A presidente da Fundação Bento Menni, irmã Paula Carneiro, sublinha a importância da prevenção da doença mental, sobretudo na adolescência e juventude, e apresenta a fundação recém-criada. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, por ocasião do Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro), esta religiosa Hospitaleira critica a “desconexão de linguagens” que existe quando se fala em eutanásia, e sublinha que a possibilidade de oferecer cuidados em fim de vida “é um direito que nos assiste”.
O que esteve na origem da criação da Fundação Bento Menni e qual a sua finalidade?
A fundação surge de forma complementar ao Instituto das Irmãs Hospitaleiras. É uma estrutura canónica e civil que tem como principal objetivo a intervenção na área da prevenção da saúde mental e, por outro lado, tem uma intervenção, a nível internacional, para a ajuda à cooperação e desenvolvimento de projetos missionários onde a congregação está presente.
Permite ser uma estrutura um pouco mais leve porque, de facto, o instituto é muito assistencial e tem estruturas hospitalares que têm uma sobrecarga enorme de atividade. A fundação é uma instituição que se pretende que esteja mais próxima das populações, para intervir, sobretudo, naquela primeira fase onde poderão aparecer os primeiros sinais de doença mental ou até prevenir nos estilos de vida das pessoas, na educação, na literacia relacionada com a saúde mental.
Como é que o trabalho da congregação e da fundação é articulado, sobretudo noutros países onde estão presentes?
Ao ser uma instituição civilmente reconhecida, a nossa ideia é poder captar fundos, através de candidaturas, de forma a financiar projetos que sejam desenvolvidos pelas irmãs, em países em desenvolvimento. Estou a pensar em Moçambique, Angola, Timor, mas não nos focarmos apenas aí. Imaginemos que pode haver oportunidade de apoiar a Índia ou a China, com algum projeto… Pode ser a Fundação Bento Menni a lançar uma candidatura para obter esse financiamento e canalizá-lo via fundação internacional. É como se fosse um braço de um corpo. O nosso principal objetivo, ao nível da cooperação e desenvolvimento, é ver onde podemos ir captar fundos para poder apoiar os projetos missionários.
Atualmente, que projetos já se encontram a ser desenvolvidos?
Neste momento, estamos a fazer campanhas de solidariedade com o objetivo de apoiar a fundação em Timor. O principal objetivo da congregação, em Timor, é uma intervenção próxima das populações, capacitando, sobretudo, jovens e adolescentes para lidar com algum sinal do aparecimento da doença mental, e, por outro lado, a capacitação de profissionais já existentes. A presença das irmãs vai ser de ajuda e de trabalho com as populações. O nosso objetivo em Timor não é a construção de estruturas assistenciais. Percebemos, pelo levantamento de diagnóstico que fizemos, que, efetivamente, era uma mais valia ter uma unidade móvel de psiquiatria, capaz de poder assistir as populações onde elas estão, porque Timor tem barreiras geográficas enormes. As nossas campanhas visam muito a aquisição de medicamentos, a formação com os profissionais, a capacitação para podermos vir a desenvolver um consultório e uma viatura.
Em Portugal, o que já está a ser feito pela fundação?
A fundação foi apresentada no final do ano passado. Fizemos várias candidaturas para investirmos na literacia na saúde mental, na capacitação, na psicoeducação e alguns projetos não foram concretizados, em termos de financiamento. A nossa ideia é continuarmos a fazer as candidaturas e irmos para o terreno. No início do próximo ano letivo, em setembro-outubro, vamos ver se conseguimos entrar nas escolas. A ideia era, sobretudo, educar os jovens para estilos de vida saudáveis, para a própria gestão emocional que os capacite e fortaleça para a frustração, para aquelas situações que nem sempre se aprende a lidar, na família.
A partir da sua experiência, o que ainda falta fazer na área da saúde mental, em Portugal?
Falando da forma como estamos estruturados, em Portugal, tem-se dado passos ao nível do tratamento na área assistencial e ao nível da reabilitação. Penso, no entanto, que ainda está muito insípida a intervenção relacionada com a área da prevenção da saúde mental e da capacitação dos jovens, na gestão de emoções positivas… Essa intervenção deve ser feita antes do adoecer. Uma depressão pode acontecer a qualquer um de nós, e para evitar chegar aí, há toda uma série de abordagens preventivas que podem ser feitas, até à própria gestão das emoções, do stress, dos projetos de vida. Hoje em dia, penso que somos levados pelo correr das coisas e não temos tanto tempo para assimilarmos essas coisas. Isso leva-nos a ser um bocadinho mais frágeis. Ou nós aprendemos a lidar com isto, e aprendemos a ter estratégias de reflexão, de fortalecimento, ou então isto fragiliza-nos como pessoas, facilmente vulneráveis a situações de stress, de conflito. Isto nota-se muito na sociedade atual, nas famílias. Nota-se a vulnerabilidade das pessoas. Há muito campo na área da prevenção que começa na gravidez. A nossa intervenção vai ser muito relacionada com os adolescentes e jovens, mas acho que temos que alargar as faixas etárias.
