Neste Domingo, 28 de junho, às 16h00, o Cardeal-Patriarca de Lisboa vai ordenar cinco novos sacerdotes, que o Jornal VOZ DA VERDADE dá a conhecer. A celebração vai decorrer no Mosteiro dos Jerónimos, com um número limitado de participantes, devido à pandemia, e vai ser transmitida, em direto, pelo site e redes sociais do Patriarcado de Lisboa.
“Entrega e obediência”
Enquanto jovem, Artur Delgado sempre procurou experiências de voluntariado pelo mundo. “Era aí que eu me sentia completo”, refere, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Foram meses, sobretudo durante as férias, a visitar vários países e povos, mas sempre com o desejo de aprender mais das suas culturas. Artur fez a sua formação cristã em Lisboa, na Basílica da Estrela, Paróquia de Nossa Senhora da Lapa. Da parte dos pais, sempre recebeu a certeza de que queriam que “fosse feliz naquilo que escolhesse”, e, por isso, deram-lhe sempre “muita liberdade”. “Sempre que podia, viajava”. Nessas viagens, existiriam dois momentos determinantes para o seu percurso até ao seminário. O primeiro, há 20 anos, na Birmânia, quando num terminal rodoviário encontra uma criança a vender lixo. “Naquele instante, sinto a interpelação: ‘O que estás a fazer com a tua vida?’. Senti a necessidade urgente de oferecer a vida toda, que passava por ficar ali e ajudar, mas, durante uma semana, rezei e percebi que era voluntarismo”, revela. O segundo momento aconteceu na Guatemala, numa comunidade indígena. “Ao iniciar a subida para uma montanha, onde estava a comunidade, deixei a mochila com a carteira na sede da organização. Quando regressei, tinham assaltado a sede. Fiquei sem o passaporte. Numa aldeia de metros, percorri quilómetros à procura do passaporte. Senti que aquilo que Deus me disse foi: ‘Tu não precisas de mais nada, mas Eu estou contigo. Entrega-te, oferece-te, tal como estás’”, conta. Artur consegue regressar a Portugal e é orientado para uma conversa com o padre Ricardo Neves, no Seminário de Caparide. “Na primeira conversa, ele disse-me que fazia todo o sentido” a entrada no seminário. E assim foi, em 2007, e até ao quarto ano, quando o percurso foi interrompido. Mesmo assim, Artur completou a licenciatura e a tese de mestrado em Teologia. “Enquanto estava a fazer a tese, falei com o padre Mário Rui, que tinha acabado de ser nomeado diretor da Pastoral da Mobilidade e Turismo do Patriarcado. Fui ajudá-lo durante uma semana e acabei por ficar dois anos”, conta Artur Delgado, que ficou a colaborar na dinamização da Pastoral do Turismo na diocese. Com “a serenidade de quem já tinha entregue a vida” e “que sentia que o caminho era por ali”, regressa ao seminário. No trabalho pastoral, recebeu “um presente muito grande de Deus” ao exercer o seu ministério de diácono na Paróquia de Alcabideche, onde acompanhou os últimos meses de vida do padre João Braz, falecido em dezembro de 2019. Aos 46 anos, Artur Delgado afirma que a Igreja pode esperar dele, ao ser ordenado sacerdote, “entrega e obediência e ser um instrumento nas mãos d’Ele”.
Artur Delgado, 46 anos
Paróquia de São Nicolau
“Felicidade num projeto que não era o meu”
Eduardo é o terceiro de quatro filhos e, desde cedo, tinha o projeto de tirar um curso técnico de Mecânica, para trabalhar com o pai, e depois fazer formação em Engenharia. Apesar de a família viver a uma rua da igreja, na Cidade da Guatemala – num país maioritariamente católico –, a frequência religiosa só começou com 7 anos. E a vida de Eduardo “mudou”. “Os meus pais iniciam a caminhada no Caminho Neocatecumenal e pude ver muito a mudança do meu pai. Era alguém que tendia para a depressão, violência e com uma história muito difícil. A determinada altura, a mudança foi tal que ele chegou a pedir-nos perdão. Tocou-me imenso”, revela, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Aos 13 anos, Eduardo inicia a sua caminhada numa comunidade Neocatecumenal. “Sempre houve motivos para não aderir ao chamamento de Deus. Dei muita luta ao Senhor! Eu tinha os meus projetos: queria acabar a faculdade e casar”, conta. Tudo parecia que estava a correr como planeado, mas, entre 2009 e 2010, experimentou “uma crise profunda” com o fim do namoro, insucesso na faculdade e a doença, provocada por uma bactéria. “Durante esse tempo, o Senhor falou-me fortemente”, revela. Seguiu-se a entrada no pré-seminário e, em 2011, “calhou-lhe” o Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa. Para a família, que já convivia com um filho no seminário, mas em El Salvador, só o facto de Eduardo “ir para mais longe de casa” custou “mais”.
