Missão |
Rita Nery, missionária com Irmãs Combonianas “Sou testemunho de um Deus que dança!”
“Sou testemunho de um Deus que dança!”
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Rita Nery nasceu a 20 de março de 2001, no Hospital de Matosinhos. Vive em Esposende e frequenta o 12º ano no curso de Ciências e Tecnologia, na Escola Secundária Eça de Queirós, na cidade da Póvoa de Varzim. A 28 de junho de 2019 partiu para Moçambique por um mês, com as Irmãs Combonianas.


Na sua família existe uma regra: “Todos os meus primos, incluído eu, somos batizados e obrigados a frequentar a catequese até realizarmos a 1ª Comunhão, depois cabe a cada um de nós decidir se queremos continuar ou não. No meu caso, eu era muito imatura para compreender Jesus: o maior exemplo de sabedoria, perseverança e compaixão. Então, desisti da catequese e dizia que nunca mais iria. Nunca tive uma boa experiência de catequese, nada do que era dito me cativava nem mesmo as atividades em si.” Quando entrou para os escuteiros, em 2013, o CNE (Corpo Nacional de Escutas) informou que tinha de frequentar a catequese obrigatoriamente e conta: “Amei frequentar os escuteiros, mas não a catequese porque mais uma vez não me identificava. Quando saí dos escuteiros em 2015, saí da catequese para nunca mais voltar. Mas a vida dá muitas voltas e Deus dança connosco.” Sempre foi muito ligada à sua avó Elsa, que “é muito católica”, e foi com o convite dela que em 2017 entrou na preparação para o sacramento do Crisma (e começou a aprender a tocar guitarra). Quando já estava na reta final, participou num retiro na casa dos Combonianos em Famalicão e a sua vida deu uma grande volta. “Quem nos deu o retiro, família Comboniana, talvez não se tenha apercebido da marca e da semente que colocara em mim, sou imensamente grata ao Ricardo e à Andreia por os ter conhecido e pela maneira como despertaram a minha alma. Os temas abordados, a maneira como falavam de Cristo como alguém que nos ama e ama a vida e o testemunho em primeira mão de missão em África desmontou todo o meu ser. Lembro-me de nos momentos de intervalo andar sempre atrás da Andreia para saber mais acerca da missão, como podia eu fazer missão. Eu olhava com tanta admiração para a Andreia (Leiga Missionária Comboniana) que eu pensava: ‘quando crescer quero ser como ela’.” No final do retiro esperou ansiosa pela atividade de verão, “o Missão +, que é uma experiência de voluntariado nos bairros sociais de Lisboa, em Camarate.” Amou a experiência e no final diz: “Vi Cristo no seu sorriso e alegria, vi amor e entrega na partilha do seu testemunho. Senti-me muito tocada, algo gritava bem alto no meu ouvido: eu queria conhecer Jesus Cristo!”

 

“Deus dança comigo!”

