
DOMINGO XVI COMUM
“Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar;
e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro.”
Mt 13, 30
As parábolas não se explicam. Têm a força de nos surpreender, de revolucionar certa geometria do pensamento que tenta “manter tudo a régua e esquadro”, propõem uma ideia alternativa, um final inesperado. Nascem do quotidiano e abrem para o infinito, para a mudança de critérios e de vida. Revelam a possibilidade de encontrar a beleza de pequenos grandes gestos. Assim se parecem as pequenas histórias do diário rádio e podcast de Tiago Alves e Ana Rita Ramos numa parceria Antena 1 – Have a Nice Day, que contam como “a solidariedade saiu à rua, destemida.” Por entre os números e as incertezas desta pandemia são boas sementes que se partilham humildemente.
Se Jesus conta histórias ligadas ao cuidado da terra é para nos falar do cuidado entre nós. Se somos capazes, com os nossos olhos, de distinguir o bem e o mal nos outros, isso não nos dá nenhum poder sobre as suas vidas. Quantas desgraças se fizeram em nome do “bem” e da “segurança”! O perigo de um juízo exterior e apressado devia manter-nos alerta para não cairmos nele. Também a parábola do grão de mostarda, tão insignificante e frutuosa ao mesmo tempo, previne-nos para os julgamentos ligados às aparências. Estas parábolas convidam-nos a três atitudes. A prudência, a que Eurípedes chamou “a grande coragem”, pois os julgamentos feitos sobre os outros e os seus comportamentos são tão falíveis! A paciência, essa “arte de esperar”, que até daquilo que é insignificante, podem surgir numerosos frutos, e do que parece igual é possível distinguir e escolher bem. E a humildade, essa condição da terra, o “húmus fecundo e disponível” para receber as sementes grávidas de vida, que coloca tudo e todos no seu lugar.
A proposta ousada de Jesus é “deixar crescer o trigo e o joio” até à colheita. Então será possível fazer a escolha entre as espigas de trigo e as ervas inúteis. Contrasta com a nossa impaciência em resolver de imediato, em eliminar o mal para que o bem triunfe rapidamente. Os discípulos de Jesus espantam-se como o mal resiste às palavras de Jesus. Estariam também tentados pela mesma impaciência que, por vezes nos invade, quando queremos que o reino de Deus se manifeste. Com o joio semeado no mundo, como no nosso coração, Deus revela-se semeador terno e paciente: Ele espera que façamos a escolha.
Ainda envolvidos pelo “joio” da Covid-19, o Conselho Pontifício da Cultura publicou o livro “Pandemia e resiliência. Pessoa, comunidade e modelos de desenvolvimento após a Covid-19”. Sorrio ao “após”; quem nos dera! Mas creio que pode ser uma interessante reflexão (acessível no original em https://www.cortiledeigentili.com/wp-content/uploads/2020/05/Pandemia-e-resilienza-9-7-2020.pdf) a iluminar esta “parábola viva” em que somos todos personagens. E junta às três atitudes que propus uma nova: resiliência!
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