
Na primeira audiência-geral de 2020, o Papa Francisco alertou para a “frieza da indiferença e da desumanidade”. Na semana em que desafiou os cristãos a superar tentações, o Papa reafirmou que a vida deve ser “acolhida, tutelada, respeitada”, apelou ao diálogo entre “religiões e pessoas de boa vontade” e lembrou as mulheres vítimas de violência.
1. O Papa Francisco sublinhou que os cristãos têm o dever de acolher os “náufragos da história” que chegam às costas da Europa, para os salvar da “frieza da indiferença e da desumanidade”. “Peçamos ao Senhor que nos ajude a ser sensíveis aos tantos náufragos da história que chegam exaustos às nossas costas, para que também nós os saibamos acolher com o amor fraterno que vem do encontro com Jesus”, referiu, na audiência-geral de quarta-feira, 8 de janeiro, a primeira do novo ano 2020.
No Sala Paulo VI, no Vaticano, perante milhares de pessoas, a intervenção do Papa partiu de uma passagem dos Atos dos Apóstolos, que serve de inspiração à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro), para evocar os migrantes e refugiados que são vítimas de naufrágios no Mediterrâneo. Francisco destacou a hospitalidade com que São Paulo e todos aqueles que o acompanhavam foram acolhidos em Malta, pedindo que os cristãos “sejam sensíveis aos sofrimentos” das pessoas que encontram. “O amor de Deus é sempre fecundo”, declarou, sublinhando que esta aparente tragédia se transformou, para o apóstolo, numa “ocasião propícia para dar carne à palavra que anuncia e exercitar um ministério de compaixão”. “Um cristão que foi provado pode, certamente, fazer-se mais próximo de quem sofre e tornar o seu coração aberto e sensível à solidariedade com os outros”, indicou.
Nesta audiência-geral, que contou com uma breve exibição de artistas do Circo Aqua, o Papa lembrou ainda a celebração da festa litúrgica do Batismo do Senhor, neste Domingo, 12 de janeiro, desejando que todos saibam a data do seu próprio Batismo, para trazer sempre este aniversário “no coração” e agradecer por esse momento.
2. Na Missa de Reis, no Vaticano, o Papa Francisco apontou que os cristãos devem-se cingir ao essencial na adoração. “O homem, quando não adora a Deus é levado a adorar-se a si mesmo. É um risco sério: servir-se de Deus, em vez de servir a Deus. Quantas vezes trocamos os interesses do Evangelho pelos nossos; quantas vezes revestimos de religiosidade aquilo que a nós nos convém; quantas vezes confundimos o poder segundo Deus, que é servir os outros, com o poder segundo o mundo, que é servir-se a si mesmo!”, alertou. Segundo Francisco, “adorar é ir ao essencial”. “De facto, adorando, aprende-se a rejeitar o que não deve ser adorado: o deus dinheiro, o deus consumo, o deus prazer, o deus sucesso, o nosso eu arvorado em deus”, declarou, na homilia.
Na Basílica de São Pedro, na manhã da passada segunda-feira, dia 6 de janeiro, o Papa lembrou o exemplo dos três Magos que, segundo os Evangelhos, tinham como objetivo do seu caminho “adorar” Jesus, após o seu nascimento. “Se perdermos o sentido da adoração, falta-nos o sentido de marcha da vida cristã, que é um caminho rumo ao Senhor, e não para nós”, indicou, pedindo que fiéis e comunidades encontrem “espaço para a adoração” no seu quotidiano.
Na véspera, durante o Angelus, o Papa Francisco tinha pedido o fim do “terrível ambiente de tensão” que se vive em “tantos lugares do mundo”. Sem referir especificamente o Médio Oriente ou a situação no Iraque, onde a tensão está particularmente grave depois de os Estados Unidos terem morto, num ataque, o número dois do regime iraniano Qassem Soleimani, Francisco improvisou em relação ao texto escrito e pediu a aposta no diálogo. “Em tantos lugares do mundo respira-se um terrível ambiente de tensão”, lamentou. “A guerra só traz a morte e a destruição. Peço a todos que mantenham acesa a chama do diálogo e do autocontrolo e de afastar a sombra da inimizade”, concluiu, antes de pedir a todos os presentes para rezar “em silêncio para que o Senhor envie esta graça”.
3. Na mensagem para o Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro), o Papa dirige-se aos doentes, aos cuidadores e aos profissionais de saúde, e reafirma que a vida deve ser “acolhida, tutelada, respeitada e servida desde o seu início até à morte”, e que se trata de uma exigência “tanto da razão, como da fé em Deus, autor da vida”. Perante tantas formas de sofrimento, “nota-se por vezes carência de humanidade, pelo que se revela necessário, para uma cura humana integral, personalizar o contacto com a pessoa doente acrescentando a solicitude ao tratamento”, acrescenta o texto, divulgado no passado dia 3 de janeiro.
Na mensagem com o tema ‘Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos’, o Papa pede ainda aos profissionais de saúde que “o substantivo «pessoa» venha sempre antes do adjetivo «doente»” e que a sua ação “tenha em vista constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a atos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se for irreversível o estado da doença”.
4. O Papa pediu, na sua primeira intenção de oração para 2020, que crentes das várias religiões e não-crentes se unam por um mundo de justiça e paz. “Rezemos para que os cristãos, os que seguem outras religiões e as pessoas de boa vontade promovam juntos a paz e a justiça no mundo”, refere Francisco, na edição de janeiro de ‘O Vídeo do Papa’, falando num “mundo dividido e fragmentado”. “A nossa fé leva-nos a difundir os valores da paz, da convivência, do bem comum”, apontou.
5. Na primeira Missa do ano no Vaticano, a 1 de janeiro, o Papa lembrou todas as mulheres vítimas de violência. Na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, Francisco afirmou que o “renascimento da humanidade começou pela mulher” e que, apesar de as mulheres serem “fonte de vida”, “são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a prostituir-se e a suprimir a vida que trazem no seio”. “Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher. A salvação chegou à humanidade, a partir do corpo de uma mulher: pelo modo como tratamos o corpo da mulher, vê-se o nosso nível de humanidade”, sublinhou.
Neste dia, a Igreja assinalou o 53.º Dia Mundial da Paz, instituído pelo Papa Paulo VI. “Se queremos um mundo melhor, que seja casa de paz e não palco de guerra, tenhamos a peito a dignidade de cada mulher. Da mulher, nasceu o Príncipe da paz”, afirmou o Papa.