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O sonho da vida do Padre Piotr estava a 9.940 km de distância
Tudo por Deus
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Nasceu na Polónia, na aldeia de Lubowo, perto de Gniezno. Desde pequeno queria ser padre. Na verdade, sonhava em ser missionário. Teve de esperar muitos anos até ao dia em que foi enviado para a Amazónia brasileira. Hoje, trabalha com as famílias que vivem ao longo do rio em plena selva. Todos os dias enfrenta perigos e dificuldades. Nada disso, porém, o intimida. “Sou uma pessoa feliz”…

 

Tinha 12, 13 anos quando a mãe lhe perguntou o que gostaria de fazer quando fosse grande, quando fosse adulto. Piotr Shewior nunca mais esqueceu esse dia. Estavam os dois, ele e a mãe, no meio do campo, numa enorme quinta com quase vinte hectares, quando falou pela primeira vez nessa ideia que já alimentava os seus sonhos: ser padre. Na verdade, na primeira vez em que pensou seguir o sacerdócio só desejava ter uma vida menos dura do que a de produtor de beterrabas, que era o sustento da família desde os tempos dos avós. Mas depois a ideia foi crescendo com a imaginação a inflamar-se na leitura das revistas sobre as missões da Igreja que iam parar lá a casa. Quando Piotr disse à mãe, no meio do campo de beterrabas, que queria ser padre, deveria ter dito que sonhava ser missionário. Mas teria ainda de esperar muitos anos até esse dia chegar.

 

Um convite…

A mãe tomou a sério as suas palavras e encaminhou-o para o seminário e acompanhou-o pelos anos fora até ao dia da ordenação. Foi uma festa. Piotr Shewior estava feliz, mas ainda não totalmente realizado. Mandaram-no para Roma, para completar os estudos, deram-lhe depois a responsabilidade de algumas paróquias na Polónia, mas Piotr via tudo isso como provisório, como uma passagem para outro lugar, para uma missão num país distante. Deixou, até, o seu nome e contacto numa comunidade religiosa sempre com a secreta esperança de que um dia seria chamado para servir a Igreja como missionário. “Estava disponível para ir para onde me mandassem, fosse na Ásia, em África ou na América Latina.” Os desejos foram escutados e um dia o Padre Piotr recebeu uma carta. Era um convite para ingressar numa missão no Brasil. Disse logo que sim.

 

No coração da Amazónia

Os primeiros dez anos foram passados na Diocese de Luziania. Estava perto de concretizar o sonho. Sete anos mais tarde, recebeu enfim a proposta por que tanto ansiava: “Fui enviado para a cidade de Tefe, situada no coração da Amazónia”. Os primeiros tempos foram de surpresa e de ambientação. “Não conhecia ninguém, mas tinha a certeza de que o Deus que me chamou na Polónia era o mesmo Deus que me tinha recebido no Brasil…” Ser missionário significa estar sempre aberto à experiência, estar sempre disponível para os outros. Muitas vezes significa ter de aprender outra língua, descobrir outras comidas, adaptar-se a usos e costumes diferentes. É sempre um tempo de descoberta. A ida para a Amazónia foi um deslumbramento. “Os povos indígenas têm muita fé. Ninguém duvida na existência de Deus ao ver o mundo tão bonito que os circunda.” O Padre Piotr é responsável por 35 comunidades espalhadas ao longo do rio. São 35 comunidades e ainda uma parte da Paróquia de Tefe. É um trabalho imenso, mas não se queixa. Pelo contrário. “O facto de estar a trabalhar no coração da selva deixa-me feliz. Sou uma pessoa feliz.”

 

A grande estrada

Durante pelo menos três vezes ao ano, o padre polaco vive no coração da selva, no meio do rio, no barco que foi doado à paróquia pela Fundação AIS. O rio é, por ali, a grande estrada. Deixa-se a cidade e acaba logo o alcatrão. As ruas transformam-se em caminhos de terra batida, às vezes até impróprios para os carros. “Não há nada, apenas nós e a selva… só conseguimos viajar pelo rio. Duas a três vezes por ano vamos de barco visitar as 35 comunidades situadas ao longo das margens.” São pequenos aglomerados de gente, às vezes não chegam a ser sequer do tamanho de uma aldeia, são apenas pequenos lugares com meia dúzia de famílias que vivem na floresta junto à margem do rio. São os paroquianos do padre polaco. Desde a cidade de Tefe até à comunidade no lugar mais longínquo são precisas cerca de 20 horas de barco. Só o padre tem a preocupação de visitar aquelas pessoas esquecidas pelo resto da sociedade. “Mais ninguém faz isso.”

 

O sonho de uma vida

As temperaturas são altas, a humidade é por vezes brutal. “Sente-se isso no próprio corpo. No princípio é difícil. Troco de camisa e de lenço várias vezes ao dia. Mas fazemos tudo por Deus. Fazemos qualquer coisa por Deus.” Nem sempre é possível viajar pelo rio. Em especial na estação seca há muitos troncos grandes no fundo do rio que podem danificar o barco. E depois, há sempre crocodilos e alguns peixes que atacam os seres humanos. É perigoso. Mas não há nada que pague a alegria dos que pressentem a chegada do sacerdote e vêm recebê-lo nas margens do rio. “Eu tento ir a todas as casas. Se uma criança deve ser baptizada, preparo os pais e os padrinhos. Converso com eles sobre Jesus.” Não há dois dias iguais nesta paróquia que se estende ao longo das margens do Amazonas. “Até um bebé já nasceu aqui no barco”, diz o padre polaco recordando a viagem em que teve de acudir uma mulher em trabalho de parto. “Graças ao barco que a Fundação AIS nos ofereceu, posso chegar até àqueles que precisam tanto da nossa presença. Em todo o mundo há muito homens e mulheres como eu que querem estar perto das pessoas, apesar das dificuldades. Eles precisam da vossa ajuda.” Fazer tudo por Deus era o sonho da vida do padre Piotr. Um sonho que, afinal, estava a 9.940 km de distância do lugar onde nasceu.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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