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“Não nos desiludamos de Deus”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa apelou aos cristãos para não se desiludirem com Deus e para terem “confiança”. Em tempo de pandemia do novo coronavírus, D. Manuel Clemente garantiu, na celebração de Domingo de Ramos, na Sé Patriarcal, que Deus está “connosco”.

“Não nos desiludamos d’Ele. Não fiquemos dececionados, porque a vida de Jesus Cristo, a sua morte e a sua vida entregue, o seu drama, que é o nosso drama, assumido por todos, unido a Deus Pai, naquela oração que Ele faz no horto e que nos pede para redobrarmos, também – porque a oração é nós ganharmos em Deus, em Deus Pai, toda a força e inspiração que Jesus teve também para fazer a sua obra no mundo –, em todas estas possibilidades e realidades, a Paixão do Senhor continua, e a paixão do mundo é a paixão de Deus. Tenhamos confiança: Ele está connosco!”, apontou o Cardeal-Patriarca, na homilia pronunciada na celebração de Domingo de Ramos, que foi transmitida pela RTP 1, pela Renascença e também pelo site do Patriarcado de Lisboa (www.patriarcado-lisboa.pt).

Numa Sé Patriarcal vazia, devido à pandemia, D. Manuel Clemente assegurou que a Igreja não “desarma” na luta pela vida e nas formas de estar junto das pessoas e dos cristãos. “Caríssimos irmãos, também vos posso garantir que aquilo que acontece nas comunidades cristãs, nas dioceses, nas paróquias, aquilo que acontece nos institutos religiosos, em tantas associações, movimentos, obras sociais, está constantemente aqui, nesta frente comum da luta pela vida. Ninguém desarma, mesmo que não possam estar fisicamente presentes, em muitos casos – outros ainda terão de estar, por causa dos seus serviços e das suas exigências, com as devidas cautelas –, todos se multiplicam em iniciativas, redescobre-se a dimensão doméstica da Igreja em tantas famílias que, agora reunidas, em suas casas, também redescobrem a verdade das palavras de Jesus ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles’. E aqueles que nas paróquias, não podendo fazer celebrações públicas – como nós não a estamos a fazer –, mas encontram, com todas estas possibilidades mediáticas que hoje estão ao alcance, uma maneira de estar presentes, e mais presentes ainda, junto dos seus paroquianos, dos seus diocesanos, de todos”, frisou.

 

A salvação acontece

D. Manuel Clemente tinha começado por falar da deceção sentida há dois mil anos. “Dentro desta deceção geral, do povo, dos discípulos, de todos, Jesus fica sozinho. Fica sozinho e vai até ao fim, porque não dececiona Aquele que o tinha enviado a este mundo, a Deus Pai, para cumprir a sua vontade. E que vontade era essa? Era que o mundo fosse salvo precisamente onde precisa de o ser e não fora do drama, nem das tragédias da humanidade inteira, de qualquer tempo e de qualquer parte – como nesta, que agora nos atinge –, mas aí mesmo, por dentro, e, em Jesus, Deus tudo isto assume, para, por dentro, tudo isto salvar. Essa é a vontade de Deus, essa é a vontade que Jesus cumpre. Mesmo sentindo o abandono, indo até ao fundo da tragédia humana que é sentir-se abandonada, pois aí mesmo Jesus continua a dizer ‘Meu Deus, meu Deus’, e, assim, a salvação acontece”, afirmou.

 

‘Onde é que está Deus?’

O Cardeal-Patriarca falou depois de “uma outra deceção” que diz estar a sentir nestes dias, “num ou outro testemunho, num ou outro desabafo”, a que chamou de “uma certa deceção religiosa”. “Há gente que pergunta, e volta a perguntar: ‘Mas onde é que está Deus?’. Quando uma pandemia nos atinge, quando uma tragédia nos toca, a nós, aos outros, por esse mundo fora, onde é que está Deus? Pois bem, este relato da Paixão, e aquilo que se segue, diz-nos onde é que está Deus: está onde Jesus está, no coração do mundo, salvando-o por dentro, e, aí mesmo, resolvendo definitivamente as coisas. Quando nós, com Jesus, não fugimos dos dramas deste mundo, mas sentimos os alheios como nossos, os sentimos todos e sempre, e vivamente, e presentes, e solidários, como se fossemos um só, então, como Jesus, o mundo salva-se. Porque é exatamente aí que Deus acontece”, assegurou.

 

Multiplicar neste mundo o caminho de Jesus

Na manhã deste Domingo, dia 5 de abril, no início da Semana Santa, D. Manuel Clemente sublinhou ainda que o último “suspiro de Jesus enche agora o mundo inteiro”. “Neste preciso momento, neste Domingo de Ramos, nas semanas que passaram, nas semanas que hão de vir, tanta coisa bonita em termos de multiplicar neste mundo o caminho de Jesus por aquele suspiro que faz com que nós vivamos o que Ele viveu, unidos constantemente a Deus Pai, princípio e fim de todas as coisas, e por isso restaurador de todas as vidas. Que coisas bonitas acontecem. Acontecem nas famílias, acontecem nas famílias que assim se reencontraram, forçosamente, mas se reencontraram, e assim tomam conta uns dos outros de uma maneira mais próxima, porque também não podem sair das suas casas, na maior parte dos casos, mas também não esquecem aqueles que estão mais longe, mas telefonam, mas pela internet, de tanta maneira. Acontece nas vizinhanças, que até se retomam e se descobrem, para que não falte nada a ninguém. Acontece naqueles que nos aguentam, como sustento, como ajuda, quero os que nos dão o pão que comemos, quer os que garantem os serviços de que precisamos, quer aqueles que garantem a segurança das nossas terras, quer aqueles que, no sistema de saúde, se multiplicam, num esforço extraordinário, para que a saúde avance ou se recupere, ou se guarde. E todos aqueles que, na investigação, agora redobram os seus esforços, o seu engenho, para encontrar tudo aquilo que for preciso encontrar e que será possível, cientificamente, encontrar, para responder a esta pandemia e para prevenir a outras. Todos aqueles que, desde o Estado, às autarquias, aos serviços públicos, particulares, sociais, não fecham o coração diante das dificuldades, que são tantas. Todos aqueles que, no mundo empresarial, tentam preservar os postos de trabalho e a vida de tanta gente, de tantas famílias. Em tantas situações, em tantos quadrantes, o caminho de Jesus Cristo – que é aquele que Deus lhe dá e que Ele reparte connosco, de salvar as coisas por dentro delas e não alienando-se dos dramas da humanidade – continua e está aí”, identificou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na homilia pronunciada na celebração que dá início à Semana Santa, na Sé Patriarcal.

 

Ao início da tarde, o site do Patriarcado de Lisboa publicou a versão escrita da homilia de Domingo de Ramos, que pode ler AQUI.

 

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