróquia de Almargem do Bispo, que faz parte do Giro mas que não está inscrita nesta transferência. Como eles só receberão o Círio em 2033, e falta muito tempo, lembrámo-nos exatamente dessa dificuldade que também tivemos, de recuperar memórias, e passámos por lá, para fazer festa. Foi impressionante! Choveu todo o dia, mas a meio da celebração, dentro da igreja de Almargem, o sol, que já estava quase a pôr-se, rompeu e toda aquela várzea, que é lindíssima, abriu e ficou outro dia. A partir daí, tudo se desanuviou e disse aos meus paroquianos que foi um sinal, um sinal que a Virgem nos quer deixar no sentido de que há caminhos que vale a pena serem feitos, mesmo que sejam mais longos, mais distantes, mais difíceis, para anunciar alegrias como são estas, de Nossa Senhora do Cabo e, sobretudo, do Evangelho que Ela carrega e leva a todos”, conta padre Nuno Miguéis.

Lousa está em festa até este Domingo, dia 29 de setembro. “Queremos manter a comunidade unida e num ritmo muito certo. Temos muito pouca gente e quase toda a comunidade cristã está a servir na festa. Tiraram férias e estão a servir nas mesas dos restaurantes, nas tendinhas e na igreja. As laudes são sempre às nove da manhã, a novena decorre a partir das 18h30 e, às 19 horas, há Missa, seguida do Terço. Ao longo do dia, cada um é chamado entrar na igreja e a estar, a rezar a Nosso Senhor e à Virgem Santíssima”, convida o pároco.

 

Surpresas do Céu

Na tarde seguinte à chegada noturna da Imagem de Nossa Senhora do Cabo em Lousa, o Cardeal-Patriarca de Lisboa esteve nesta paróquia da Vigararia de Loures-Odivelas e sublinhou a escuta como “a primeira ordem que a Senhora do Cabo nos dá”. “Nossa Senhora é a primeira a ouvir a Palavra que Deus nos dirige, e dirigiu a Ela, no seu Filho Jesus Cristo, e a sua ordem permanente é que oiçamos esse Filho que Ela pôs no mundo, da parte de Deus, e que é a Palavra de Deus encarnada e o que Deus tem para nos dizer”, salientou D. Manuel Clemente, na sua homilia, reforçando: “Nós, cristãos, acreditamos que aquilo que Deus tem para nos dizer o disse na vida e nas palavras de Jesus Cristo, o filho de Maria, que hoje também é o fim e o cabo das nossas próprias vidas”.

Na igreja paroquial de Lousa, no passado dia 22 de setembro, o Cardeal-Patriarca lembrou também que o Círio de Nossa Senhora do Cabo vai ficar um ano nesta terra. “É bom estarmos aqui, nesta tarde de Domingo, celebrando a ressurreição de Cristo, como em cada Domingo, e celebrar também esta passagem da sua Mãe, a Mãe de Cristo, aqui com esta evocação bonita, e já tão secular, de Nossa Senhora do Cabo, que regressa a esta boa terra de Lousa, e depois ficará aqui, durante um ano, para ficar sempre, porque a Mãe de Jesus está sempre connosco, mas é bom que isso mesmo se reforce, com estas passagens dos Círios e, concretamente, neste Círio de Nossa Senhora do Cabo”, referiu.

D. Manuel Clemente destacou ainda que, durante o ano que Nossa Senhora do Cabo Espichel estará em Lousa, “muitas coisas boas acontecerão” e que será um ano “cheio de surpresas”. “Tenho a certeza que a Senhora do Cabo vos ensinará isto mesmo, que Ela foi a primeira a viver intensamente, esta verdade de que realmente nós só ganhamos quando nos damos, quando nos entregamos, como Ela se entregou, como entregou o seu filho Jesus Cristo, que acompanhou até à cruz. Porque se deu inteiramente, ganhou-se inteiramente. Ponhamo-nos do lado de Deus, como Maria nos ensina, como o seu Menino nos oferece, e será um ano cheio de surpresas, de surpresas do Céu”.

