Lisboa |
Bênção do novo órgão de tubos da igreja de Paço de Arcos
Uma igreja total
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Foram mais de 51 anos à espera de ver (e, sobretudo, ouvir) este momento. A igreja de Paço de Arcos já tem o seu grande órgão de tubos, um “belíssimo órgão”, segundo o Cardeal-Patriarca. “Não haverá nenhum instrumento que consiga ser tão total como é o órgão, com os seus diversos registos, com os seus diversos sons e tons”, considerou D. Manuel Clemente, na celebração da bênção do órgão.

 

Para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, a bênção do órgão de tubos da igreja de Paço de Arcos, um sonho com mais de 50 anos, é uma “feliz circunstância”. “O órgão ressoa pela primeira vez neste templo, com tudo aquilo que ele nos alarga no espírito para a compreensão das coisas de Deus e, a partir de Deus, das coisas do mundo”, observou D. Manuel Clemente, na homilia da Missa onde benzeu o novo órgão da Paróquia de Paço de Arcos, na manhã do passado Domingo, 30 de agosto. Dedicada em 1969, a Igreja da Sagrada Família tinha, por decisão do arquiteto João de Almeida – falecido há poucos meses –, na zona superior do lado direito do altar, um espaço reservado para um grande órgão de tubos. Por circunstâncias várias, só agora, meio século depois, foi possível concluir o projeto. E é um “belíssimo órgão” e uma “felicíssima iniciativa que a comunidade teve, com os apoios que granjeou, para que isto acontecesse”, nas palavras do Cardeal-Patriarca, na referida celebração. “Por que é que o órgão, como se foi desenvolvendo, desde a Idade Média, até tempos mais recentes, ganhou um papel tão grande no culto cristão? Exatamente por causa da sua totalidade, da sua integralidade. Não haverá nenhum instrumento que consiga ser tão total como é o órgão, com os seus diversos registos, com os seus diversos sons e tons, que consegue ser uma orquestra”, acrescentou.

 

Variedade de sentimentos

Segundo explicou D. Manuel Clemente em Paço de Arcos, “o órgão foi utilizado para significar e demonstrar, na liturgia cristã, toda esta variedade de sentimentos, tanto os sentimentos de exortação, como os sentimentos de tristeza, mas esperançosa”. “Daí que compositores sobre compositores, na tradição cristã, o tenham utilizado e nos ofereçam, como ainda hoje nos oferecem, as suas imensas potencialidades para traduzir, para manifestar, para nos incluir nesta totalidade do sacrifício, que quer dizer da oferta da vida a Deus, pondo-nos nas únicas mãos – as de Deus – que nos podem salvar a todos e em tudo”, frisou, nesta celebração inserida nas festividades em honra do Senhor Jesus dos Navegantes.

Nesta paróquia da Vigararia de Oeiras, o Cardeal-Patriarca quis reforçar a palavra totalidade. “Esta integralidade e esta multiplicidade de todos os sons que este instrumento, quase unicamente, nos oferece, significa bem esta totalidade do sacrifício cristão que em Jesus Cristo se oferece por tudo e se oferece por todos, nas mãos do Pai. Ele é que começa a despontar ressurreição. E este órgão, logo na sua primeira interpretação, no início desta Missa, significou isso mesmo: uma exultação que só assim acontece”, sublinhou.

 

Agradecimentos do pároco

O pároco de Paço de Arcos, na sua intervenção, começou por recordar o falecido arquiteto da igreja, João de Almeida, que “na altura da construção da igreja tinha pensado colocar ali um órgão”, mas “as contingências da altura não permitiram”. O padre José Luís Costa destacou depois a “equipa de leigos que contribuiu para este projeto do órgão” e agradeceu “a contribuição de todos os paroquianos” e também “a colaboração” do organista da Sé de Lisboa, António Duarte – que esteve ao órgão, durante esta celebração de bênção – “sobre o que deveria ser feito”.

