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Santos Tai Gatluk: um catequista refugiado em Bidibidi, no Uganda
Uma vida em fuga
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“Conheço a guerra desde a barriga da minha mãe.” Tem 33 anos, mas parece muito mais velho. Parece mesmo não ter idade. Vive num campo de refugiados no Uganda, mas nasceu no Sudão do Sul. Pertence à chamada “geração perdida”. Nunca soube o que é viver em paz. Por isso teve de abandonar tudo e partir. Ali, no campo de Bidibidi, há milhares de pessoas como Santos Gatluk.

 

O campo de refugiados de Bidibidi, no Uganda, parece não ter fim. Na verdade, não é bem como um campo de refugiados tradicional, pois parece mais um aglomerado gigantesco de cabanas de madeira cobertas com colmo, cabanas que foram nascendo como por geração espontânea. Fica situado perto da fronteira com o Sudão do Sul. Calcula-se que em Bidibidi haja cerca de 300 mil pessoas oriundas deste país. São pessoas em fuga. Não é fácil falar dos horrores da guerra, mas ali, no campo de Bidibidi, torna-se mesmo doloroso. O Sudão do Sul é o mais jovem país do mundo. Ganhou a independência em 2011 e praticamente desde então tem vivido em guerra. O Sudão do Sul está dividido em duas grandes etnias, os dinka e os nuer. A guerra, que também é tribal, já ceifou mais de 400 mil vidas e obrigou milhões de pessoas a fugir, perdendo tudo o que tinham. Santos Gatluk é uma dessas pessoas.

 

Geração perdida

Fugiu da guerra para fugir da morte. A sua história confunde-se com a do seu país. É trágica. Nasceu em 1986, numa família cristã de agricultores e pastores. Quase todos já morreram. Gatluk já esteve várias vezes no meio de combates, apanhado no fogo cruzado, entre grupos de milícias, forças do exército, bandos armados. Santos Gatluk aprendeu a sobreviver. “Conheço a guerra desde a barriga da minha mãe”, disse a uma equipa da Fundação AIS que o visitou no campo de refugiados onde vive desde o dia 28 de Agosto de 2016. “Chamam-nos a ‘geração perdida’; somos pessoas sem perspectivas para o futuro. Perdemos as famílias, as propriedades… as nossas vidas foram destruídas.”

 

Lutar para sobreviver

O campo de Bidibidi é imenso, já foi comparado até a uma verdadeira cidade. No entanto é como se fosse uma armadilha. Ninguém quer viver para sempre num lugar assim, um campo de refugiados. Mas ali ninguém tem alternativa, ninguém tem outro lugar para onde ir. Estão presos àquela realidade. Ali estão milhares de pessoas que, como Santos Gatluk, tiveram de fugir para salvar a própria vida. Ninguém está seguro em lado algum. Nem ali. O campo de refugiados acolhe gente de todo o lado. Cristãos e muçulmanos, animistas, pessoas generosas e bandidos. Sobreviver num campo de refugiados em África é difícil. Em Bidibidi é muito difícil. “Temos de defender a comida que a ONU nos dá”, explica Tai Gatluk. “Literalmente, temos de lutar para conseguir lenha para podermos cozinhar para sobreviver.”

 

A missão de Santos

Apesar de tudo, Santos Tai Gatluk pretende continuar em Bidibidi. Tem uma missão para cumprir. Ele é um dos rostos da Fundação AIS neste campo de refugiados. Tornou-se catequista depois de ter feito um pequeno curso de formação. “Se não tivesse sido a Igreja, eu já tinha deixado Bidibidi. Mas, graças ao trabalho da Fundação AIS, fiquei.” Santos Gatluk leva a sua missão muito a sério. É um catequista orgulhoso do seu trabalho. “Temos que ser bem formados para podermos evangelizar, para podermos oferecer aos nossos companheiros refugiados uma razão para viver”, explica. “Por causa da falta de sacerdotes e religiosas damos catequese e distribuímos a Eucaristia.” Fazem tudo isso e procuram ter sempre um sorriso nos lábios. Desde que é catequista que Santos Gatluk pensa mais no futuro do que fala do passado. Mas os tempos de guerra estão sempre presentes, como se fossem um fantasma que teima em não partir.

 

Um presente de fé

A guerra na região arrastou milhares de rapazes e raparigas para o flagelo da violência. São as crianças-soldado. Roubadas à família e aos amigos, perderam tudo, a inocência, a infância, a alegria. Muitas destas crianças que andaram aos tiros, que foram violentadas, estão ali. Forçadas a entrar nas milícias, foram treinadas para matar. Agora, elas são também uma razão para a presença de Santos Tai Gatluk no campo de refugiados de Bidibidi. “Não basta dar-lhes comida e abrigo. Temos de reintegrá-las numa vida normal. Mas isso só será possível se trouxermos Jesus para as suas vidas.” O campo de refugiados de Bidibidi, no Uganda, parece não ter fim, como parecem infindáveis as histórias de violência, amargura e medo dos milhares de homens, mulheres e crianças que ali vivem. Ninguém está ali por opção. Todos estão em fuga. Bidibidi é um local de passagem para vidas em sofrimento. Todos os que ali vivem anseiam por um futuro melhor e pedem ajuda. O catequista Santos Gatluk fala por eles. “Neste Natal, faça uma oferta que permaneça: Um presente de fé aos Cristãos que sofrem. A sua fé é, para nós, um dom.Faltam cinco semanas e meia para o Natal…

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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