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“Caridade não é impulso, mas virtude”
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A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, considera que “a caridade é uma prática que pode gerar mudança na sociedade”. No início da Semana da Caridade na Vigararia de Oeiras, o painel contou ainda com a presença do fundador da Refood e da Cáritas de Lisboa. “É vital reencontrar o conceito caridade”, foi a ideia debatida em Carnaxide.
Para o vigário de Oeiras, o conceito caridade ainda é um conceito “equívoco”. “Quando estamos a falar de caridade, não nos estamos a entender. Por exemplo, o YOUCAT – Catecismo da Igreja para jovens, quando trata desta matéria, não usa a palavra ‘caridade’, mas ‘amor’. Sinal que este conceito foi perdido e, porventura, agora está a ser difícil ser reencontrado; mas é vital ser reencontrado sob forma de perdermos um dos aspetos mais cruciais da condição cristã”, alertou o padre José Luís Costa, na abertura da Semana da Caridade na Vigararia de Oeiras, que decorre até dia 16 de fevereiro.
Na Paróquia de Carnaxide, na tarde do passado dia 9, durante o painel ‘Vamos falar de caridade?’, este sacerdote leu uma passagem de São Paulo, do capítulo 13 da Carta aos Coríntios, que refere ‘se não tiver caridade, nada sou’ ou ‘a caridade jamais passará’. “‘Permaneçam estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade’, diz São Paulo. De facto, a caridade não é apenas um impulso, é uma virtude”, observou o padre José Luís.
Instrumentos do amor de Deus
Para a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, “a caridade é uma prática que pode gerar mudança na sociedade”. “Sou muito mais adepta da caridade do que da solidariedade, porque a caridade é algo mais, é algo que pode gerar mudança trazendo o amor que se perdeu, trazendo a compaixão e fazendo com que isto tudo ganhe sentido à luz do amor de Deus. Porque é disto que se trata: na caridade, há o amor de Deus. Não é apenas o amor, é o amor de Deus. E quando nos esquecemos que somos instrumentos do amor de Deus, e não somos apenas um instrumento da nossa vontade, se calhar perdemos a caridade”, alertou Isabel Jonet.
No salão do Centro Social Paroquial São Romão de Carnaxide, esta responsável lamentou que “a palavra caridade tenha em si, hoje, uma conotação negativa”. “A maior parte das pessoas acha que caridade ‘cheira’ a Missa e a padre, e que não tem nada a ver com o comum dos mortais, e preferem até a palavra ‘amor’. Mas eu conotaria a palavra caridade com beleza”, explicou. Garantindo que “em Portugal há a melhor rede de apoio social da Europa, basicamente ligada à Igreja”, Isabel Jonet considera ser necessário “suscitar nos mais novos esta centelha” da caridade. “Olho para esta sala e não vejo uma pessoa nova. Vejo aqui uma total ausência desta interpelação para a caridade enquanto sair de nós para ir ao encontro dos outros. Os nossos filhos e os nossos netos deviam sair dos computadores e estar aqui a refletir sobre algo que pode ter a ver com a sua própria vida”, observou.
A chave é a boa vontade
Sabia que duas horas por semana são suficientes para alimentar dez pessoas? É este o desafio da Refood, uma rede de distribuição de comida excedente da restauração, fundada em Lisboa pelo norte-americano Hunter Halder. Estávamos em 2010 quando, devido à “crise financeira de 2008”, Hunter diz ter perdido “todas as fontes de rendimento”, o que o levou a “uma contemplação” sobre o que iria fazer. “Vi que estava a ficar velho e não tinha mais carreiras para desenvolver. Fiz também um levantamento do que tinha feito na vida, e no fim da história era tudo para mim. Tomei uma decisão de base de fazer uma ‘carreira’ para os outros”, recordou, no painel em Carnaxide. Depois, lembrou a pergunta que a filha mais velha fez num restaurante. “Ela perguntou o que ia acontecer ao buffet de saladas da nossa mesa. Disse-lhe que a salada, e toda a comida, ia para o lixo, por não haver alternativa. Ela disse que era uma vergonha, e a palavra ‘alternativa’ fez-me a tal luz que ouvimos falar”, partilhou. É neste contexto que nasce, em 2011, a Refood. “Comecei sozinho, mas vi que era possível ir a 30 restaurantes durante o dia e mais 15 à noite, resgatar comida e entregá-la aos vicentinos de Nossa Senhora das Dores e na igreja de Nossa Senhora de Fátima”, conta. Apesar de “ser possível”, não era “sustentável” fazer esta recolha sozinho. “Felizmente, no primeiro mês tivemos 30 voluntários e a chave para isto crescer e servir mais gente é a boa vontade de pessoas que querem mudar o mundo na sua comunidade”, garante este norte-americano.
Uma rede Cáritas?
A Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) tem procurado, na sua missão, “criar laços”. A garantia foi deixada por Gastão da Cunha Ferreira, vogal da direção da instituição, no encontro de Carnaxide. “Temos tentado que a Cáritas de Lisboa funcione como uma rede entre todas as organizações que as paróquias já têm, pondo as paróquias a funcionar de forma a que toda a gente possa beneficiar dessa rede”, esclareceu este responsável, assumindo que “a maior dificuldade é como gerir a caridade de uma forma institucional”, uma vez que “se perde a proximidade com as pessoas”.
Segundo Gastão da Cunha Ferreira, a CDL entende que “há muitas necessidades de paróquias que podiam ser cobertas por outras que têm ofertas em excesso”. “É uma espécie de ‘refood’ para paróquias, que hoje em dia não funciona”, lamenta. Neste sentido, este responsável sublinhou a necessidade de “todas as paróquias funcionarem em rede”. “A caridade, quando funciona num círculo fechado, está limitada em si própria. Nós trabalhamos por delegação do nosso Cardeal-Patriarca e sentimos muito a dificuldade de como chegar às paróquias, como fazê-las perceber que nós não queremos interferir, nem mandar, mas queríamos tentar que todas as paróquias pudessem funcionar em rede e que todas as instituições e entidades que se dedicam à caridade fossem vistas como parte da rede Cáritas”, desejou. A caridade “implica justiça e responsabilidade”, e deve ser gerida “com a proximidade das pessoas”. “A caridade tem de começar muito pela relação das pessoas”, assegurou o vogal da direção da Cáritas de Lisboa.
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