Conheça, nesta edição, breves aspectos biográficos e iconográficos relativos ao nosso padroeiro.
Nota biográfica Remonta ao séc. IV (306) o ano do seu martírio. S. Vicente nasce no seio de uma família nobre de Huesca. O seu avô, Agresso, havia sido cônsul. São seus pais Eutício e Enola. Alcançada a idade própria, Vicente vai para Saragoça estudar com o Valério, então bispo da cidade. Este, e evidenciadas as qualidades de Vicente, nomeia-o arcediago e encarrega-o da tarefa da pregação. Vicente passa a colaborador próximo do bispo no governo da diocese. No inicio do século IV (a partir de 303) desencadeou-se a perseguição do imperador romano Caio Aurélio Valério Diocleciano. Diocleciano reabilitou as velhas tradições, incentivando o culto dos deuses antigos. Perseguiu os maniqueus e empreendeu aquela que é conhecida por alguns historiadores eclesiásticos como a penúltima grande perseguição empreendida pelo Império Romano contra o Cristianismo: foi a era dos mártires. De 303 a 304 são promulgados três éditos contra os cristãos. Ordenam a destruição de igrejas, queima de livros, proibição da emancipação dos escravos que perseveravam no Cristianismo, prisão dos chefes das igrejas e obrigação pública de os cristãos prestarem culto aos deuses do panteão romano. Neste contexto é iniciada a mais severa perseguição que levará ao martírio do diácono São Vicente, como também, entre outros, ao dos irmãos Veríssimo, Máxima e Júlia, conhecidos como os mártires de Lisboa. Durante esta perseguição, o diácono terá sido levado para Valência onde seria martirizado em 304, às mãos do governador Daciano. Os testemunhos do martírio de São Vicente carecem de prova documental. Chegam-nos através de duas grandes vias: Prudêncio, considerado o maior poeta cristão da Antiguidade tardia, divulga e populariza a épica passio do diácono no Liber Peristephanon onde dedica 14 poemas aos mártires romanos e hispânicos. Santo Agostinho, por sua vez, prega seis sermões entre os anos 410 e 419. Às mãos de Daciano, juntamente com o bispo Valério, é Vicente quem toma a palavra no interrogatório e se recusa a negar a sua fé, assim como a declarar o lugar dos livros de culto da sua igreja de Saragoça. Duros castigos lhe são impostos. É torturado no cavalete (armação em forma de X que esticava os membros até aos limites da dor). A resistência do santo motivou a flagelação com ancinhos a rasgarem-lhe as carnes. Ainda segundo a narração de Prudêncio é exposto a um leito de ferro com fogo avivado. A resistência do mártir leva a que se decida atirá-lo para uma cela cheia de telhas e louça partida de forma a não poder deitar-se. Vencido pela resistência do Santo, Daciano aceita deitá-lo numa cama de flores, como Vicente pedia. É aí que a morte o acolhe a 22 de Janeiro de 304. Não obstante os elementos fantásticos da narração da paixão, a lenda sugere que, após a morte, Daciano ordenou que o cadáver fosse lançado em terrenos incultos de forma a ser devorado por animais e a não restarem relíquias. Prudêncio relata que um corvo protegeu o corpo do mártir. Santo Agostinho numa alusão clara ao episódio refere que «O corvo defende, o lobo respeita e só Daciano persegue.». Nova solução é encontrada: Lançar o corpo ao mar atado por uma mó. Infortúnio dos perseguidores, o corpo bóia e alcança a terra. Recolhido por uma santa viúva avisada em sonhos e de nome Jónica, é enterrado por cristãos fora de muros. Segundo Prudêncio, alcançada a paz, é-lhe dado túmulo na igreja de São Vicente de la Roqueta (Valência), sendo no séc. VI, e por acção do bispo Justiniano, trasladado para a Catedral. A tradição da vinda das relíquias para Portugal nasce no contexto da invasão árabe da Península Ibérica. Segundo a narrativa portuguesa de reivindicação das relíquias do mártir, de forma a não haver profanação das mesmas, no contexto da destruição das igrejas valencianas perpetrada por Abd-er-rahman, foram trasladadas por devotos para um mosteiro no promontório de São Vicente, no Algarve. Este seria destruído com a vinda dos almorávidas de Marrocos para o Algarve. Uma das famosas narrações da trasladação das relíquias do mártir de São Vicente para Lisboa é do Mestre Estêvão, chantre da Sé de Lisboa (séc. XII). Revela-nos o interesse de um grupo de cristãos moçárabes em recuperar as relíquias do santo. Ordenada por D. Afonso Henriques, a tentativa de recuperação do corpo do mártir aparece associada aos esforços da Reconquista e ao projecto de engrandecimento de Lisboa como nova capital, com nova identidade cultural. Da viagem temos o seguinte relato de Diogo da Anunciação: «desenterrado seu corpo e recolhido no navio as suas relíquias, dous corvos hum na popa e outro na proa (…) forão os primeiros que celebraram sua trasladação gloriosa». O corpo do mártir chega a Lisboa no dia 15 de Setembro de 1173 e é depositado em Santa Justa. No dia seguinte é trasladado para o altar-mor da Sé. Nova viagem é empreendida ao Algarve para trazer tudo o que restasse do mártir. A partir de 1190, S. Vicente é adoptado como elemento dos selos olisiponenses. A 1 de Novembro de 1755 o terramoto destruiu a urna do padroeiro da diocese, assim como muito do recheio da capela-mor da Sé. Parte das relíquias de São Vicente ainda existem hoje na Catedral de Lisboa e veneradas solenemente no dia 22 de Janeiro. Informação complementar: Iconografia de São Vicente Palma – entre os romanos, o ramo da palma era tradicionalmente o símbolo da vitória. Vicente é o que vence a morte. Este significado foi incorporado na iconografia cristã como símbolo do triunfo do martírio sobre a morte. Coroa – símbolo da glória conquistada pelos mártires. Auréola e Resplendor – indicativos da santidade de vida. Evangeliário – símbolo do ministério da palavra confiado aos diáconos na ordenação: «Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas». Cor vermelha – alusão ao sangue derramado no martírio. Dalmática – veste própria dos diáconos direita até aos joelhos, aberta dos lados e com mangas largas e curtas. Alva – veste branca, indicativa de pureza, utilizada por todos os ministros do altar. Estola – veste litúrgica utilizada pelos diáconos de forma atravessada e pousada sobre o ombro esquerdo. Caravela – Símbolo da barca que trouxe do Promontório Sacro do Algarve para Lisboa, em 1173, os restos mortais de São Vicente. É um dos símbolos da cidade de Lisboa. Corvos – Aves que permitiram que o corpo de São Vicente ficasse intacto após o seu martírio, impedindo que animais necrófagos se aproximassem do seu cadáver e que acompanharam o corpo do santo aquando da traslação dos restos mortais para Lisboa. Configuram igualmente o brasão da cidade de Lisboa. Publicações Investigação: São Vicente, Diácono e Mártir. Padroeiro de Lisboa. 1700 anos do Martírio de São Vicente. Catálogo da Exposição. Público juvenil: Era uma vez… São Vicente. O Mártir Padroeiro de Lisboa. Nota: as obras podem ser encontradas à venda na livraria Nova Terra, no Mosteiro de São Vicente de Fora, ou na Sé de Lisboa Sugestão Web
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