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P. Manuel Barbosa, scj
Todos irmãos, todos em missão

Redigo estas notas em Dia Mundial das Missões, após ter participado na Tarde Missionária em Alfragide com o Dr. Pedro Vaz Patto e o Padre Paulo Coelho: este propôs-nos provocadora meditação sobre um estranho no caminho, título do segundo capítulo da nova encíclica «Fratelli Tutti», inspirado na parábola do Bom Samaritano; aquele abordou os principais temas da nova encíclica como desafios à nossa missão na Igreja e no mundo (o texto encontra-se em www.conferenciaepiscopal.pt). Um encontro promovido conjuntamente pelo Seminário de Alfragide e pela CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal) Regional de Lisboa.

A 4 de outubro, o Papa Francisco ofereceu-nos esta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. Como já havia acontecido com a «Laudato Si’», o Papa Francisco volta a inspirar-se em Francisco de Assis, santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, “que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos».

O Papa inspira-se igualmente no «Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum», assinado a 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, quando aí se encontrou com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb.

A encíclica tem ainda em conta a situação de pandemia que vivemos, dando-nos orientação e esperança para enfrentar e ultrapassar com coragem esta dramática situação que a todos atinge por igual e da qual deveríamos sair como irmãos, pois estamos todos na mesma barca da vida. Sem nunca deixar de sonhar, como afirma o Papa a terminar a introdução: «Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos» (FT 6).

Procuremos estudar e refletir, meditar e rezar esta brilhante proposta do Papa Francisco dirigida a toda a Igreja e a todos os homens e mulheres de boa vontade, lendo pausada e aprofundadamente os seus oito capítulos e 287 números, entrelaçando os princípios com a realidade concreta, de modo a assumirmos um verdadeiro compromisso pela fraternidade universal.

Somos todos irmãos e todos em missão, gerada na nossa vocação pessoal aberta aos irmãos. Cito a mensagem do Papa para o Dia das Missões: «A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz. Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus».

Em todos estes dinamismos temos o essencial amparo e a especial presença de Maria, nossa Mãe, que celebramos intensamente neste Mês do Rosário: «A Igreja é uma casa com as portas abertas, porque é mãe. E como Maria, a Mãe de Jesus, queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação» (FT 276).

Há que continuar na senda da fraternidade assumida como filhos de Deus e da missão como discípulos de Cristo, chamados e enviados a anunciar o Evangelho na atual situação intensamente dramática e fecunda de esperança: todos irmãos, todos em missão, movidos pelo Espírito e pela intercessão de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.