Chegado a Portugal em 2012, Eduardo López recorda os “tempos difíceis com a adaptação à língua, os estudos e as crises dos primeiros anos”, mas enaltece “a paciência que o Senhor teve”. “A ideia de seminário era outra. Achava que se passava o dia todo a rezar. Claro que rezamos, mas faz-se vida. Tem sido uma experiência maravilhosa, com uma experiência tão próxima de Deus. Tenho conhecido o Senhor como Pai que providencia”, conta. “Encontro-me muito feliz por este ministério que a Igreja me quer dar. Encontro muita felicidade num projeto que não era o meu”, revela.
Nos últimos meses, enquanto diácono, Eduardo exerceu o trabalho pastoral na Paróquia de Oeiras. “Foi uma experiência edificante. É uma ocasião que o Senhor me convidou a ser mais generoso”, salienta. O futuro padre garante ainda que aquilo que tem para oferecer é Jesus Cristo. “A Igreja envia-me a alimentar e a sarar o povo”.
Neste Domingo, na sua ordenação presbiteral, Eduardo não contará com a presença física da família e da comunidade que, devido à pandemia, não poderão viajar. “Quando soube, custou-me, mas Deus centra-me no fundamental, naquilo que fica, que é a graça do sacramento. Por isso, esse facto não me tira a alegria”, assegura.
Eduardo López, 30 anos
Arquidiocese de Santiago de Guatemala, Guatemala
“Encontrei o meu lugar na Igreja”
Aos 18 anos, Gonzalo “não encontrava lugar dentro da Igreja, nem respostas para os problemas” ou para a sua história. Foi um tempo de distanciamento que, apesar de não ter significado uma rutura completa, fê-lo pensar em encontrar “respostas noutro lado”. Natural de Sevilha, em Espanha, Gonzalo é o terceiro de cinco filhos e destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE a preocupação da mãe em ajudá-lo a “saber viver a Missa”, todos os Domingos. “Mas eu estava à procura, a precisar de mais alguma coisa”, revela. Aos 20 anos, através de uma amizade durante o curso de Direito – do qual desistiu no segundo ano –, foi desafiado a fazer “um percurso mais aprofundado na fé”, ao entrar para uma Comunidade Neocatecumenal. “Ajudou-me bastante e comecei a encontrar o meu lugar na Igreja”, assume. A questão da vocação “sempre esteve lá”. “Fui acólito e, já nessa altura, havia qualquer coisa que me atraia. Depois, na escolha da faculdade, também pensei na possibilidade de ir para o seminário, mas como não tinha uma estrutura, uma vivência cristã profunda, isso sempre ficou no ar”, aponta. “Nesta caminhada de Igreja, houve uma altura em que fizemos uma peregrinação e parámos em várias cidades, para fazer missão nas ruas, cantando e convidando as pessoas a escutar a Palavra. Foi essa experiência que mexeu comigo. Com aquilo, fez-se uma luz. Era aquilo que estava chamado a fazer”, assegura, revelando que, num encontro vocacional, então com 24 anos, tomou a decisão de entrar no seminário. A notícia causou, inicialmente, alguma estranheza à família, sobretudo porque “podia ir para qualquer parte do mundo”, revela Gonzalo Palácios, reconhecendo que os seus pais “foram aceitando e sempre estiveram disponíveis para tudo”. A ideia que tinha de seminário era “um pouco romântica” e, por isso, à chegada “foi um choque forte”. “É um seminário internacional, onde cada um falava a sua língua, mas a vivência do seminário é experimentar o milagre da comunhão”, assegura este futuro padre, que esteve dois anos num seminário em França e só depois rumou ao Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Lisboa.
Desde a ordenação de diácono, em dezembro, Gonzalo ficou a viver e fazer o trabalho pastoral na Paróquia da Penha de França, onde “o desafio é grande”. “É uma zona envelhecida, e é, agora, habitada por muitos jovens e turismo... não é uma população fixa. Não podemos ficar na igreja à espera que venham à Missa. Temos que sair à procura destes jovens. Esse desafio motivou-me muito. Temos que sair dos esquemas habituais”, apela, assegurando à diocese que poderá contar com ele para “propor o Evangelho, de uma maneira radical e concreta”. “Porque essa foi a minha experiência”, partilha.
Gonzalo Palácios, 38 anos
Arquidiocese de Sevilha, Espanha
“Ser um instrumento da sua graça”
Ao recordar o início da sua caminhada na fé, Mendo Ataíde começa por lembrar “pequenas coisas” que lhe “foram formando um coração cada vez mais voltado para Deus”. “A minha mãe a rezar comigo à noite, a minha avó a ensinar-me as orações que tinha aprendido quando era pequena, o meu avô a perguntar se eu tinha ido à Missa e o que se tinha falado”, partilha ao Jornal VOZ DA VERDADE. Para este futuro padre, esta ‘herança’ familiar e o percurso na catequese, feito nos colégios que frequentou, sempre o fizeram acreditar em Deus, mas, mais do que isso, seria “cair num extremismo”. “No final do último ano do Colégio Militar, fiz uma experiência de intercâmbio, e vivi, nos Estados Unidos, numa família de acolhimento, com 11 filhos – algo que eu nunca tinha visto”, confessa. “Essa família tinha em Deus o princípio que orientava a vida deles, rezavam em família... Viver assim não era uma seca ou um extremismo. Eles eram felizes, normalíssimos”, lembra, reconhecendo que, até esse momento, “nunca tinha pensado no que significava ser católico”.
