3 DICAS |
‘3 DICAS’ – Pastoral a Pessoas com Deficiência
“A pessoa com deficiência também é pessoa”
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A coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa, Carmo Diniz, considera que a Igreja e os cristãos “precisam de todos” para “crescer”. Programa ‘3 DICAS’ refletiu sobre esta (recente) pastoral na diocese e destacou que a vida das pessoas com deficiência “é um dom”.

 

“Precisamos das pessoas com deficiência para crescer. A vida é mais pobre se não estivermos todos na Igreja. Este é o princípio da Pastoral da Deficiência. Precisamos de todos”, salientou a coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa. Na emissão em direto do ‘3 DICAS’ da passada segunda-feira, 6 de julho, Carmo Diniz sublinhou que “este serviço é novo” e está a começar um “caminho de integração”. “Sempre com essa nossa grande bandeira que é a valorização da pessoa com deficiência”, reforçou.

Esta responsável lembrou depois o inquérito às paróquias, realizado nos últimos dois anos, que foi apresentado em outubro passado e revelou como “várias paróquias se esforçam grandemente por encontrar condições logísticas, de acesso e de espaço”, às pessoas com deficiência. “Há pessoas dedicadas ao acolhimento das pessoas com deficiência, na catequese, nos escuteiros, nos grupos ligados à paróquia”, observou.

Casada e mãe de cinco filhos (três raparigas e dois rapazes, um deles portador de deficiência), Carmo Diniz testemunhou ainda que “há acolhimento nas paróquias às pessoas com deficiência”. “A Igreja é muito acolhedora. Está na sua raiz ser acolhedora, abrir o coração aos outros e dispor-se ao encontro. Há boas práticas e atrevo-me a dizer que dificilmente uma pessoa que se aproxime da Igreja seja repelida e recusada por ela”, frisou.

 

Um guia “muito feliz”

O Patriarcado de Lisboa criou o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência em 2017. Carmo Diniz começa a colaborar com esta pastoral no ano seguinte, em 2018, e no início de 2019 assume a coordenação. Além do referido inquérito – “que já estava bastante delineado, quando cheguei ao serviço” –, este ano e meio ficou ainda marcado pela elaboração de um guia para o acolhimento eclesial a pessoas com deficiência, que chegou a todas as paróquias. “Uma ação que tivemos, e que foi bastante significativa, foi a adaptação e a tradução de um guia, chamado ‘Uma Igreja para todos’, realizado a partir de um documento feito na Arquidiocese de Madrid. Esse guia, de uma forma muito simples, dá indicações e, no texto original, foram as próprias pessoas com determinada deficiência – pessoas que tinham falta de visão ou de audição, etc. – que disseram como é que gostariam de ser acolhidas. Traduzimos, adaptámos à realidade portuguesa e conseguimos, felizmente, imprimir de maneira a que existisse pelo menos um exemplar físico em cada paróquia, como símbolo e como presença. E fizemos também um pdf que está disponível para todos [https://bit.ly/guia_umaigrejaparatodos]”, apontou esta responsável, revelando que, “pelo país, houve outras dioceses que também, de modo próprio, imprimiram e usaram” este guia. “Isso é muito bom, porque tem indicações muito práticas sobre o que fazer e, sobretudo, as linhas são sempre o dar tempo à relação e às pessoas, que é, no fundo, o segredo da relação entre todos. Consideramos que este guia foi muito feliz”, assumiu.

De entre as atividades do serviço, Carmo Diniz destacou ainda a “celebração anual do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência”. “O ano passado estivemos em Nova Oeiras e fomos muito bem acolhidos, com um enorme entusiasmo, também pelo Centro Nuno Belmar da Costa, e pela Dra. Odete, que nos ajudaram a organizar a Eucaristia, que acontece no Domingo mais próximo de 3 de dezembro – o ano passado, por felicidade, foi o I Domingo do Advento e fizemos uma grande festa, com direito a procissão e fanfarra. Foi muito bonito”, contou.

Com o confinamento, este serviço diocesano “dispôs o seu e-mail” [pastoraldadeficiencia@patriarcado-lisboa.pt] para “receber pedidos de ajuda de famílias que tenham pessoas com deficiência e que precisem de algum tipo de ajuda, desde um assistente social, um psicólogo ou um apoio material”. “Queremos ser úteis às famílias”, desejou, a terminar, Carmo Diniz.

