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Primeiros e últimos
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DOMINGO XXV COMUM

“Os últimos serão os primeiros

e os primeiros serão os últimos.

Mt 20, 16a

 

Há quem goste de ganhar porque deu o seu melhor, bateu o seu recorde, ultrapassou um limite. E há quem goste de ganhar porque ficou à frente de todos, pode olhar de cima os demais, julga que vale mais do que os outros. Os primeiros conseguem partilhar a alegria, consolam os que ficaram em segundo ou em último, agradecem a todos os que os ajudaram. Os segundos inebriam-se com as palmas, acham-se mais merecedores do que os outros, e todos os louros são deles. Posso estar a fazer uma caricatura dos sentimentos de alguém vitorioso, mas até nas caricaturas há um pouco de verdade.


Escutamos, infelizmente, demasiadas vezes, desabafos deste tipo: “Já não sirvo para nada”; “O que é que ainda cá ando a fazer?”; “Deus esqueceu-se de mim!”. A exigência cega da economia tende a valorizar as pessoas pela sua utilidade e produtividade. E num tempo em que o valor do trabalho humano é talvez a maior questão social a resolver para o futuro da humanidade, o descarte das pessoas é profunda interpelação. A contingência do teletrabalho que a pandemia multiplicou, o desemprego avassalador de inumeráveis profissionais, a gritante desigualdade dos salários, as novas escravidões, os novos êxodos de pobres e esfomeados parecem significar pouco na necessária transformação dos modelos económicos. Cada vez mais, ou todos contam e participam no desenvolvimento, ou não há paz. Dizia-o em 1967 o Papa S. Paulo VI: “Desenvolvimento é o novo nome da paz”.


Vem isto a propósito, ou a despropósito, da parábola dos trabalhadores da vinha que Jesus conta sobre o Reino dos Céus. Importa sublinhar isto, pois não se trata de um tratado de justiça social nem de princípios laborais. O salário não mede a quantidade de trabalho nem as horas significam um peso, antes sim a alegria de, desce cedo, “trabalhar na vinha do Senhor”, que é viver com Ele e dar sabor à vida. É, acima de tudo, a vida eterna, a totalidade de graça que Deus quer dar. A religião vivida em termos contabilísticos e os méritos que se acumulam para obter recompensa contrastam com a absoluta generosidade do dono da vinha. O “olhar mau” porque o Senhor “é bom” revela o espírito mesquinho de quem vive a fé para “ganhar aos outros”, “ficar à frente dos outros”, “ser mais perfeito que os outros”. É assim que primeiros e últimos só contam para nós: para Deus são todos importantes. E como Ele se alegra por todos terem ocupação na sua vinha!


Há tanto a aprender com esta parábola! Mesmo nas questões relativas ao trabalho enquanto realização pessoal e participação na sociedade. Também nas interpelações que esta pandemia faz às comunidades cristãs onde o trabalho para todos revoluciona hábitos e pequenos poderes que já não servem. Mesmo nas realidades familiares em que a entreajuda e a partilha são condição para uma alegria maior de todos. Lembro o desafio do Papa Francisco em “primeirear”, tomar a iniciativa de começar em algum lado, com alguns “primeiros”, sem esquecer nenhuns “últimos”!

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