São cada vez mais as pessoas que perguntam o que é específico da fé cristã. Sobretudo à volta da época do Natal. Ser cristão é só ser uma boa pessoa e acreditar que Deus existe? Mas não há tantas boas pessoas e há tantas pessoas que dizem que Deus existe e que não partilham a fé em Jesus Cristo! Na verdade, há algo de mais complexo e mais completo na vida de um cristão. Vale a pena preparar o Natal pensando algumas notas que identificam um cristão.

Sem pretender ser exaustivo, diria que há cinco pontos fundamentais a sublinhar. Não penso que a ordem com que os vou apresentar seja a única, nem pretendo que haja uma cronologia entre eles, pois cada crente tem uma história diferente. Contudo, creio que todas estas notas, independentemente do modo como se foram enraizando, estão presentes na vida de um cristão maduro.

1. Ter vivo o sentido religioso. Um cristão é alguém que quando olha para a realidade consegue ficar maravilhado. Comovido pela beleza e pela ordem, percebe, apesar de haver tanto mal e pecado que ofusca a vista, que a criação é sinal de um Criador. Além desse olhar para o exterior, há o olhar interior que descobre no coração a exigência de uma plenitude de vida que este mundo não é capaz de satisfazer. Isto significa dar-se conta da necessidade de afirmar a existência de Deus, mas também de ter com Ele uma relação. Ter uma vida religiosa é mesmo perceber que tudo na vida está relacionado com Deus e procurá-Lo ativamente.

2. A vida cristã, porém, é mais do que isso. Ela também significa a aceitação – que mais precisamente quer dizer o acolhimento – do facto de Deus Se ter revelado e nos ter falado. Não só dizemos que Deus existe e que precisamos d’Ele, como também acreditamos que Ele Se dá a conhecer e nos dá a conhecer o Seu plano para nós. Damos importância à Palavra de Deus. Isto é decisivo: conhecendo Deus, começamos a conhecer-nos também a nós mesmos e aos outros, e assim vamos descobrindo o sentido de tudo. Nada do que Deus nos diz nos deixa na mesma.

3. Finalmente, no aspeto mais específico, que de facto caracteriza a fé cristã, está o encontro com Jesus Cristo. Um encontro é sempre algo que acontece realmente, não é uma ideia ou um sentimento. O cristianismo é a afirmação do acontecimento de Jesus Cristo. Que irrompe pela história e que a transforma. O encontro com Jesus Cristo é algo que realmente afeta a vida da humanidade e de cada um que o acolhe. Jesus Cristo é a essência do cristianismo. Em Jesus, Deus não só nos fala como comunica-nos a Sua vida para nos salvar do pecado. Se não percebemos o drama do pecado – como os fariseus do evangelho que se julgavam impecáveis – não percebemos a importância de Jesus Cristo, do porquê da Incarnação e da Redenção. Quando nos encontramos com Cristo, com a Pessoa viva do ressuscitado, temos a certeza de que algo acontece nas nossas vidas. A fé cristã é o acolhimento de Jesus. Não basta dizer que Deus existe ou que a Sua Palavra é decisiva, o cristão acolhe Jesus e o Espírito Santo que Ele envia, tornando-se, por isso, homem novo, filho de Deus. O cristão acredita na Santíssima Trindade e vive em comunhão com ela.

4. Nada disto é simplesmente passado. O cristão vive o presente, vive o encontro com Jesus aqui e agora. Por isso a importância da Igreja. Ela é não só a comunidade dos crentes, mas o próprio Corpo de Cristo. Por aquilo que é e faz, especialmente nos sacramentos, torna-nos contemporâneos de Jesus Cristo. Um cristão nunca é uma pessoa isolada, é sempre uma pessoa comunitária, um homem ou uma mulher da Igreja. Isto passa pela participação na vida da comunidade através do convívio com os irmãos e sobretudo na liturgia, mas também pede uma intensa vida interior que a liga ao todo da Igreja. Unido à Igreja o cristão adere de coração à doutrina da Igreja e acolhe como verdade para ser aplicada na vida a compreensão da Palavra de Deus que a Igreja explica na sua Tradição.

5. Por fim, o cristão, porque vive unido a Cristo, sente como seu o amor de Deus por todos os homens e, como Deus quer que todos se salvem, também quer que todos conheçam e amem Jesus Cristo e se tornem filhos de Deus pelo batismo. Faz parte da identidade do cristão ser crente, mas também missionário, anunciador da fé, testemunha entusiasmada e capaz de atrair outros.