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Burkina Faso: crianças celebram Primeira Comunhão apesar do terror jihadista
“Rezamos todos os dias”
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Elisabeth e Etienne são ainda duas crianças. Tiveram de fugir, com os seus pais, da aldeia onde nasceram no Burkina Faso por causa da violência jihadista. Os Cristãos foram todos ameaçados. Se ficassem seria um verdadeiro suicídio. Fugiram, mas o medo persiste. Os terroristas querem controlar todo o país. Elisabeth e Etienne fizeram agora a Primeira Comunhão. No meio do terror e da morte, eles são sinal de esperança.


A igreja em Kaya encheu-se, neste final de Agosto, de cânticos e de alegria. Foi um dia de festa em que as crianças celebraram a sua Primeira Comunhão. Vestidas de branco, dançando e cantando, elas foram expressão da presença cristã neste país africano onde a comunidade vive dias de angústia e medo. “As crianças vêm de Dabló e foram obrigadas a fugir da sua aldeia por causa do terror que havia por ali”, explica o Padre Gabriel Bamogo à Fundação AIS. Foi um dia memorável. Um dia de festa. Um dia muito especial para todos os que tiveram de fugir, todos os que já experimentaram o terror dos grupos jihadistas que querem implantar no Burkina Faso um ‘califado’ gerido pelo fanatismo islâmico. Elisabeth tem 13 anos. Provavelmente nunca mais irá esquecer o ataque à sua aldeia, as ameaças constantes dos terroristas. É uma cicatriz que lhe ficou impressa na memória. “Não podíamos ficar mais tempo em nossa casa, era insuportável. Todos os dias nos sentíamos ameaçados”, diz a jovem. Etienne Sawadogo nasceu numa aldeia também perto de Dabló. Também ele já testemunhou o horror da violência. “Vimos matar sem piedade. Poderia ter acontecido connosco. É por isso que fugimos.”

 

O dia do ataque

Dia 12 de Maio de 2019. Igreja de Dabló, Diocese de Kaya. A capela estava cheia de fiéis naquele Domingo. Quase já no fim da Missa, escutaram-se gritos. Homens armados irromperam pelo templo aos tiros. Seriam mais de vinte, talvez trinta. Junto ao padre, no altar, estavam alguns jovens acólitos. Num ímpeto, o Padre Simeón Yampa, 34 anos, arrastou-os para a sala ao lado, a sacristia, procurando protegê-los. E conseguiu. Os jovens foram poupados, mas o padre não. Foi executado a tiro logo ali. Com ele mais cinco cristãos perderam a vida. Antes de abandonaram a igreja, os terroristas obrigaram ainda os fiéis a retirar os crucifixos e outros objectos religiosos que traziam consigo. E deixaram uma ameaça: as mulheres teriam de passar a vestir-se tal como as muçulmanas, cobrindo-se com um véu. Caso contrário, seriam também assassinadas quando eles regressassem à aldeia.

 

Ameaça real

Era mais do que um aviso. Era uma ameaça real. Praticamente todos os cristãos abandonaram a aldeia. Ficar seria um verdadeiro suicídio. Elisabeth Bamongo e Etienne Sawadogo tiveram de deixar Dabló juntamente com as suas famílias. São ainda crianças. Ela tem 13 anos, ele é um pouco mais velho, tem 14. Deixaram em Dabló o mundo que conheciam. Tornaram-se, com os pais e os outros cristãos da aldeia, refugiados no próprio país. Foram todos para Kaya. Não é muito distante. É uma cidade, a capital da província. Ali, porque há mais pessoas, porque é mais visível a presença de soldados, existe um maior sentimento de segurança. Mas ninguém está verdadeiramente tranquilo em lugar nenhum. O Burkina Faso é um país sequestrado pela violência, pelo terror jihadista, pelos bandos de criminosos e pelas redes de traficantes de armas e de droga. O país é predominantemente muçulmano embora os Cristãos ainda representam cerca de 23 por cento da população. Mas estão todos sob ameaça. O ataque à aldeia de Dabló é apenas um exemplo da forma como grupos de terroristas ameaçam directamente as populações no meio da maior impunidade.

 

Festa na igreja

Os Cristãos fugiram de Dabló e rumaram a Kaya. As crianças continuaram a ter aulas de catequese. E chegou o tão aguardado dia da Primeira Comunhão. A igreja encheu-se de cânticos e de alegria. A comunidade marcou presença como quem anuncia ao mundo que o medo não pode triunfar sobre a fé e o amor. Houve muitas palmas quando as crianças, vestidas de branco, foram receber a Primeira Comunhão. Foi uma festa marcada, no entanto, pelas nuvens negras da ameaça jihadista. Ninguém arrisca imaginar como vai ser o dia de amanhã. Todos sabem que os grupos terroristas estão a crescer, estão a ficar mais fortes, mais bem armados, mais ousados. Os Cristãos sentem-se indefesos. Mas, apesar do medo, há sempre esperança. Uma esperança que é alimentada pela fé. Etienne Sawadogo e Elisabeth Bamongo fizeram agora a Primeira Comunhão. Para eles, nada é impossível. “Rezamos todos os dias”, dizem com orgulho. No meio do terror e da morte, estas duas crianças são sinal de confiança num futuro melhor.

 

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A Fundação AIS tem vindo a apoiar a Igreja no Burkina Faso. Só desde o ano passado, quase uma centena de projectos foram implementados. Na Diocese de Kaya, por exemplo, a Ajuda à Igreja que Sofre está a apoiar a subsistência de sacerdotes e a formação de seminaristas.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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