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Os Cristãos na Terra Santa, e a solidariedade de todos os outros cristãos
Desde há 10 anos que um grupo de bispos europeus e americanos (EUA e Canada) se reúne durante uma semana na Terra Santa para se encontrar com as comunidades cristãs, particularmente as católicas, e com os seus responsáveis para se inteirarem da situação desses cristãos e para conhecerem melhor a situação social e política daquela região. Chama-se a Coordenação para a Terra Santa.

Este ano o encontro decorreu de 9 a 14 de Janeiro e centrou-se especialmente sobre a situação em Jerusalém. No ano passado aconteceu durante a guerra de Gaza e foi dedicado especialmente à situação dos cristãos em Belém.

Tive a graça de poder participar neste encontro como Secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa. Não foi a primeira vez que estive na Terra Santa, mas é sempre uma experiência única que dá uma força à nossa fé e que confirma todo o Evangelho. Desta vez, porém, era uma visita diferente. No Sábado de manhã, dia 9, o programa apenas previa a participação na saudação de boas festas do Patriarca Latino ao patriarca Ortodoxo. No dia 10 dividimo-nos em grupos de três ou quatro para participar na Missa de Domingo de uma paróquia. Fui a Nablus (antiga Siquém onde está o Poço de Jacob diante do qual o Senhor se encontrou com a Samaritana), numa viagem pela Cisjordânia de cerca de 2 horas foi possível ver a pobreza e as muitas casas abandonadas ou em construção mas com as obras paradas. A paróquia de S. Justino (dedicada a este santo que fora filosofo em Roma e depois se converteu e morreu mártir mas que terá nascido ali mesmo em Nablus) é uma pequena comunidade que já foi muito maior, tendo chegado a ter duas igrejas, mas que devido à falta de paz, havendo cada vez mais cristãos a saírem de lá, ou, impedidos de ali viverem, vai ficando mais pequena. Mas os que estão mostram muita vitalidade. São palestinianos de alma e coração, cristãos cujas memórias remontam ao tempo de Jesus. São aqueles que sempre estiveram naquela terra. Uma paróquia viva, com escuteiros e acólitos, com catequese, com uma comunidade de irmãs da caridade que ajudam os pobres e idosos, com um pároco, ordenado há pouco mais de um ano, cheio de vida e de entusiasmo. Foi impressionante a conversa com este sacerdote, um homem de fé e por isso de esperança, mas, com muito realismo, não esconde as suas preocupações e considera que a situação está longe de estar calma.

No dia 11 começou o encontro propriamente dito. Começámos por ouvir o Patriarca Latino de Jerusalém, o Senhor D. Fouad Twal e depois o Núncio Apostólico que nos explicaram a situação e o que a Igreja Católica tem feito e gostaria ainda de fazer para apoiar os cristãos e para promover a paz. Foram os primeiros de uma série de pessoas que nos foram explicando a situação dos cristãos na terra santa e as muitas dificuldades por que passam, mas também nos contaram as iniciativas e as propostas que querem levar por diante. Particularmente impressionantes foram as explicações da situação em Jerusalém e do que se pensa que esta cidade venha a ser.

Fizemos algumas visitas, nomeadamente à Universidade católica de Belém e ao seminário também em Belém, à casa das irmãs Combonianas que têm uma creche cujas crianças agora estão do outro lado do muro! De facto, ver um muro que separa gente que desde sempre vivia junta é algo que faz mesmo impressão e levanta um grito pela paz. Visitámos ainda um bairro que está a ser construído pela Igreja para tentar que os cristãos tenham em Jerusalém uma casa legalmente reconhecida.

Os cristãos na Terra santa são uma minoria. Mas são, como gostam de ser considerados, as pedras vivas da Igreja da Terra Santa. Por isso a sua presença importa a todos nós. Com as nossas peregrinações sustentamos muitas destas pessoas, mas seria bom que se fizessem também visitas a estas comunidades. Mais do que qualquer artigo de jornal, uma visita ajuda a perceber as suas angústias e medos, mas também o que podemos fazer para ajudar. Foi, ainda, possível que uma delegação dos bispos presentes se encontrasse com o ministro do Interior do Estado de Israel.

A preocupação é mesmo a paz. Vale a pena, por isso recordar as palavras do Papa quando esteve na Terra Santa no passado mês de Maio:

“Nenhum amigo dos Israelitas e dos Palestinianos pode evitar de ficar triste pela contínua tensão entre os vossos dois povos. Nenhum amigo pode deixar de chorar pelos sofrimentos e perdas de vidas humanas que ambos os povos sofreram nos últimos seis decénios. Permita que eu faça este apelo a todo o povo destas terras: basta ao derramamento de sangue! Basta aos confrontos! Basta ao terrorismo! Basta à guerra! Interrompamos o círculo vicioso da violência. Que se possa instaurar uma paz estável baseada na justiça, haja verdadeira reconciliação e restabelecimento. Seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e de gozar de paz e de segurança dentro de confins internacionalmente reconhecidos. Seja igualmente reconhecido que o Povo Palestiniano tem o direito a uma pátria independente e soberana, de viver com dignidade e de viajar livremente. Que a "two-State solution" (a solução de dois Estados) se torne realidade e não permaneça um sonho. E que a paz se possa difundir destas terras; possam ser "luz para as Nações" (Is 42, 6), levando esperança às muitas outras regiões atingidas por conflitos.” (discurso a 15 de Maio de 2009)