O exemplo fê-lo seguir em frente com os planos de “ser gestor” e ter “uma grande família”. Ao entrar no curso de Gestão, da Universidade Católica, Mendo foi também tocado pela “experiência marcante” da Missão País, em 2010, orientada pelo então capelão, padre Hugo Santos. Na missão, depois de uma confissão, foi sentindo a pergunta: ‘Será que o Senhor te pede mais?’. Mendo Ataíde continuou o curso e completou um mestrado em Gestão, também na UCP. Com o grupo de amigos que o “ajudava a crescer na fé”, frequentava a Paróquia de São Nicolau, em Lisboa, onde foi partilhando com o pároco, padre Mário Rui, as suas “questões vocacionais”. “Começava a achar que queria entregar a minha vida a Deus, mas não era claro no quê. Ainda tinha um pouco de incerteza”, revela. A vida dos sacerdotes diocesanos, que conhecia, foi determinante para a entrada no seminário. Apesar de a sua família “ter tido algum tempo para aceitar a decisão”, sempre contou com o apoio de todos, “sem qualquer resistência”.
Da experiência em seminário, Mendo sublinha a vivência comunitária. “Encontrei muito boa gente no seminário e com vontade de seguir Jesus com todo o coração. E isso faz toda a diferença”, assegura. Nestes últimos meses, na Paróquia da Ramada, Mendo revela que se sentiu “soterrado” face à grandeza do que implicou o ministério diaconal, através das suas palavras e gestos. “Foi uma alegria acompanhar aquelas pessoas na sua descoberta de Jesus e, ao mesmo tempo, um desafio”, assegura este futuro padre, que quer dedicar a sua vida “para a santificação de todos”. “Que seja um instrumento da sua graça, onde for preciso”, deseja.
Mendo Ataíde, 29 anos
Paróquia de São Nicolau
“Disponível para os jovens e para levar Jesus a todos”
A família foi, para Tomás, o “meio” para começar a “ver Deus presente” na sua vida. “Cresci numa família católica que, desde pequeno, me ensinou a rezar”, começa por referir, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Nos Salesianos de Lisboa, começou a procurar formas de estar disponível para os outros. “Comecei a ter amigos que me despertavam para a importância de me dispor ao serviço dos outros, fosse através de voluntariado, fosse através de atividades organizadas pelo colégio. Por altura do 11.º ano, fui convidado por uma amiga para entrar nas Equipas de Jovens de Nossa Senhora (EJNS). Isso também foi muito importante para a minha vocação, porque foi quando comecei a ter uma vida de oração mais regular e comecei a perceber quão essencial era ter uma amizade diária com Jesus”, aponta.
Tomás Castel-Branco tem dois irmãos e foi um deles que entrou, ao mesmo tempo, para as EJNS e, mais tarde, lhe apresentou o padre Hugo Santos, vigário paroquial de São Nicolau. “Comecei a ter direção espiritual com o padre Hugo, a acolitar e a confessar-me mais regularmente. Foi neste contexto que surgiu a vocação”, realça, sublinhando que prosseguiu os estudos em Sistemas e Tecnologias de Informação, na Universidade Nova. “Comecei a questionar o que Deus queria de mim. Neste tempo, também foi importante o testemunho feliz dos padres com quem contactava”, afirma. A meio do curso, teve um primeiro impulso para ir para o seminário. Foi “numa Semana de Verão”, em que “disse que iria entrar no seminário”, mas não concretizou. “No dia seguinte, o Evangelho da Missa era: ‘Quem não deixar casa, mãe... tudo por Mim, não é digno de Mim’”, recorda. A leitura foi germinando e, depois de completar o curso, em 2013, entra no seminário. Para a família e amigos, “foi uma grande alegria verem que eu procurava entregar a minha vida a Deus”.
A caminhada no Seminário de Caparide e, depois, no Seminário dos Olivais, “trouxe muitas novidades boas” à vida de Tomás. “Foi muito importante para olhar para a minha vida e perceber como Deus me foi chamando. Foi também bom descobrir a vida comunitária como uma realidade nova e perceber que são mais importantes os ritmos da Igreja e não os meus”, observa.
Nos últimos anos de seminário, em trabalho pastoral na Paróquia de Loures e, nos últimos dois anos e alguns meses como diácono na Paróquia do Parque das Nações, Tomás Castel-Branco realça a importância destas experiências para ir conhecendo “a realidade da Igreja de Lisboa”. “Foi muito importante ver que Deus me enviava a tantos grupos como seu instrumento. Foi um tempo muito rico”, refere. Neste contexto de preparação da Jornada Mundial da Juventude, Tomás deseja ser também um sacerdote “disponível para os jovens e para ajudar a levar Jesus a todos”.
Tomás Castel-Branco, 28 anos
Paróquia de São Nicolau
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