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“Sabemos que a guerra na Líbia é feia, mas não se imagina o inferno que ali se vive”
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O Papa Francisco denunciou “o inferno” que se vive nos campos de detenção da Líbia. Na semana em que reforçou o apelo a um cessar-fogo global e imediato, o Papa doou 25 mil euros ao Programa Alimentar Mundial, escreveu uma carta de condolências a Bento XVI e pediu aos Estados para protegerem as famílias.

 

1. Na Missa que assinalou os sete anos da sua visita a Lampedusa, a 8 de julho, o Papa Francisco lamentou que o drama dos migrantes continue a afligir o mundo e denunciou “a cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos e nos torna insensíveis aos gritos dos outros”. Palavras que usou exatamente há sete anos, durante a sua histórica visita. Na capela da Casa Santa Marta, na presença de um pequeno grupo de colaboradores, o Papa alertou para o risco de vivermos “em bolhas de sabão, que são belas, mas são nada, são ilusão do fútil, do provisório que leva à indiferença para com os outros e leva até à globalização da indiferença”.

Na homilia, Francisco recordou as palavras de Jesus relativas ao cuidado e atenção aos mais necessitados ‘Tudo o que fizerem… a mim o fizeram’ (Mt 25,40), para deixar um alerta sobre o que se passa do outro lado do Mediterrâneo: “Penso na Líbia, nos campos de detenção, nos abusos e violências a que os migrantes estão sujeitos, nas viagens de esperança, nos resgates e nas rejeições”.

O Papa quis ainda recordar um episódio relacionado com a sua visita a Lampedusa. “Naquela ilha, alguns contaram-me a sua história e como sofreram para lá chegar. Tinham intérpretes. Um deles contava coisas terríveis na sua língua, mas o seu intérprete, que parecia traduzir bem, falava menos em relação ao que o outro me dizia… Quando regressei a casa, na receção, havia uma senhora, filha de etíopes, que tinha seguido o encontro e ouvido a tradução. Ela disse-me: ‘Aquilo que o tradutor lhe disse não é nem a quarta parte das torturas e sofrimentos que eles viveram’. Ou seja, deram-me a versão destilada”. E acrescentou: “Isto acontece hoje com a Líbia: dão-nos uma versão ‘destilada’ do que se passa. Sim, sabemos que a guerra é feia, mas não se imagina o inferno que ali se vive, naqueles campos de detenção. E esta gente só queria, com esperança, atravessar o mar”.

A homilia terminou com uma invocação à Virgem Maria, auxílio dos migrantes, para “que nos ajude a descobrir o rosto do seu Filho em todos os irmãos e irmãs obrigados a fugir das suas terras por tantas injustiças que ainda hoje afligem o nosso mundo.”

 

2. O Papa Francisco reforçou os seus apelos a favor de um cessar-fogo global e imediato. No final da oração do Angelus, na manhã do passado Domingo, 5 de julho, o Santo Padre elogiou a recente resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que predispõe medidas para enfrentar as consequências devastadoras da pandemia de covid-19, particularmente nas áreas que já são teatro de conflito. “É louvável o pedido de um cessar-fogo global e imediato, que permitiria a paz e a segurança indispensáveis para fornecer a assistência humanitária tão urgentemente necessária”, disse Francisco. “Espero que tal decisão venha a ser implementada de maneira eficaz e rápida para o bem de tantas pessoas que estão a sofrer”, acrescentou. O Papa espera ainda que esta resolução do Conselho de Segurança “possa ser um primeiro passo corajoso para um futuro de paz”.

Na reflexão que fez sobre o Evangelho, o Santo Padre valorizou a riqueza da sabedoria que brota do coração humano e reforçou que “é essa a riqueza que Jesus propõe ainda hoje”, contracorrente, “a um mundo que exalta quem se faz rico e poderoso, não importa com que meios e até por vezes espezinhando a pessoa humana e a sua dignidade”.

 

3. O Papa Francisco doou 25 mil euros ao Programa Alimentar Mundial. Trata-se de “uma oferta simbólica como mais um sinal de preocupação face à atual emergência”, refere o Departamento de Serviço para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, sendo que a verba expressa o “sentimento de proximidade do Santo Padre para com os afetados pela pandemia e para com os que estão comprometidos com serviços essenciais em favor dos pobres e dos mais fracos e vulneráveis da nossa sociedade”.

De acordo com o organismo da Santa Sé, a doação é também “um sinal de encorajamento paterno para com o trabalho humanitário da Organização e de outros países que, neste momento de crise, quiseram aderir a formas de apoio ao desenvolvimento integral e à saúde pública, como contaste à instabilidade social, à falta de segurança alimentar, ao aumento do desemprego, ao colapso dos sistemas económicos das nações mais vulneráveis”.

 

4. O Papa Francisco escreveu uma carta de condolências ao Papa emérito, Bento XVI, pela morte de Georg Ratzinger. Francisco foi o primeiro a saber da morte do irmão do antecessor e agradeceu essa delicadeza ao Papa emérito. “Desejo renovar-lhe a expressão das minhas mais profundas condolências e de proximidade espiritual neste momento de dor”, escreveu Francisco, na carta divulgada dia 2 de julho, pela Sala de Imprensa. “Asseguro-lhe a minha oração de sufrágio pelo falecido, para que o Senhor da vida, na sua bondade misericordiosa, o introduza na pátria celeste e lhe conceda o prémio preparado para os servidores do Evangelho. Rezo também por si, Santidade, invocando do Pai, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, o apoio da esperança cristã e a terna consolação divina. Sempre unidos na adesão a Cristo ressuscitado, fonte de esperança e de paz”, prossegue o Papa.

Georg Ratzinger, de 96 anos, faleceu dia 1, em Regensburg, na Baviera. O Papa emérito visitou, expressamente, o irmão no passado dia 18 de junho, na Alemanha, para se despedir dele.

 

5. Este mês, o Papa pede aos Estados que protejam as famílias, sobretudo em momentos difíceis como o que vivemos. Na edição de julho de ‘O Vídeo do Papa’, Francisco chama a atenção para a realidade das famílias de hoje e para a necessidade de serem “protegidas” e “acompanhadas com amor, respeito e conselho”. “As famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade. A Igreja tem que animar e estar ao lado das famílias, ajudando-as a descobrir caminhos que lhes permitam superar todas estas dificuldades”, garantiu, no vídeo disponível em www.youtube.com/ovideodopapa.

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