Este sacerdote partilhou ainda que, “consultada a comunidade acerca deste projeto”, foi depois consultar “o edil” para perguntar se era possível a sua realização. “Ele [o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais], com a boa vontade que todos nós conhecemos e um particular amor que tem pelas artes, particularmente esta arte da música, transmitiu-me a possibilidade de envolver todo o município e apresentar esta proposta, que foi aceite”, contou o pároco de Paço de Arcos. Neste sentido, o órgão agora inaugurado, que custou 100 mil euros, foi financiado a cem por cento pela autarquia oeirense.

 

Responsabilidade pelo património

Presente na celebração de bênção do novo órgão da igreja de Paço de Arcos, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras sublinhou que “a Igreja Católica, por certo em Portugal, e no caso de Oeiras, faz um trabalho notável do ponto de vista do apoio a todos os cidadãos, designadamente ao nível social e ao nível cultural, também”. “A câmara municipal não faz mais do que a sua obrigação em financiar os projetos, porque estamos a falar em património que é de todos nós. Nuns casos, património religioso, noutros casos património histórico”, explicou Isaltino Morais, enumerando também as “obras de profunda remodelação da Igreja Matriz do Oeiras, da igreja de Carnaxide e da Igreja de São Pedro de Barcarena, que teve intervenções fantásticas”. “A Câmara Municipal do Oeiras assume a responsabilidade pela recuperação e manutenção de todo o património religioso deste concelho. E fá-lo não porque esteja em cumplicidade com a Igreja. Fá-lo porque é nossa obrigação e fá-lo porque no caso das paróquias deste concelho a câmara municipal não terá nunca como expressar o seu reconhecimento e apoio pelo trabalho social que desenvolvem nos diferentes equipamentos sociais, muitos deles também construídos pela câmara municipal”, reconheceu o autarca.

Com a bênção e inauguração do órgão da igreja de Paço de Arcos, o concelho de Oeiras vai poder passar a organizar mais ciclos de música. Esse é, pelo menos, o desejo de Isaltino Morais. “Este órgão não é apenas para aqueles que vêm à Missa e junta-se aos órgãos de Linda-a-Velha e de Oeiras, pelo que poderemos começar a organizar concertos distribuídos por estas três igrejas do nosso concelho”, considerou o presidente da Câmara Municipal de Oeiras.

 

Alegria e reconhecimento

Após a intervenção do autarca oeirense, o Cardeal-Patriarca de Lisboa quis deixar o seu agradecimento à câmara municipal. “As nossas autarquias são a primeira representação de nós todos, nas localidades onde vivamos, e por isso mesmo estão atentas a todas aquelas necessidades que o povo que servem manifestam, sobretudo quando são comprovadamente boas e úteis para a sociedade inteira. É com muita alegria e reconhecimento que eu agradeço à Câmara Municipal de Oeiras – como tenho agradecido em tantas outras circunstâncias nas comunidades autárquicas do Patriarcado de Lisboa – essa mesma compreensão justa das coisas. Não se trata de confundir planos, trata-se de convergir num objetivo que é servir as populações”, apontou D. Manuel Clemente. “Como Jesus disse, há mais felicidade em dar do que em receber”, terminou.

 

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Entusiasmo e alegria de toda uma localidade

O pároco de Paço de Arcos mostra-se muito satisfeito com a bênção e inauguração do órgão de tubos da igreja paroquial. Um sonho com mais de 51 anos, desde antes da dedicação do templo, em 1969. “Há coisas que não se conseguem dizer… experimentam-se, sentem-se, transmitem-se em alegria, mas obviamente, para nós, é um motivo, enquanto comunidade, de uma tremenda satisfação e, acima de tudo, de uma fidelidade muito grande àquilo que nos foi transmitido. As pessoas estão felicíssimas”, garante ao Jornal VOZ DA VERDADE o padre José Luís Costa, destacando também a alegria que se sente em toda a localidade. “O bonito disto tudo é não só as pessoas da Igreja, da comunidade paroquial, que habitualmente se reúnem, mas é também a própria comunidade civil que, não tendo prática religiosa, nem se revendo nos que se encontram dominicalmente, não deixa de sentir também entusiasmo e alegria, e acompanham-nos neste processo com muita alegria, o que é admirável. Isso é um aspeto muito interessante em Paço de Arcos”, observa o sacerdote.