 

“A pastoral do estar”

O diácono Fernando Magalhães, que está na Paróquia de Alfragide, é o assistente espiritual do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência e esteve também no ‘3 DICAS’ para sublinhar a importância do acompanhamento espiritual a uma pessoa com deficiência. “Há um conjunto de fragilidades que acentuam a fragilidade da pessoa e que carecem de um escutar. Se há uma pastoral grande do silêncio e da escuta, é esta. Esta é uma pastoral do estar. Fundamentalmente é estar, o que pode passar por escutar, seguramente, mas é estar e é com essa presença que se vai, de alguma forma, acompanhando o caminho diverso das pessoas que a esta pastoral estão unidas. Não só as pessoas com deficiência, mas as suas famílias, os seus cuidadores, os pais, as mães, os manos – os manos são uns seres importantíssimos nesta pastoral – e os pastores, que também são seres determinantes neste processo”, salientou este diácono permanente, observando que “esta é uma pastoral recente no quadro da Igreja, mas, se remetermos aos Evangelhos, é uma pastoral arqueológica da Igreja”. “A deficiência está no âmago do Evangelho, está no coração de Jesus, completamente”, assegurou.

O diácono Fernando é pai de dois filhos, sendo que uma das filhas é portadora de deficiência, e testemunhou como a pandemia trouxe desafios à família. “Tivemos a perceção que tínhamos de adaptar uma série de coisas. A Ana Paula tem deficiência mental, tem alguma capacidade de compreensão das coisas, mas tem uma capacidade de sublimação, de secundarização, muito reduzida. Portanto, explicar porque é que de repente íamos virar o mundo do avesso daquilo que ela gosta, que é andar na rua, conviver, relação social, beijos e abraços, namorado, tudo… De repente, íamos subverter isto tudo ao contrário. Graças a Deus, tivemos um período de pandemia que foi uma coisa muito boa na nossa experiência de vida. A oração foi muito importante, o contacto com a instituição de raiz da Ana, a Cerci, foi um contacto muitíssimo importante, os telefonemas periódicos – moderados, apesar de tudo! – ao namorado foram extremamente importantes para manter a estabilidade das relações e das emoções, e a comunidade do movimento ‘Fé e Luz’, à qual estamos mais ligados, teve momentos de uma presença muito intensa”, partilhou.

Atribui-se a deficiência a limitações, incapacidades, dependências, discriminação. Questionado sobre como é que se pode ver a pessoa que está por trás de todas estas barreiras, o diácono Fernando Magalhães sublinhou que “só se pode ver de uma maneira: que é uma pessoa”. “E como qualquer pessoa, é um enorme dom de Deus. Ainda que alguém não queira ver as nossas pessoas com deficiência como um dom de Deus – porque pode não ter essa dimensão da fé –, se aprofundar um bocado a conversa e, mais do que a conversa, o estar, vai perceber o quanto estas pessoas são um dom. Mas é um dom na plenitude do termo: um dom pelo que são, um dom pelo que dizem, um dom pelo que nos mostram, um dom pela tenacidade, um dom pela fragilidade, um dom pela interpelação, um dom por tudo. É aqui que se percebe a plenitude da pessoa como dom. É a pessoa sem véus, é a pessoa sem filtro e isso é um dom para os dias de hoje, que interpela”, assegurou.

 

“Pastoral urgente e necessária”

A Paróquia de Nova Oeiras tem presente, no seu espaço geográfico, o Centro Nuno Belmar da Costa, da APCL - Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, com quem mantém uma relação que a “enriquece imenso”. “Com o centro, fazemos uma pastoral do acompanhamento, e há uma grande afetividade, um grande carinho, um reconhecimento de cada um de nós. Temos três ou quatro celebrações eucarísticas por ano com estes irmãos, temos semanalmente a equipa de visitadores que vai estando com eles e procura cuidar desta pastoral do encontro, dando prioridade à escuta e à valorização do outro. Temos também a equipa dos ministros da comunhão, que vai ao centro criar momentos de espiritualidade e levar a sagrada comunhão”, explicou, durante o ‘3 DICAS’, o pároco, padre Nuno Westwood, recordando que durante a Visita Pastoral, em março passado, “o bispo [D. Joaquim Mendes] incluiu a passagem pelo centro e com eles rezou e gastou um tempo forte a falar”. “Foi muito interessante”, salientou.

O padre Nuno sublinhou ainda que esta “é uma pastoral urgente e necessária”. “Aqui, na paróquia, já vamos dando alguns passos, mas temos consciência de que há muito ainda a desenvolver e a melhorar. Isso para nós serve também de motivo para nos empenharmos cada vez mais e tentarmos criar um grupo, na área da Pastoral Social, que vá integrando estes irmãos, para que se sintam acolhidos e incluídos na vida da comunidade. Criámos espaços, nomeadamente rampas, que permitem o acesso às cadeiras de rodas, mas temos sobretudo que redescobrir a importância destes irmãos como um dom e uma riqueza para comunidade e para a Igreja”, frisou.

