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A aventura dos Irmãos Maristas nas plantações de chá no Bangladesh
Missão impossível
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No noroeste do Bangladesh, numa região onde quase tudo gira em redor das plantações de chá, uma pequena comunidade de Irmãos Maristas procura contrariar o infortúnio das populações locais extremamente pobres e que vivem num ambiente de quase escravatura. Não é fácil. Mas, para o Irmão Eugenio Sanz Sanchez, nunca haverá impossíveis nesta missão que é, acima de tudo, uma aventura de amor…


O Bangladesh é um país essencialmente muçulmano. Calcula-se que tem cerca de 168 milhões de habitantes. Os Católicos são menos de 400 mil. São muito poucos, apenas 0,23%. Em Giasnogor, numa plantação de chá, são apenas sete. O Irmão Eugenio Sanz Sanchez é um deles. Está no Bangladesh há pouco mais de uma década. Quando chegou, este marista espanhol de Talavera de La Reina levava consigo apenas uma mala com 20 quilos. Foi assim, carregado de quase nada, mas cheio de energia, que deitou mãos à construção de uma comunidade religiosa numa região extremamente pobre em que praticamente todas as pessoas vivem da plantação do chá.

 

Memórias lusas

Há muito poucos cristãos no Bangladesh apesar de haver registos da sua presença desde o séc. XVI, no tempo em que os Portugueses, os primeiros colonizadores oriundos da Europa, aportaram por ali. Não se apagou por completo essa memória. Ainda hoje, os chamados “velhos cristãos” são parte da linhagem dessas primeiras famílias que rezaram as primeiras orações com os missionários que partiram do Rio Tejo nas caravelas com a Cruz de Cristo. Apesar de profundamente minoritários, hoje há cristãos entre as populações tribais, assim como em antigos membros da comunidade hindu e até há muçulmanos convertidos. Serão poucos e a maioria vive a sua fé quase clandestinamente, para não serem marginalizados pelas próprias famílias.

 

Educar crianças e jovens

De facto, nos últimos anos tem havido sinais de intolerância para com as religiões minoritárias, nomeadamente os Cristãos. São indícios de um extremismo jihadista que está a galgar fronteiras e que ameaça também o Bangladesh. No entanto, ali, na região de Giasnogor o problema é outro e bem mais antigo: a pobreza. A beleza das plantações de chá engana os sentidos, esconde a tristeza e amargura das populações quase escravizadas num trabalho duro que mal garante a sobrevivência. Lutar contra esta realidade é a missão quase impossível dos Maristas no Bangladesh. “O alvo da nossa acção aqui”, explica Eugenio Sanz Sanchez, “são as crianças dos jardins de chá”. Os Maristas procuram educar crianças e jovens seguindo o sonho de S. Marcelino Champagnat, o fundador da congregação, que pretendia tornar Jesus Cristo conhecido e amado, formando simultaneamente “bons cristãos e virtuosos cidadãos”.

 

Não ser dono de nada

Quando chegou àquelas terras quase escondidas no meio de um verde exuberante, o Irmão Sanchez terá percebido que aquela ia ser uma tarefa complicada. “Os Britânicos decidiram criar jardins de chá nesta região.” Para isso, explica, prometeram aos habitantes locais “uma terra de leite e mel, mas na verdade enganaram-nos”. A vida das pessoas em toda a região demonstra isso. “As casas não lhes pertencem. A terra não lhes pertence. Pertence tudo à empresa. Nenhum ser humano merece isto.” É dura a vida por ali. Há sofrimento em cada rosto, em cada pessoa. Em cada família. Por ali, ninguém é dono de nada a não ser do trabalho que é pago miseravelmente. O Irmão Sanchez faz um retrato doloroso de uma região onde ninguém é verdadeiramente senhor do seu destino.

 

Vida muito dura

“Nesta área, existem muitos campos de chá onde milhares de pessoas vivem em condições de extrema pobreza. O pagamento que recebem por dia é de 70 cêntimos, cerca de 69 taka, a moeda nacional. Setenta cêntimos é quanto um trabalhador recebe por 23 quilos de folhas de chá.” É muito duro. “Trabalham entre 10 e 12 horas e, em teoria, folgam aos domingos, mas às vezes nem isso. As plantações são um mundo paralelo que é governado pelas suas próprias leis.” Um mundo paralelo gerido pelos donos dos campos ou os seus administradores. Os trabalhadores das plantações de chá vivem em casas miseráveis, quase casebres, muitas vezes com paredes de barro, erguidas sob estacas de madeira e com telhados de colmo. É um mundo triste que alimenta a fortuna de algumas das maiores multinacionais do chá.

 

Projecto apoiado pela AIS

É um mundo que os Irmãos Maristas procuram contrariar. A começar pela educação. Essa é a revolução que importa fazer. “Queremos dar dignidade a estas pessoas. Vai haver uma escola secundária, um liceu e também alojamentos para raparigas e rapazes”, explica o Irmão Sanchez à Fundação AIS. É um projecto ambicioso. Educar para tirar da pobreza as crianças e os jovens que vivem em Giasnogor. É um projecto imenso que está a acontecer dia a dia com a energia que parece inesgotável de Eugenio Sanchez e de todos os outros irmãos que, com ele, constituem esta missão católica no Bangladesh. A Fundação AIS apoia esta missão desde o início. A casa dos irmãos, até o carro em que se deslocam todos os dias, é a expressão concreta da solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS de Portugal e de todo o mundo. O Irmão Sanchez agradece essa ajuda que está a tornar este projecto possível. “Agradeço a todos”, diz, acrescentando que, assim, “os sonhos de muitas pessoas vão tornar-se realidade”. Contrariar o infortúnio das populações locais extremamente pobres, que vivem num ambiente de quase escravatura, é a aventura de amor do Irmão Eugenio Sanz Sanchez e da sua comunidade marista no Bangladesh. Não há impossíveis nesta missão. E ele agradece, dizendo ‘obrigado’, uma das primeiras palavras que aprendeu na língua bengali: “Dhonnobad”…

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