No início das comemorações dos 275 anos da igreja paroquial de Oeiras, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apresentou a Igreja como o verdadeiro “templo” do cristão. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco, padre Sérgio Mendes, revela que esta efeméride é a oportunidade para recuperar uma das tradições mais antigas: a peregrinação, de barco, à Senhora da Atalaia, no Montijo.
27 de setembro foi o dia que assinalou o início das comemorações dos 275 anos da dedicação da igreja paroquial de Oeiras. Durante um ano, a cada dia 27, estão previstos concertos, conferências, peregrinações... tudo inserido num “programa bastante variado”, segundo o pároco. O “ponto de partida” das comemorações foi assinalado com a Missa presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, onde convidou os cristãos a refletirem sobre o verdadeiro sentido da palavra “templo”. “O que nos traz aqui é este templo novo, um lugar onde nos encontramos com Deus. É um lugar vivo, é a Pessoa de Jesus Cristo, que nos deu a vida para nós vivermos da sua vida ressuscitada e ressuscitadora”, apontou D. Manuel Clemente, na homilia, recordando a construção da igreja paroquial de Oeiras, que demorou “praticamente toda a primeira metade do século XVIII”. “Era uma aspiração antiga. O pequeno núcleo de Oeiras estava a crescer, era preciso uma igreja onde todos se pudessem juntar. Com muito boa vontade, e até bastante ambição, contrataram aquele que era o grande arquiteto da altura, João Antunes. Tudo isto que vemos é apenas sinal tão belo – como belo vai continuar a ser com o presente restauro – do templo verdadeiro que é aquele que Deus nos oferece na Páscoa do Senhor Jesus. Um templo, no sentido cristão da palavra, não é um templo pagão onde está uma estátua de um deus qualquer... O templo do cristão é a ‘Igreja’. É essa a palavra que o Senhor Jesus usa. A Igreja é o conjunto dos que se reúnem com Ele para louvar o Pai e para viverem como irmãos. É a assembleia, esta assembleia, que nos reúne aqui e que nos trouxe dos vários lugares, é conseguida na Páscoa do Senhor Jesus. Ele dá-nos a Sua Vida e essa vida que escorre da cruz, depois, congrega-nos a todos, chega-nos no Batismo, aviventa-nos como comunidade. É a Igreja de Cristo no mundo, é o templo do Espírito Santo”, apontou o Cardeal-Patriarca.
Recuperar as tradições
Os 275 anos da igreja de Oeiras são também o momento para recuperar algumas tradições que se foram perdendo com o tempo. Entre elas, está a peregrinação, de barco, à Senhora da Atalaia, no Montijo. O pároco, padre Sérgio Mendes, lembra que “a Paróquia de Oeiras foi uma das primeiras paróquias a organizar peregrinações à Senhora da Atalaia”. “Há muitos anos que não se faz e, como era algo marcante – porque até a própria Igreja matriz, do século XVIII, tem um altar lateral dedicado à Senhora da Atalaia –, lembrámo-nos que seria bonito retomar. Vamos fazer esta peregrinação, este ano, a 23 de maio, por questões logísticas, mas, tradicionalmente, costuma ser no Domingo da Santíssima Trindade”, anunciou o sacerdote, de 42 anos, que é pároco de Oeiras há um ano.
Paralelamente ao tempo de comemoração, a igreja de Oeiras está a iniciar as obras de conservação e restauro. “As obras são necessárias porque, desde o terramoto de 1755, existe uma racha, na cabeceira da igreja, que preocupa. Tem vindo a ser tapada, mas continua a preocupar. Para além disso, há também o interesse em recuperar e conservar tudo o resto, nomeadamente o chão, as paredes e os tetos”, especifica o padre Sérgio, sublinhando o apoio do município para a realização das obras.
Comunidade acolhedora
Chegado em 2018, o padre Sérgio Mendes sublinha o acolhimento que tem sentido por parte dos paroquianos. “É uma paróquia muito acolhedora, mesmo no sentido de acolher nas suas casas, para almoçar, jantar, para se darem a conhecer e mostrando-se disponíveis para o que for preciso. Tenho experimentado isso”, garante. Quando chegou à paróquia, o padre Sérgio pouco ou nada conhecia. Atualmente, o sacerdote constata uma realidade com “muitos casais novos” e com duas dimensões sociais: “Temos gente com um extrato social mais elevado, mas também gente mais pobre, sobretudo na comunidade cabo-verdiana que vive nos bairros sociais do Pombal e de Bento Jesus Caraça”. Este sacerdote sublinha ainda algo que observou na sua chegada à paróquia. “Há um trabalho social muito grande, através do centro social, mas que não fica só por aí. Noto que a própria comunidade tem um grande cuidado com esta questão. Tudo o que seja ajuda aos pobres, desfavorecidos, tem uma resposta muito imediata. É a própria comunidade que está muito disponível para isso e nota-se que houve ali muitos anos a falar-se da importância do cuidado pelo outro, de forma muito prática”, assegura.