Sobre o que falta fazer para uma integração plena das pessoas com deficiência na vida das comunidades cristãs, o padre Nuno Westwood referiu que, “escutando o diácono, penso que falta perceber que o outro é um dom”. “Já na vida do dia-a-dia, perceber que cada pessoa é um dom é uma batalha interior muito grande, mas estes irmãos são de facto um dom muito grande”, garantiu.

 

“Falar mais da deficiência”

Miguel Costa Duarte é o fundador do grupo ‘Fé e Luz’ de São João do Estoril e esteve no ‘3 DICAS’, onde destacou que “as pessoas com deficiência também são pessoas”. “Não são outro tipo de pessoas, não são marginais, não são drogados, são pessoas normais só que têm deficiência, têm dificuldades”, alertou este leigo, de 44 anos, deixando o apelo a que “as pessoas abram os olhos para perceber a realidade das coisas” e “entendam que não é por a pessoa com deficiência ter mais dificuldades que não é pessoa”. Aos políticos, Miguel Costa Duarte pediu para “falarem mais da deficiência”. “É muito importante para a sociedade e para o povo, porque a pessoa com deficiência também merece um carinho especial e tem em seu redor pessoas tão amáveis e tão cuidadoras que cuidam de nós e nos ajudam e nunca desistem”, salientou.

Miguel, que é o mais velho de três irmãos, vive em Cascais e trabalha numa empresa de outsourcing, nas áreas da Saúde e Beleza. “Para mim, é ótimo e gosto de dar o meu melhor, para depois chegar ao fim do mês e receber o ordenado, que depois dou os meus pais para guardarem. É um trabalho de família, que já foi do meu avô e dos meus tios, e agora está o meu irmão e os meus primos mais velhos, mas somos todos muito unidos”, partilhou, a propósito da sua experiência laboral.

Sobre o grupo ‘Fé e Luz’ de São João do Estoril, Miguel Costa Duarte referiu que no início eram “um grupo pequeno”, mas “a pouco e pouco foi aumentando”. “Estamos todos cada vez mais unidos, mesmo com a pandemia conversamos por Zoom, por telefone, por mensagens. Nunca estamos sozinhos, estamos sempre acompanhados por todos e estamos sempre disponíveis para tudo, a mil por cento”, garantiu, lembrando que a missão do movimento é “ajudar as pessoas com deficiência, conversar uns com os outros, fazer partilhas, sair”. “O convívio, para nós, é importante e custou muito, durante a pandemia, não termos convívio”, observou, mostrando esperança no futuro: “Temos que estar unidos, vamos ter programas daqui para a frente, vamo-nos juntar todos em setembro e vai ser muito bom”.

 

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AS ‘3 DICAS’

No final do ‘3 DICAS’, a coordenadora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência do Patriarcado de Lisboa, Carmo Diniz, deixou as três dicas sobre esta temática e fez um convite especial a cada um.

 

1.ª DICA: “Predispormo-nos a dar tempo para o encontro com a pessoa diferente. As pessoas com deficiência, por razões diferentes, precisam de tempo, precisam do nosso tempo. Este tempo vai-nos permitir descobrir uma pessoa e, provavelmente, vai-nos ajudar a conhecer uma pessoa e a fazer uma nova amizade, que nos vai levar muito longe.”

 

2.ª DICA: “O Serviço Nacional a Pessoas com Deficiência organizou um webinar [videoconferência] o mês passado, e está a preparar um segundo, para dia 22 de julho, sobre as férias e como as pessoas com deficiência estão a viver as suas férias de 2020. Será um encontro pelo Zoom, que será depois divulgado.”

 

3.ª DICA: “Neste tempo de pandemia, o serviço diocesano escreveu uma oração que propõe que seja rezada por todos. A terceira dica era rezarmos aqui, todos, esta oração. Quanto mais rezarmos, melhor para todos.

ORAÇÃO

Nestes tempos difíceis das nossas vidas,

ajuda-nos, Maria, a manter a Fé em Jesus,

o Amor entre nós

e a Esperança nos dias felizes que hão-de chegar.

Maria, Mãe de todas as Graças,

tu bem sabes que quem tem necessidades especiais,

vivendo com deficiência física, sensorial ou mental,

sofre ainda mais com a situação

por que estamos a passar.

Intercede por nós.

Unidos em oração,

os mais vulneráveis e suas famílias,

rezamos a teu Filho Jesus, por ti, sua Mãe.

Amén”


 

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