Começou a frequentar a casa das Irmãs Combonianas em Lisboa e o que mais gostava “era ficar a ouvir as histórias das Irmãs nas missões”. Durante um ano teve encontros mensais com a Irmã Rosineide que a “ajudavam a conhecer Cristo”. Em janeiro de 2019 partilhou com a Irmã o desejo de partir para África. E assim foi. No final de junho de 2019 partiu por um mês para Moçambique e partilha na primeira pessoa: “Cheguei na cidade da Beira pela noite. Os primeiros três dias fiquei na cidade com as irmãs Otília e Rita. Deu para ver a destruição causada pelo ciclone Idai que afetou muito as vidas de muita gente. As estradas estão muito feias, as árvores estão ainda caídas, inclusive a casa das irmãs Missionárias Combonianas (onde eu estava a dormir) também sofreu. Ainda muita gente tenta recomeçar a vida após ciclone. Apesar da tragédia que aparenta ser e que é, a alegria deste povo, a fé em Deus nas suas vidas é muito grande e isso faz da cidade, uma cidade muito bonita, bonita porque é possível ver Deus, um Deus que vive bem próximo de cada um. Música e dança por todo lado, os sorrisos, uma enorme alegria e vontade de viver! Ciclone Idai? Pouca coisa quando comparada à coragem, à bondade, à fé e ao amor existentes nos corações deste maravilhoso povo. Os três dias passaram e chegou a hora de viajar para a missão de Mangunde que fica no distrito de Chibabava a aproximadamente 400 km da cidade da Beira, no interior. Esta missão pertence a um conjunto de missões chamada Esmabama. Na missão de Mangunde existe uma escola pública com mais de 2000 alunos do 1º ano até ao 12º ano. Tem internato feminino e masculino para aqueles alunos que por serem de sítios bem longe, não têm a oportunidade de transporte diário e ficam a pernoitar nos internatos. Existe hospital, igreja e escola agrária também. Todo o mês foi uma aventura, várias vezes tive de sair da minha zona de conforto. O meu dia começava às 5h30 da manhã com oração na capela das irmãs, seguida de pequeno-almoço, às 6h45 ia para a escola onde tinha a oportunidade de dar aulas de substituição a professores que faltavam ou então quando não havia substituições para dar sentava-me como aluna de uma turma e aprendia com os meus colegas e os professores. O trabalho na escola terminava às 10h, depois ia para o internato dar apoio ao estudo às meninas conforme as dificuldades que iam surgindo, às vezes era português, outras vezes matemática, filosofia. Às 12h30 almoçava, algumas vezes com as irmãs em casa, outras vezes no internato com as meninas. Depois do almoço chegava a hora de dedicar o meu tempo ao que surgisse, sem grande planeamento, fazia o que Deus trazia para mim. Engraçado que todos os dias era diferente. Por volta da 13h já eu ouvia os risos ingénuos e os gritos a chamar por mim: ‘Mana Rita, mana Rita!’ Às 18h30 voltava a casa para a oração da noite com as irmãs. Jantávamos, partilhávamos e terminava assim cada dia. Toda a minha experiência foi marcante, cada segundo foi vivido com intensidade. Com o povo aprendi que o momento presente é o momento mais valioso que podemos ter em nossas vidas, porque é a viver cada momento do dia que tu vives uma vida com Deus e começas a ver Deus em tudo e em todos. Não importa pensar no que já passou, porque esse tempo nunca mais virá novamente, nem importa perdermos o nosso tempo pensando no que poderíamos fazer amanhã. Não importa que roupa levas, que coisas possuis. A vida está na tua porta pronta para ser aproveitada. Ama o teu vizinho, acolhe, sorri, partilha, constrói, dança e canta! E para vos mostrar que aquilo que digo sai de um sentimento vivido com o povo Africano conto-vos um dos momentos que vivi: Em Mangunde, na comunidade inteira existir rede para comunicar é quase impossível. No entanto existe um lugar, junto de uma árvore onde é possível nós comunicarmos e termos internet. Então numa tarde, dirigi-me à árvore para falar com os meus pais e minha família. A minha intenção era essa, mas assim que me aproximei da árvore começo a ouvir ‘Musikana…Musikana…’ que significa menina em ndau, dialeto falado na zona. Comecei a rir e saí de onde estava para ir ao encontro das pessoas que me chamavam. Era uma família inteira que tinha ouvido a minha apresentação na igreja e queriam-me conhecer. Ficámos a tarde toda juntos, rimos muito e dançámos muito. Foi dos dias mais felizes da minha vida e foi um momento tão simples. Percebi que Deus dança connosco se mostrarmos abertura em receber o que Deus nos quer dar. Deus dançou comigo porque me levou até esta família tão bonita, por caminhos que eu pensava que conhecia uma vez que o meu objetivo era chegar até na árvore. Deus me levou até Moçambique levando-me a pensar que viajava sozinha, quando na verdade Deus colocou sempre, em toda a viagem, anjos da guarda que me acompanharam todo o mês e hoje me acompanham no meu coração aqui em Portugal. Quando percebi que Deus dança comigo dei-me conta da sua autenticidade em toda a minha vida, porque é Ele que nos leva para a frente, para trás, para um lado e para o outro, para cima e para baixo sempre em conformidade com a nossa felicidade. Existirá melhor dança que esta?”

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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