Na dependência da paróquia há 50 anos – data também assinalada, no dia 27 de setembro, na celebração presidida pelo Cardeal-Patriarca –, está o Centro Social Paroquial de Oeiras, que tem prestado respostas sociais através da creche, jardim-de-infância e de um ATL. No cuidado aos idosos, a instituição tem garantido as valências do lar residencial, centro de dia e apoio domiciliário. “A resposta é sempre pouca para a procura que existe. É certo que, aqui no concelho, há muita resposta e não somos só nós a intervir. Nova Oeiras, São Julião da Barra e outras paróquias da zona são comunidades com respostas sociais que acabam também por intervir. Não há fronteiras para essa intervenção e a resposta é bastante variada”, reconhece o padre Sérgio Mendes.
Apoios
No serviço pastoral, o pároco de Oeiras conta com o apoio de vários sacerdotes que têm “outros trabalhos”, mas que estão “ligados” à paróquia. “Alguns, são professores, outros, já estão reformados. O padre mais velho é o padre Apolinário. É um sacerdote que veio de Timor, acabou por ficar por cá e ajuda nas celebrações de semana, principalmente no acompanhamento espiritual, através das confissões. Depois, o padre Luís Pedro Adeganha, sacerdote Espiritano. É professor no Colégio Amor de Deus, em Cascais, e ajuda em algumas celebrações. Com menos presença, o frei Albertino, que está na Comunidade Franciscana do Seminário da Luz e costuma vir, uma vez por mês, no primeiro sábado, celebrar Missa. É a data em que se reúne a equipa de casais que ele acompanha, que são desta zona”, explica o padre Sérgio. Ao sábado e Domingo, o trabalho dos sacerdotes divide-se por dois locais de culto: a Igreja Matriz, com cinco Missas dominicais, e o salão, no Centro Social Paroquial de Oeiras, no bairro da Figueirinha, que conta apenas com duas celebrações. Em cada fim-de-semana, a média de pessoas em cada celebração é de 150 pessoas, na igreja paroquial e de 180, no salão do centro social paroquial.
Iniciação à vida cristã
Depois de um ano à frente da paróquia, o padre Sérgio Mendes procura uma “resposta” que o ajude “na iniciação à vida cristã” da comunidade, mas sempre garantindo que aquilo que existe atualmente “não morra”. A funcionar com cerca de 300 crianças e 25 catequistas, os dez anos de catequese na paróquia são uma realidade que não é procurada por uma grande parte das famílias. “Como o extrato de vida social é um pouco acima da média, muitas dessas crianças andam em colégios onde a catequese está integrada. Quem vem à catequese da paróquia são crianças mais desfavorecidas ou de alguma família que tem a preocupação da inserção na vida paroquial. Por essa razão, temos poucas crianças na catequese, em comparação com o número de crianças que aqui vive”, justifica.
Na Pastoral Juvenil, uma das respostas chama-se JUF, a sigla de ‘Jovens Unidos pela Fé”, e procura integrar os jovens que, mesmo estando noutras cidades para estudar, tenham sempre a possibilidade de “alimentar os laços criados”, nem que seja apenas “de 15 em 15 dias”. “Este grupo, que começou com o pároco anterior, o cónego Mário Pais, tem como objetivo integrar os jovens nalguma dinâmica, possibilitando-lhes que, depois do Crisma, não fiquem no vazio”, aponta o padre Sérgio. Na paróquia de Oeiras, existe também o agrupamento (407) de escuteiros, que este ano celebra os 45 anos de existência. Dividido pelas quatro secções, o agrupamento conta com 100 elementos.
Para além de um grupo de catequese de adultos, com vista à preparação para o Crisma, da Legião de Maria e do Renovamento Carismático, existe um grupo que é fruto da caminhada sinodal que o Patriarcado de Lisboa tem percorrido. Na caminhada para o Sínodo Diocesano 2016, um dos grupos que foi criado para os encontros de preparação, com cerca de 15 pessoas, acabou por permanecer e continua a reunir-se regularmente para a ‘lectio divina’. “É fruto desses encontros”, atesta o pároco, padre Sérgio, lembrando ainda o trabalho que foi desenvolvido, ao longo de nove anos, pelo seu antecessor, cónego Mário Pais. “Na Pastoral Familiar, o padre Mário procurou dar um novo impulso, provocando encontros e trazendo casais novos. Na catequese, trouxe novos catequistas e a paróquia conseguiu voltar a ter todos os anos de catequese”, revela.
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Padre Fernando Martins é “como um pai para a paróquia”
A celebração que assinalou os 275 anos da dedicação da Igreja Paroquial de Oeiras contou com a presença do padre Fernando Martins que ali foi pároco durante 43 anos, entre 1966 e 2009. Segundo o atual pároco, padre Sérgio Mendes, o padre Fernando, atualmente com 95 anos, “continua a ser uma referência”. “Vejo-o como um pai para a paróquia. As pessoas recorrem a ele frequentemente, gostam de ter a presença dele, não por aquilo que ele faz ou por aquilo que possa dizer, mas pela marca que teve nas suas vidas. Têm um carinho muito grande, como de filhos para com os seus pais ou de netos para com os seus avós”, refere o atual pároco de Oeiras.
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