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Relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’, da Fundação AIS, sobre a perseguição aos Cristãos entre 2017 e 2019
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De dois em dois anos, a Fundação AIS publica um trabalho de investigação sobre a perseguição aos Cristãos. O último Relatório, cujo lançamento ocorreu no passado mês de Outubro, em Lisboa, no Centro Nacional de Cultura, com a presença de Paulo Portas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, deixa uma conclusão inquietante: A ameaça mantém-se.

 

Os Cristãos continuam a ser a comunidade religiosa mais perseguida no mundo e, em muitos países, em muitos lugares, a sobrevivência do Cristianismo está mesmo em causa. Com excepção dos principais países do Médio Oriente, nomeadamente Síria e Iraque, em que a perseguição aos Cristãos diminuiu após a derrota militar do Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico, não há sinais de abrandamento da violência sobre esta comunidade religiosa. Todos os restantes países analisados pela Fundação AIS apontam para a continuação ou agravamento da perseguição aos Cristãos, sendo que o continente africano adquire cada vez mais relevo neste mapa de terror. O facto de o Daesh ter sido derrotado na Síria e Iraque – apesar de haver sinais de ressurgimento do grupo jihadista –, isso não significa que as consequências das suas actividades terroristas não continuem a fazer-se sentir. O impacto da tentativa de genocídio dos Cristãos provocou um enorme fluxo migratório e uma indisfarçável crise de segurança, além de que acentuou a pobreza extrema que já se fazia sentir em várias áreas nesta vasta região.

 

Dever de lembrar

A lenta recuperação e reconstrução de aldeias, igrejas e casas de cristãos destruídas pelos jihadistas pode significar, alerta o relatório da Fundação AIS, um passo relevante para o “desaparecimento do Cristianismo” nesta região. Os jihadistas não acabaram com a presença cristãs, mas deixaram uma forte semente de destruição, de pobreza e de medo que está a fazer a sua caminhada. “A contagem decrescente” para o fim da presença cristã nesta região, “parece imparável”. Esta situação traduz uma realidade algo contraditória. É que, diz o relatório da AIS, “a comunidade internacional mostra uma preocupação sem precedentes em relação à perseguição” aos Cristãos. No entanto, “as medidas tomadas até à data poderão não ser suficientes para garantir o futuro da presença da Igreja” nesta região. Todo o Relatório é, aliás, um aviso que não pode ser ignorado. “Temos o dever de lembrar às sociedades ocidentais – disse Paulo Portas – que há muitos cristãos que são perseguidos, que não podem viver em liberdade, que uma parte da sua dignidade está capturada e que precisam de ser lembrados, que precisam de ser falados e que se actue mais em sua defesa.”

 

Novas preocupações

Se a derrota do Daesh aliviou o garrote terrorista sobre os Cristãos na Síria e Iraque, o mesmo já não se passa por exemplo em África onde são se têm multiplicado os atentados em Igrejas, paróquias e escolas cristãs. Pode dizer-se quase que todo o continente está infectado pelo vírus jihadista. Da Nigéria, na África Ocidental, a Madagáscar, na África Oriental, os Cristãos “estão ameaçados por islamitas que procuram eliminar a Igreja, seja pelo uso da força, ou por meios desonestos, incluindo subornar pessoas para que se convertam”. Uma situação que também se aplica à Ásia. “A perseguição contra os Cristãos agravou-se sobretudo na Ásia Meridional e Oriental. Esta é agora a região mais crítica a nível de perseguição”, constata o Relatório da Fundação AIS, dando alguns exemplos, como os ataques a igrejas no Sri Lanka e nas Filipinas que traduzem uma ameaça que tem origem não só no extremismo islâmico, mas também do nacionalismo populista e dos próprios regimes autoritários, como é o caso da China e da Coreia do Norte, mas também da Eritreia ou Sudão, por exemplo. O crescente nacionalismo tem vindo a traduzir-se num aumento da ameaça contra os Cristãos e todos os grupos minoritários em países como a Índia, Sri Lanka e Mianmar (a antiga Birmânia). Portas sintetizou esta realidade afirmando que “há uma nova geografia de preocupações”. Durante a presentação do relatório, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros referiu-se por diversas vezes ao silêncio cúmplice da comunidade internacional, que parece querer ignorar todos os sinais da violência com matriz religiosa contra os Cristãos, uma situação que, por contraste, sublinha ainda mais a importância do trabalho da Fundação AIS. “Este relatório – disse Paulo Portas – é uma enorme ajuda a que essa perseguição aos Cristãos não fique em silêncio e não fique esquecida no conforto daqueles que não sentem essa perseguição.”

 

E se fossemos nós?

D. Joseph Coutts, Arcebispo de Karachi, no Paquistão, escreve, no Relatório da Fundação AIS, que os Cristãos são a comunidade religiosa mais perseguida no mundo. Essa perseguição acontece sob muitas formas. Há a violência terrorista que funciona com a força bruta das armas, e há a perseguição mais subtil, que resulta da discriminação, das ameaças, da extorsão, dos raptos e conversões forçadas, da negação dos direitos ou das restrições à liberdade. O Paquistão continua a ser um dos países onde os Cristãos mais sofrem. Apesar do reforço das medidas de segurança, os ataques continuam a ocorrer e são uma ameaça permanente. Diz D. Joseph Coutts que “os grupos militantes tornaram-se difíceis de controlar, deixando-nos assim num estado de constante tensão, por termos sempre presente que algures, nalgum momento, vai haver outro ataque. Onde e quando, ninguém sabe”… Vai haver outro ataque. Não se sabe onde nem quando. Esta realidade questiona brutalmente a coragem dos Cristãos no Paquistão, assim como em tantos outros países do mundo. E se fossemos nós?

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