Como analisa a discussão atual, no debate público, sobre a eutanásia?
A primeira coisa que me parece importante é que nem todos falamos a mesma linguagem. Há uma desconexão de linguagens. Às vezes, empregamos o termo ‘eutanásia’ quando estamos a falar de uma má prática clínica. A discussão tem diferentes níveis. Muitas vezes, entramos numa linha de discutir a diminuição do sofrimento e apresentamos a eutanásia como algo que possa resolver esse sofrimento quando, no fundo, nós não queremos eliminar o sofrimento. Eliminamos a pessoa. Na minha perspetiva não é a abordagem correta.
Se queremos eliminar o sofrimento – e aí estamos todos de acordo, porque a dignidade da pessoa, na proximidade da morte, deve ser preservada e uma das áreas a preservar é, efetivamente, a possibilidade de diminuir o sofrimento –, hoje em dia, temos possibilidade para fazer isso, com medicamentos e abordagens farmacológicas que nos permitem um controlo sintomático aos doentes e que permitem manter a qualidade de vida até ao fim. Mas não é só isso: é também toda a área comunicacional, da relação, da espiritualidade... Uma abordagem a um doente em fim de vida tem que ser multifacetada. Ela não pode ser só voltada para o próprio – toda a intervenção tem que ser conjugada nas diferentes perspetivas. Por outro lado, acho que a abordagem está a ser muito sobre a despenalização de algo que é o provocar a morte intencionalmente de uma pessoa, e isto é grave!
Há muitas formas de abordar esta ação, mas penso que a primeira situação seria: temos possibilidade de oferecer cuidados em fim de vida, com qualidade, a todas as pessoas? Este é um direito que nos assiste. O Serviço Nacional de Saúde, na ‘Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes’, consigna, efetivamente, o direito a uma morte digna. Se, efetivamente, eu tenho uma doença grave, incurável, progressiva, eu tenho que ter direito a cuidados especializados de fim de vida. E estes cuidados não têm que ser feitos apenas numa unidade de cuidados paliativos. Podem ser feitos até num hospital geral, numa unidade de medicina… onde estiver a pessoa. E isto ainda não acontece.
Neste tema da eutanásia, acho que deveria haver mais discussão para clarificação das linguagens, das consciências. Se me perguntarem se quero sofrer, direi que não, mas não gostaria que me eliminassem.
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Para apoiar a Fundação Bento Menni e para saber mais sobre o seu trabalho, visite o site das Irmãs Hospitaleiras, em www.irmashospitaleiras.pt.
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“A assistência espiritual e religiosa é um direito dos doentes”
Por ocasião do Dia Mundial do Doente, assinalado no dia 11 de fevereiro, o Departamento da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa apela a uma maior informação sobre o direto à Assistência Espiritual e Religiosa no Hospital. Nos materiais que foram divulgados junto das paróquias da diocese, o departamento diocesano classifica como “urgente dar a conhecer aos cristãos os recursos que têm nos hospitais”. “Devem pedir [a presença do capelão] aos enfermeiros, tanto quanto possível, no início do internamento e insistir se, entretanto, o pedido não for atendido. A assistência espiritual e religiosa é um direito dos doentes. Os capelães estão nos hospitais para servirem e por isso devem ser incomodados, pois isso é uma alegria para quem serve”, salienta a mensagem.
Nos textos de apoio, o Departamento da Pastoral da Saúde especifica algumas orientações para aceder ao Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa, e lembra que este serviço “é um direito do doente” e que cada um “tem o dever e o direito de solicitar a visita do assistente espiritual e religioso ou capelão aos enfermeiros de serviço”, ou, na sua impossibilidade, um “familiar ou alguém significativo”, destaca a nota. Nas orientações, é também feito o apelo para que o doente “tome a iniciativa” e que não fique “à espera que o assistente espiritual ou capelão passe pelas enfermarias ou alguém da capela”. “No hospital, o doente tem direito a viver e celebrar a fé”, destaca o texto.
Descarregue os materiais preparados pela Comissão Nacional da Pastoral Social, por ocasião do XXVIII Dia Mundial do Doente em: www.ecclesia.pt/cnpastoraldasaude.
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‘Voluntariado com Caridade’ é o tema das próximas Jornadas de Voluntariado Pastoral
O Departamento da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa está a promover as Jornadas de Voluntariado Pastoral, com o tema ‘Voluntariado com Caridade’, que vão ter lugar no Centro Cultural Franciscano, no Seminário da Luz, no dia 15 de fevereiro, sábado, ao longo de todo o dia. Do programa, destaque para a conferência de abertura, às 9h00, sobre ‘Caridade: entre o amor e a ação’, por D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar de Lisboa, mas também ‘O papel do voluntariado cristão na construção da comunidade’, ‘O voluntariado ao encontro das periferias’, em especial nas prisões, nos hospitais e com os sem-abrigo, ou ‘Direitos espirituais dos doentes e acompanhamento às famílias que cuidam’, pelo padre Fernando Sampaio, diretor diocesano da Pastoral da Saúde.
Informações: jornadas.voluntariado2019@gmail.com
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