 

Ritmos de evangelização

Neste ano em que Nossa Senhora do Cabo vai estar em Lousa, a paróquia vai entrar “em três ritmos”, segundo o pároco. “Queremos manter a igreja o mais aberta possível, todos os dias da semana e do ano. Teremos turnos de pessoas que estarão não só a guardar Nossa Senhora, mas também a rezar e a rezar por intenções particulares”, manifesta o padre Nuno Miguéis. “Depois, teremos também as visitas a todos os lugares que se inscrevam, não só os de culto, mas todos os outros que queiram. A freguesia não é grande, mas é dispersa, por várias colinas, lugares e lugarejos. Aí, vai ser bonito poder encontrar a memória, ainda desperta, para a passagem da Senhora do Cabo e também o espanto de quem nunca A viu, sobretudo os jovens. Iremos, se possível, celebrar em todos os lugares para que, no fundo, todos possam sentir-se visitados por Ela e para que esta visita marque”, anuncia o sacerdote, referindo que “nas festas dos padroeiros de cada um dos lugares e em momentos chaves do ano, Nossa Senhora do Cabo também estará presente”. “Nas procissões do mês de maio, em que Nossa Senhora de Fátima percorre e peregrina por toda a freguesia, será acompanhada da Senhora do Cabo”, antecipa.

O padre Nuno Miguéis refere ainda que o terceiro ritmo que a Paróquia de Lousa está a organizar, para este ano, está relacionado com “os tempos litúrgicos fortes”. “Queremos que Nossa Senhora também desempenhe um papel litúrgico evangelizador. Para o Natal, está previsto uma oração/concerto mariano. Na Páscoa, queremos que a dinâmica de visita pascal, que é o passar pelas ruas e visitar as casas das pessoas, seja com a presença da Senhora do Cabo, havendo um momento pascal de oração”, deseja o sacerdote que, como pároco, é a primeira vez que recebe o Círio na sua comunidade, mas que “enquanto seminarista” ajudou algumas paróquias, “nomeadamente São João das Lampas”, na organização.

 

Fazer memória

A primeira visita do Círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel à Paróquia de São Pedro de Lousa data de 1414. A última aconteceu em 1994, o que traz consigo a dificuldade de manter viva a tradição na memória das pessoas. “Como é diferente, sobretudo da festa de há 50 anos para cá, manter as memórias. As memórias não se mantêm. Em termos de vida social e de hábitos, as memórias não se mantêm e a devoção, se não for reanimada e reativada ao longo do tempo, perde-se”, salienta o padre Nuno. Neste sentido, o pároco quer “fazer esforços” para que “esta memória seja animada”, nomeadamente “chamando gente jovem para a festa, para serem eles a agarrar nisto e a lembrarem-se, daqui a 25 anos, de tudo o que fizeram e como serviram na festa”.

Para este ano, e numa perspetiva de futuro, o padre Nuno Miguéis manifesta “algumas intenções” para fazer “três memoriais na paróquia”. “Numa parede da igreja, queremos colocar uma tela, pintada a azul e branco, com a Senhora do Cabo Espichel, com a data da primeira visita, depois 2019 e deixar espaço para que, de 25 em 25 anos, se vão escrevendo as datas seguintes. Cá fora, no adro da igreja, vamos fazer uma fonte com a Imagem, em pedra, que chamaremos a ‘Fonte da memória’. Finalmente, na Rua de Nossa Senhora do Cabo, que fica logo abaixo da igreja, sobre a placa, queremos colocar uma Imagem que, de alguma forma, lembre a todos os transeuntes que Nossa Senhora teve, e tem, importância na história e nos caminhos de toda esta povoação”, revela o pároco de Lousa. “São intenções, vamos ver se será possível”.

 

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Indulgência parcial a quem venerar a Senhora do Cabo

Tendo em vista “o bem espiritual dos fiéis”, o Cardeal-Patriarca de Lisboa concedeu “indulgência parcial a quantos, desde a receção da Veneranda Imagem, a 21 de setembro de 2019, até à sua despedida a 27 de setembro de 2020, na Igreja Paroquial de São Pedro de Lousa devotamente venerarem a Mãe de Deus diante da sua Imagem e invocação de Nossa Senhora do Cabo”. Segundo o decreto de D. Manuel Clemente, lido no final da celebração do passado Domingo, “os paroquianos que impedidos por doença, ou outra razão válida, não puderem visitar a Igreja para rezar diante da Imagem de Nossa Senhora do Cabo, podem lucrar esta indulgência rezando devotamente a oração Salve Rainha ou outra oração mariana aprovada pela Igreja”.

O texto salienta ainda que os fiéis “que recitem piedosamente o Terço mariano numa Igreja ou em família, a Igreja concede a indulgência plenária”, e recomenda ao pároco de Lousa, padre Nuno Maria de Araújo Miguéis, que “exponha aos fiéis a doutrina católica sobre as indulgências e as condições estabelecidas pela Igreja para as receber”.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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