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P. Duarte da Cunha
A Igreja é um Mistério

A Igreja no mundo pode ser, como deve ser, o “sacramento, ou seja, sinal e instrumento, de salvação”. Ela é sempre mais do que os seus membros e, por isso, não corre perigo de desaparecer, mesmo quando é perseguida ou os seus membros são pecadores. Nunca podemos esquecer que a Igreja continuará a ser até ao fim da história neste mundo o Templo do Espírito Santo e que as forças do inferno não prevalecerão contra ela. Ela é a depositária da Palavra que nos guia e o instrumento para o Espírito Santo nos dar uma nova vida. Ela assume como suas marcas distintivas: a caridade que tantos dos seus membros vivem, acolhendo e cuidando dos que mais precisam; a fé que nos faz conhecer Deus e o Seu plano, pondo-nos em relação com o próprio Deus; a esperança que abre a este mundo triste um olhar novo capaz de não cair na angústia.

A Igreja é um Mistério de fé. Não é só o grupo de pessoas, cada uma com a sua fé, que se junta. Não é só uma associação de crentes. Ela é mais do que isso, a tal ponto que podemos dizer que temos fé na Igreja. Acreditamos que ela, apesar de ser também uma realidade humana, sociologicamente concreta, é maior do que as coisas deste mundo, porque na sua natureza, no seu todo, está em íntima comunhão com Deus: é o Corpo de Cristo. Esta é a sua verdade e cada um dos seus membros é convidado a aderir a essa vida. Os santos são o rosto verdadeiro da Igreja porque acolhem todos os dons de Deus que ela torna presente.

Os seus membros são homens e mulheres redimidos por Cristo e tornados filhos no Filho pelo baptismo, mas estes mesmos – nós – somos pecadores, frágeis e muitas vezes incoerentes. Este paradoxo, de um povo que gera santos, mas que também alberga pecadores, leva a muitas confusões. Isto é particularmente visível hoje porque não é raro falar-se da Igreja como se se tratasse de um poder, de uma organização com questões de dinheiro e de corrupção, onde também há escândalos e incoerências.

Como realidade que está neste mundo, mas não é bem deste mundo, a Igreja está, de facto, sujeita às vicissitudes da história, não só ao pecado dos seus membros como também às perseguições dos outros.

Em não poucos lugares da Terra, ela é hoje perseguida. Homens e mulheres fiéis, quantas vezes modelos de caridade e de diálogo, são perseguidos porque são cristãos. Estes mártires, isto é, testemunhas da fé, são os que seguem de perto Jesus Cristo até à cruz. Eles mostram a todos que a fé é mais forte e não temem a morte neste mundo porque acreditam, e de certo modo já experimentam, a vida eterna, ou seja, a comunhão com o Deus eterno que é amor.

Há, com efeito, governos ou grupos organizados que não toleram a fé e perseguem os cristãos. E basta ver o relatório da Ajuda à Igreja que Sofre para nos darmos conta do quanto os cristãos são perseguidos. Não há nenhuma realidade ou grupo mais perseguido, e isto é um facto. Mas também há situações mais ou menos veladas onde a ideologia dominante não suporta a fé e descrimina os crentes. Pessoas e grupos tornam-se intolerantes ou gozam com a fé. O Observatório da Intolerância e Descriminação contra os cristãos na Europa faz-nos ver como a questão se está a espalhar com violência em tantos lugares mesmo dentro da Europa (https://www.intoleranceagainstchristians.eu/).

Mas depois, há, como sempre infelizmente houve, situações internas que também não ajudam à missão. Temos lugares onde se vivem tensões dentro da Igreja por questões doutrinais. Há, inclusive, padres ou bispos a defender ideias que não concordam com o Depósito da fé e fazem-se reuniões nacionais em alguns países europeus com o intuito de mudar a Tradição da Igreja. Mas, além dos temas doutrinais, temos problemas morais e até alguns criminais. Vêm nos jornais notícias de escândalos e de incoerência de gente responsável da Igreja que se deixam seduzir pela carne e pela concupiscência ou pela riqueza e acabam por fazer mal a outros de maneira gravíssima.

A fé na Igreja que nos faz ter a certeza de que nem perseguições nem incoerências podem destruir a Igreja não nos deve deixar indiferentes, pelo contrário, exige de todos vigilância e empenho para que a Igreja seja conhecida pela santidade que gera e não pelo pecado que a corrói. Só assim Jesus Cristo poderá brilhar e atrair.