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À procura da Palavra
Ganhar o irmão
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DOMINGO XXIII COMUM

“Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós.

Se te escutar, terás ganho o teu irmão.

Mt 18, 15

 

A demora da desejada vitória sobre o vírus que se tornou o eixo de todas as notícias é uma parábola do nosso tempo. Desejamos vitórias rápidas e curtas batalhas; sempre a pressa de que tudo volte ao que era, menos mal. Tendemos a preparar-nos pouco para a lentidão da esperança, para o valor do esforço, para a mudança de hábitos. Será que isso não acontece, dolorosamente, também com as pessoas? Descartadas quando falham, abandonadas quando as capacidades diminuem, esquecidas quando começam a esquecer. Como (re)agimos com aqueles que nos ofendem?


O evangelho proclamado por Jesus Cristo não é um relato idílico de pessoas impecavelmente transformadas em “anjos”, sem conflitos nem discussões. Nem solução mágica para todos os problemas da comunidade e do mundo. Mas gosto de o ver como “pedra filosofal” que, se o quisermos viver, transforma em riqueza as fragilidades e pecados humanos. Poderíamos assim trazer de novo ao coração as propostas de Jesus ao que fazer “se o teu irmão te ofender”! Maior do que a ofensa é sempre o valor de “ganhar o irmão”, mesmo que isso implique um caminho feito de passos que nos desinstalam.


Porque será que diante da ofensa de alguém, o mais comum é ficarmos duros de coração, imobilizados e enraizados na falta que se torna desmesurada? Acreditamos tão pouco na correção dos outros, por nos julgarmos a nós próprios, perfeitos e incapazes de falhar? Como aceitamos a imperfeição não como “o fim do mundo”, mas como base para melhorarmos? Jesus propõe-nos a saída ao encontro do outro, em três passos, caso o anterior não resulte: a intimidade, a amizade e a comunidade. Primeiro, o encontro e diálogo pessoal, olhos nos olhos, corrigindo com verdade e amor, sem espalhar aos quatro ventos a falha do irmão, nem nos vestirmos de “virgens ofendidas”. Se a intimidade não resultou, tentar a amizade, o encontro e diálogo com outros que também têm carinho por ele. Se ainda assim a mudança não se concretiza, pode valer a pena a comunidade, espaço de perdão e de festa, em que cada pessoa pode sempre começar de novo. E se nada disto resultar resta a esperança, a mesma porta aberta que Jesus tinha para os que o judaísmo excluía, e a mesma alegria com que comia e bebia com eles, sem julgamentos e com futuros luminosos.


“Ganhar o irmão” é bem diferente de “eu ter razão”. O primeiro salva, o segundo incha. O primeiro cria e refaz, o segundo cobra. E numa página do último livro de crónicas de Miguel Araújo, intitulado “Seja o que for”, delicioso presente com dedicatória vindo fresquinho da Feira do Livro leio: “Fazer custa sempre impensavelmente mais do que desfazer. Fazer é menos provável, mais difícil, menos conveniente. Desfazer é fácil, parece que toda a dinâmica do mundo favorece essa simples tarefa: a gravidade, a marcha implacável do tempo, as regras, a inércia, a falta de vontade. Não é preciso muito para desfazer. Não é preciso nada.” Fazemos ou deixamos desfazer?

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