Segundo um comunicado da Paróquia de Paço de Arcos, o novo órgão de tubos servirá, “em primeiro lugar, para o acompanhamento litúrgico das celebrações religiosas, melhorando a qualidade estética destas; em segundo lugar, como instrumento pedagógico para formação de novos músicos e compositores, dando continuidade à presença da Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo nas instalações da Paróquia de Paço de Arcos; em terceiro lugar, para enriquecer a proposta de animação de música erudita permitindo a passagem de executantes de nível nacional e internacional criando uma rede de órgãos, juntamente com as comunidades de Linda-a-Velha e Oeiras, se torne uma referência no panorama nacional; em quarto lugar permitir, de uma forma gratuita e fácil, o livre acesso dos munícipes aos concertos a serem desenvolvidos neste espaço”. O pároco destaca também a possibilidade que o novo instrumento pode trazer para a formação dos mais novos. “Contando com a ajuda do Artur Caldas, que é o organista da Igreja de São Domingos, na Baixa, estamos a ver se conseguimos fazer uma coisa, que eu achava de tremendo valor, que era poder fazer passar as crianças e adolescentes em idade escolar pela experiência de ter, durante 30 a 40 minutos, pequenos períodos de redescoberta não só do órgão, do seu som, mas também de alguma interação entre os próprios miúdos e o organista. Fundamentalmente, o ensaiar a experiência da sonoridade acústica que um órgão permite”, deseja o padre José Luís. “Suponho que, à volta de Lisboa, temos milhares de miúdos que nunca ouviram um órgão direto. Queremos poder permitir essa experiência, numa atividade que obviamente não tem diretamente índole religiosa, porque não está pensado para ser um tempo de catequese ou de pregação, mas para ser um tempo de experiência de música, de som, e do despertar de uma sensibilidade estética que acho que as comunidades paroquiais devem saber guardar e saber transmitir”, acrescenta o sacerdote.

O padre José Luís Costa adianta ainda ao Jornal VOZ DA VERDADE que o órgão de tubos de Paço de Arcos vai ter como organista titular Madalena Abrunhosa. “É uma paroquiana que se formou com o professor Antoine Sibertin-Blanc [organista francês falecido há oito anos, que viveu grande parte da sua vida em Portugal e foi o organista da Sé de Lisboa entre 1965 e 2012]. Ficará ela, nesta fase de iniciação, com a responsabilidade da boa administração do instrumento, não só na dimensão material, como também na sua dimensão musical”, anuncia o pároco.

 

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Concerto inaugural do órgão de tubos de Paço de Arcos

A igreja de Paço de Arcos encheu-se, de acordo com as normas de segurança, para o concerto inaugural do novo órgão de tubos. Foi na noite do dia 31 de agosto, com a plateia composta por 200 pessoas a escutar o concerto que contou com peças de Heinrich Scheidemann, Georg Böhm, Johann Gottfried Walther e, como pontos altos do programa, o Prelúdio e Fuga em ré menor, de Bach, e a Sonata n.º 5, de Felix Mendelssohn.

Este órgão de tubos, instrumento todo mecânico de tradição neo-barroca, foi construído em três fases nos anos pós-guerra, entre 1953 e 1960, por falta de capacidade financeira da comunidade da Igreja Reformada Holandesa. Após o fecho desta igreja, em Haia, em 2013, o instrumento foi desmontado e agora adquirido pela Paróquia de Paço de Arcos, através de um protocolo com a Câmara Municipal de Oeiras, tendo sido colocado na igreja paroquial, no espaço ali previsto desde a sua construção, e montado durante este ano de 2020 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden. Este órgão possui 25 registos distribuídos por 2 teclados manuais e um pedal, com um total de aproximadamente 1660 tubos, dos quais 252 são de palheta.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Filipe Teixeira
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